C O N F L I T O
Eu conheço a obtusidade somente mediante a comparação. Eu vejo você, muito brilhante, muito hábil, muito inteligente – e digo, comparado a ela como sou bronco. Mas, se não comparo, sou o que sou. Certo? Posso então começar daí; mas se estou me comparando todo o tempo com você, que é brilhante, inteligente, de boa aparência, capaz, e todo o resto, estou em eterno conflito com você. Mas se aceito o que sou – eu sou isto – posso começar daí. Portanto, o conflito existe somente quando negamos o fato real de “o que é”. Eu sou isto, mas se estou todo o tempo tentando ser aquilo, estou em conflito. Vocês são assim porque todos vocês se lançam no vir a ser psicológico. Todos querem tornar-se homens de negócios, santos ou meditar adequadamente, não querem? Portanto há conflito. Ao invés de perceber o fato de que sou violento e não me afastar desse fato, eu finjo não ser violento; e quando eu simulo não ser violento, o conflito começa. Portanto, você cessará de fingir e dirá, eu sou violento, vamos lidar com essa violência?
O conflito interno
Depois existe o conflito interno, que é muito mais complexo. Por que há conflito em nós? Estamos examinando; não estamos dizendo que deveríamos ou não deveríamos estar sem conflito. Estamos examinando-o, e para examinar temos de ser muito claros em nosso pensamento, muito perspicazes em nossa observação; temos de estar intensamente conscientes ao observar toda a natureza e o significado do conflito. Por que existe o conflito? O que queremos dizer com a palavra “luta”? Estamos examinando o significado da palavra, não o que produz o conflito. Quando é que estamos de todo conscientes desta palavra, do fato? Somente quando existe dor; apenas quando há uma contradição; só quando há uma busca do prazer e ele é negado. Estou consciente do conflito quando minha forma de prazer na realização, na ambição, em várias formas é contrariada. Quando o prazer da ambição é frustrado, então estou consciente do conflito, mas, enquanto o prazer da ambição continuar sem nenhum bloqueio, não tenho nenhuma percepção de conflito. Existe prazer no conformismo. Quero ajustar-me à sociedade porque ela me recompensa; ela me dá lucro. Por segurança, por um meio de subsistência, para tornar-me famoso, para ser reconhecido, para ser alguém na sociedade, tenho de me ajustar à norma, ao padrão estabelecido pela sociedade. Enquanto eu estiver ajustando-me a ela completamente, o que é um grande prazer, não há nenhum conflito; mas existe conflito no momento em que há uma distração dessa conformação.
Viver uma vida sem conflito
Viver uma vida sem conflito
Os seres humanos têm vivido neste estado de conflito desde que a história humana é conhecida. Tudo que eles tocam transforma-se em conflito, interno e externo. Ou é uma guerra entre pessoas, ou a vida como ser humano é um campo de batalha interior. Todos conhecemos essa batalha constante, permanente, externamente e internamente. O conflito produz, sim, certo resultado pelo uso da vontade, mas o conflito nunca é criativo. Essa é uma palavra perigosa de se usar; investigaremos isso logo mais. Para viver, para florescer na bondade, tem que haver paz, não a paz econômica, a paz entre duas guerras, a paz de políticos negociando tratados, a paz de que fala a igreja, ou que as religiões organizadas pregam, mas a paz que se descobriu por si mesmo. Somente em paz é que podemos florescer, podemos crescer, podemos funcionar. Ela não pode surgir quando há conflito de qualquer tipo, consciente ou inconsciente.
É possível viver uma vida sem conflito no mundo moderno, com toda a tensão, luta, pressões e influências na estrutura social? Isso é realmente viver – a essência de uma mente que está indagando seriamente. A questão de se Deus existe, se a verdade existe, se a beleza existe, só pode acontecer quando isso for estabelecido, quando a mente não estiver mais em conflito.
Não é um assunto egoísta
Você poderia perguntar: Se eu, como um ser humano mudar, isso afetará de alguma maneira o resto da humanidade? Se mudar mesmo, se houver uma mudança em uma pessoa específica, como isso afetará toda a consciência da humanidade?” Por favor, coloque, sim, essa questão a si próprio; mesmo como um só ser humano isolado você pergunta, “Se eu mudar, que efeito isso terá no mundo
A questão é, se você muda fundamentalmente, você afeta toda a consciência do homem. Napoleão afetou toda a consciência da Europa. Stalin afetou toda a consciência da Rússia. O salvador Cristão, ele afetou a consciência do mundo, e os Hindus, com seus deuses peculiares afetaram a consciência do mundo. Quando você, como um ser humano, se transformar psicologicamente de forma radical, isto é, ficar livre do medo, tiver uma relação correta com os outros, cessar o sofrimento e assim por diante, o que é uma transformação radical, então você afeta toda a consciência do homem. Não é um assunto individual. Não é um assunto egoísta. Não é uma salvação individual; é a salvação de todos os seres humanos dos quais você é um.
Olhar para a totalidade da vida
Olhar para a totalidade da vida
Assim a questão agora é como olhar para a totalidade da vida não fragmentariamente. Quando olhamos para a totalidade da vida – não como um hindu, um muçulmano, um comunista, um socialista, um católico, um professor ou um homem religioso – quando vemos esse extraordinário movimento da vida na qual tudo está incluído – morte, sofrimento, infelicidade, confusão, a absoluta falta de amor, e a imagem do prazer que engendramos durante séculos para nós mesmos, que dita nossos valores, nossas atividades – quando virmos essa coisa imensa compreensivamente, totalmente, então nossa resposta a essa totalidade será inteiramente diferente. E é essa resposta, quando vemos totalmente, todo o movimento da vida, que vai produzir uma revolução em nós próprios.
Entendendo o conflito como um todo
Entendendo o conflito como um todo
Compreender a natureza do conflito exige não a compreensão do seu conflito particular como um indivíduo, mas o entendimento do conflito total como um ser humano – o conflito total, que inclui nacionalismo, diferença de classe, ambição, avareza, inveja, o desejo de posição, prestígio, todo o sentido de poder, dominação, medo, culpa, ansiedade, no qual está envolvida a morte, a meditação – o todo da vida. E para entender o todo da vida, deve-se ver, ouvir não fragmentariamente, mas observar o vasto mapa da vida. Uma de nossas dificuldades é, não é, que funcionamos fragmentariamente, funcionamos em seções, numa parte – você é um engenheiro, um artista, um cientista, um homem de negócios, um advogado, um físico e assim por diante – dividido, fragmentário. E cada fragmento está em luta com o outro fragmento, desprezando-o ou sentindo-se superior
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