A VOZ DO SILÊNCIO - Parte 3
Meus amigos, no meio deste grande e solene
silêncio, deste silêncio dinâmico da presença de Deus, em que nos
achamos, vamos submergir profundamente, neste misterioso mundo da
verdade; até que ele nos penetre totalmente e transforme todas as nossas
atividades pelo poder da verdade libertadora.
''Conhecereis a verdade'', disse o grande Mestre da humanidade, e ''a verdade vos libertará.''
Neste
momento solene e sagrado, desça sobre mim e sobre cada um de nós,
Senhor, a tua grande paz e permaneça conosco eternamente. E, se algum de
nós ou dos nossos aqui presentes ou ausentes, ainda estiver sem paz,
perturbado nas energias da sua alma, da sua mente ou do seu corpo,
invocamos a luz branca do Cristo eterno e universal; para que rearmonize
todas as nossas desarmonias espirituais, mentais e corporais. E dê a
cada um de nós perfeita santidade, sapiência e sanidade, para que
através de cada um de nós seja proclamado o reino de Deus sobre a face
da terra.
PARA MEDITAR
Assim
seja Vamos dizer umas poucas palavras sobre um assunto de imensa
importância em nossos dias: a meditação. Meus amigos! A palavra não é
exata, mas ela é a mais usada e a mais conhecida. Devia ser antes
contemplação. Quando o homem entra em meditação, ou melhor, em
contemplação, ultrapassa ele a zona da sua consciência habitual, do seu
ego consciente, e entra na zona ignota do seu eu supraconsciente,
pleniconsciente.
Para além de toda concentração mental e para além mesmo
da meditação espiritual começa este mundo misterioso da contemplação
intuitiva que os orientais chamam samadi e que nós costumamos chamar
êxtase. Esta palavra êxtase ? palavra grega composta de ek- stasis, quer
dizer literalmente, posição fora de si, isto é, uma atitude fora do ego
habitual consciente. Uma invasão do mundo espiritual supraconsciente.
Quando o homem medita deve, ao menos no princípio, impor silêncio, tanto
às sensações do corpo, como aos pensamentos do intelecto. Meditação não é
leitura espiritual, não é estudo, não é análise de textos sacros.
Meditar é focalizar a consciência espiritual em Deus. Colocar a alma bem
dentro da luz divina e deixá-la imóvel, no meio dessa irradiação, como
uma planta colocada em plena luz solar, com as mãozinhas das verdes
folhas erguidas ao céu, em silenciosa prece ao astro benéfico que tudo
opera na planta: vida, beleza, alegria, contanto que esta seja
devidamente receptiva e heliantrópica.
De fato, a alma do orante é antes
objeto que sujeito, pois não é ela propriamente que faz aquilo que está
acontecendo. É Deus que o faz nela, por ela, para ela. Basta que a alma
do orante seja receptiva para as maravilhas divinas que nela são
produzidas, durante essa intensa e silenciosa diatermia celeste, essa
gloriosa passividade dinâmica.
LUGAR E TEMPO
É
necessário que o homem escolha, para meditação, ou contemplação, tempo e
lugar apropriados. Seria erro funesto, por exemplo, querer dedicar a
essa ocupação importantíssima a pior meia-hora das 24 horas do dia;
talvez o período depois dos trabalhos profissionais, quando corpo, a
mente e a alma estão derreados de fadiga e suspiram por um pouco de
repouso.
É necessário reservar para comunhão com Deus a melhor meia-hora
ou mesmo uma hora do dia, quando todas as faculdades do homem estejam
em perfeita calma e equilíbrio; porquanto a meditação bem feita não é
algum doce e indolente devaneio, semi-sonâmbulo, mas é, pelo menos no
princípio, um trabalho pesado, que reclama todas as energias do nosso
ser.
Nem convém meditar num lugar onde se possa ser facilmente
perturbado. Quem não encontrar em casa um cantinho sossegado e
não-devassável, fará bem em procurá-lo fora de casa, em plena natureza,
ou então na doce penumbra de alguma igreja aberta, onde à sombra duma
coluna, encontrará facilmente o ambiente desejado e seguro contra
incursões indébitas. Há nas 24 horas do dia, dois períodos especialmente
favoráveis à meditação: um de manhã e outro à noite. A treva ou a
semiluz são, geralmente propícias à meditação. Luz ligeiramente azulada
ou esverdeada é preferível a outras tonalidades.
ATITUDE CORPÓREA
Devido
à íntima correlação que vigora entre corpo e alma, é de suma
conveniência que, enquanto a alma se entrega à meditação, o corpo
mantenha uma atitude compatível com essa atividade espiritual. A melhor
posição do corpo, durante a meditação, é a de sentado naturalmente, se
possível em cadeira de assento duro e encosto vertical. A espinha dorsal
assume atitude ereta, normal; as pernas, não cruzadas, ficam em posição
espontânea, formando ângulo reto na junção com o corpo e nos joelhos;
as mãos, de palmas para cima, pousam naturalmente no regaço ou sobre as
coxas, junto ao corpo; os olhos conservam-se ligeiramente fechados -
tudo isto, que aos inexperientes talvez pareça arbitrário ou artificial,
é perfeitamente natural e espontâneo para quem, de fato, se acha imerso
em profunda comunhão com Deus.
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