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segunda-feira, 6 de julho de 2020

MUITOS HOMENS NÃO PROGRIDEM 
NA COMUNHÃO COM DEUS
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 Fechar o circuito! Dar escoamento!

Existem milhares de almas que, por espaço de anos e decênios, praticam a vida espiritual, fazem regularmente a sua meditação – e, no entanto, vivem a marcar passo no mesmo ponto e não experimentam nenhum progresso nem satisfação na sua vida religiosa. As coisas de Deus e do seu reino continuam para essas pessoas um tremendo sacrifício; gemem, acabrunhadas, sob o “imperativo categórico” do “dever”, pesado e amargo, sem jamais gozarem as delícias de um jubiloso e exultante “querer”.

Qual a razão última dessa estagnação?

Escutai, todos vós que ledes estas páginas, que vou revelar-vos um segredo libertador – não! Esse tal segredo é conhecido de todos os homens realmente cristificados. Eu, neste, momento, não funciono senão como simples intérprete e locutor.

É necessário que essas vítimas da estagnação espiritual fechem o circuito!

Que quer dizer isso?

Claro está que não estou falando de um circuito elétrico, embora a comparação seja tomada desse terreno.

Quando o leitor quer acender uma luz elétrica em sua casa, ou pôr em movimento um motor, tem de fechar o circuito elétrico dando meia-volta à chave. A eletricidade é gerada na usina; daí parte um fio metálico que vai até a lâmpada ou o motor. Mas essa “linha de ida” não ilumina a lâmpada nem move máquina alguma; é necessário que uma “linha de volta” seja posta em contato com a primeira, completando o circuito da corrente, porque um semicircuito não
funciona, só um plenicircuito.

Deus é a grande usina de toda a força e luz da nossa vida. Dele vem tudo que temos e somos. Não basta, todavia, que eu me ponha em contato com essa usina divina, pela oração, meditação, contemplação mística. Isso é, certamente, necessário – mas não é suficiente; isso é apenas meio caminho, uma “linha de ida”, mas, se lhe faltar a “linha de volta”, nada de forte ou luminoso acontecerá na minha vida.

Qual é, pois, essa segunda linha? E como fechar o circuito?

Exatamente como no caso da corrente elétrica. Devo fazer voltar para a usina o que da usina veio. Devo fazer reverter para Deus os bens que de Deus recebi. Dele tudo vem, para ele tudo deve voltar – é essa a grande lei que rege o universo material e espiritual. Não obedecer a essa lei é ser ímpio, pecador. E todo pecado esteriliza e mata. Ai de mim se eu pretender segurar para mim algo que veio de Deus e para Deus deve voltar! Essa cobiça acabará por envenenar a minha alma, assim como o sangue do corpo que não volte regularmente ao coração, donde veio, produz arteriosclerose, provocando a decadência do organismo. Querer segurar para si os bens que devem circular para todo o organismo humano é criar arteriosclerose no interior da alma!

“De graça dai o que de graça recebestes!”

Tenho de fazer voltar a Deus o que veio de Deus – isso é saúde e santidade.

Mas como posso dar algo a Deus, ele, a infinita plenitude, ele, o Oceano imenso do ser que nada pode receber, porque tudo tem?

Para que essa restituição dos benefícios de Deus seja possível, espalhou Deus, pelo mundo inteiro, os seus representantes e lugar-tenentes, aos quais deve ser feita essa restituição dos dons divinos. E Deus nos garante explicitamente que “tudo o que fizermos ao menor de seus irmãos, a ele é que o fazemos”. Declara-nos que anda, sem cessar, por este mundo na pessoa de seres humanos famintos, doentes, presos, sem teto, necessitados de corpo, indigentes de alma, à espera de que “fechemos o circuito”, restituindo ao Divino Doador, na pessoa dos homens, os dons que do alto temos recebido. Se assim fizermos, os benefícios divinos, circulando livremente através de nós, como o sangue rubro pelos canais sanguíneos do corpo, espargirão saúde, vigor e alegria em nossa vida. Mas se, egoisticamente, procurarmos guardar só para nós esses dons divinos, recebendo, mas não dando, não haverá luz em nossa lâmpada, por falta de circuito completo; não haverá saúde em nossa alma, por falta de circulação normal do nosso sangue. Seremos águas estagnadas, só com entrada, mas sem saída; lagos sem escoadouro, contendo água podre; insalubre.

“Há mais felicidade em dar do que em receber.”

No mundo espiritual, o “dar” enriquece – o querer “receber” empobrece. É que a permanente atitude doadora alarga os espaços internos da alma – ao passo que a atitude recebedora estreita a amplitude do espírito. Tanto mais pode a alma receber de Deus quanto maior é a sua receptividade – mas essa receptividade depende essencialmente da sua vontade de dar.

É claro que o doador não deixa de receber – mas não deve esperar receber algo de seus semelhantes, no plano horizontal, que isso seria secreto egoísmo. Não deve esperar retribuição nem gratidão alguma por seus benefícios, embora os beneficiados tenham obrigação em consciência de serem gratos ao benfeitor. O homem espiritual nada espera receber, da parte de seus semelhantes, por seus benefícios; e por isso também nunca se queixa da “ingratidão dos homens”. Quem se queixa da ingratidão dos homens passa a si mesmo o atestado de egoísmo, de secreta egolatria. Entretanto, nenhum homem espiritual pode deixar de saber que, segundo as leis eternas, o doador espontâneo vai ser enriquecido por Deus, e tanto mais receberá na vertical quanto mais espargir na horizontal. Saber dessa lei cósmica não é egoísmo. Se assim não fosse, este mundo de Deus não seria um cosmos (sistema de ordem), mas, sim, um caos (confusão e desordem). Se eu, pelo fato de ser bom, desinteressadamente bom, saísse empobrecido no meu verdadeiro Eu espiritual, seria preferível não ser bom – e o cosmos de Deus estaria convertido num caos de Satanás.

A falta dessa permanente atitude e espontânea vontade doadora que é a razão última e mais profunda da esterilidade de muitas almas que se têm em conta de espirituais, mas são, de fato, egoístas não espirituais.

É relativamente fácil dar do seu, mas é imensamente difícil dar o próprio Eu. É bom dar do que temos – é sublime dar o que somos.

Doação, quer objetiva, quer subjetiva, que não se realizar num ambiente de verdadeira e espontânea alegria e entusiasmo, não é doação completa. Uma moeda atirada a um mendigo com maus modos e a contragosto, como quem joga um osso a um cão, está envenenada e não produzirá verdadeiro bem no seu recebedor; a aura maligna de que essa moeda vem envolta acabará por envenenar o mendigo, e a sua secreta revolta íntima contra seus semelhantes não mendigos crescerá de ponto a cada moeda que ele receber, envenenada de desamor ou displicência. “O Senhor ama um doador alegre.”

Ser cristão não quer dizer ser bom – mas ser radiantemente bom.

Há muitos homens bons, tristonhamente bons. Quem os vê, na sua bondade tristonha e lúgubre, não se sente de forma alguma atraído para o cristianismo deles, mas antes repelido como algo incompatível com uma vida dignamente humana. Mas o homem radiantemente bom, jubilosamente espiritual, esse, mesmo sem dizer uma palavra, é um grande apóstolo e propagandista do cristianismo, porquanto nada existe mais “contagioso” do que uma perfeita e radiante saúde espiritual. Jesus, o Cristo, era um homem radiantemente bom, e por isso todas as almas receptivas se sentiam irresistivelmente atraídas por ele, como planetas empolgados pela gravitação do globo solar.

Praticar meditação solitária, sem irradiar pela humanidade os dons materiais e espirituais que Deus nos concede, é o melhor modo de esterilizar a vida espiritual e fazer dela tão pesado ônus que, cedo ou tarde, acabaremos por alijá-la, por intolerável. Mas associar à meditação uma vida de jubilosa atitude doadora é tonificar a vida espiritual e fazer dela um verdadeiro banquete da alma e um oásis em pleno deserto terrestre.


Huberto Rohden, Em Comunhão Com Deus
Colóquios com os homens - Solilóquios com Deus
UNIVERSALISMO

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