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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O FILHO DO HOMEM

Apareceu um homem, entre esses milhões de habitantes terrestres...
E esse homem veio tornar-se o centro da história da humanidade.
Não fez descobertas nem invenções, não derrotou exércitos nem escreveu livros - esse homem singular.
 
Não fez nada daquilo que a outros homens garante a imortalidade entre os mortais - o que nele havia de maior era ele mesmo...
Pelo ano do seu nascimento datam todos os povos cultos a sua cronologia.
 
Possuía esse homem exímios dotes de inteligência - e infinita delicadeza de coração.
 
A sua vida se resume numa epopéia de divino poder - e num poema de humano amor.
 
Havia na vida desse homem uma pátria e uma família - mas também um exílio e uma solidão.
Havia apóstolos - e apóstotas...
 
Brincava nos caminhos desse homem a mais bela das primaveras - e espreitava-lhe os passos a mais negra das mortes.
 
Esse homem vivia num mundo - mas não era do mundo...
Quando chegou, "não havia lugar para ele na estalagem" - e quando partiu, só havia lugar numa cruz, entre o céu e a terra.
Esse homem não mendigava amor - mas todas as almas boas o amavam...
 
Era amigo do silêncio e da solidão - mas não conseguia fugir ao tumulto da sociedade, porque "todos o procuravam"...
Irresistível era o fascínio de sua personalidade - inaudita a potência das suas palavras...
 
Todos sentiam o envolvente ministério da sua presença - mas ninguém sabia definir esse estranho magnetismo...
Era uma luminosa escuridão - esse homem...
 
Não bajulava a nenhum poderoso - e não espezinhava nenhum miserável...
Diáfano como um cristal era o seu caráter - e, no entanto, é ele o maior mistério de todos os séculos...
Poeta algum valeu exaurir-lhe as profundezas...
 
Esse homem não repudiava Madalenas nem apedrejava adúlteras - mas lançava às penitentes palavras de perdão e de vida...
 
Não abandonava ovelhas desgarradas nem filhos pródigos - mas cingia nos braços a estes e levava aos ombros aquelas...
 
Esse homem não discutia - falava simplesmente...
 
Não esmiuçava palavras nem contava sílabas e letras, como os rabis do seu tempo - mas rasgava imensas perspectivas de verdade e beatitude...
 
Por isso diziam os homens, felizes e estupefatos: "Nunca ninguém falou como esse homem fala!"...
 
Para ele, não era o esquife o ponto final da existência - mas o berço para a vida verdadeira...
 
Por isto, vivem por ele e para ele os melhores dentre os filhos dos homens - porque adoram nesse homem o homem ideal
o homem-Deus... 


Humberto Rohden


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