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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A VOZ DO SILÊNCIO - Parte 2

A grande vertical da mística do primeiro mandamento se concretiza na vasta horizontal da ética do segundo mandamento: ''Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças- e amarás ao teu próximo como a ti mesmo.''

E ele nunca mais pergunta a si mesmo, quem é o meu próximo, porque todas as creaturas, mesmo as mais distantes se tornaram próximas, desde que todas as distâncias da ignorância foram eliminadas pela proximidade da sapiência.

Tempo e espaço deixaram de existir em face da imanência de Deus, do Deus do mundo em todos os mundos de Deus.

Ele sabe que todas as creaturas são os seus próximos. E quando o homem descobre o reino de Deus dentro de si mesmo, aqui e agora, não espera mais a inauguração do reino de Deus para depois da morte, em algum futuro ignoto, em alguma distância longínqua.

O seu céu começa aqui e agora pela autodeterminação do seu livre arbítreo, e não pelo alo-determinismo de algum fator externo.

Nascer, viver e morrer, não resolvem o problema central da existência humana, porque são coisas que apenas nos acontecem, por obra e mercê de circunstâncias externas.

Nascemos, graças a nossos progenitores, vivemos mercê dos alimentos que assimilamos, e morreremos em virtude de um acidente, de uma doença ou da velhice. Nada disto nos redime porque nada disto é obra nossa. É algo alheio a nós, são alo- determinismos de fatores externos. Meu é somente o que eu mesmo produzo: a autodeterminação do meu eu espiritual, do meu livre arbítreo. Meu, sou somente eu, aquilo que eu sou interna e eternamente.

Nascer, viver e morrer não me redimem da irredenção de mim mesmo. O que me redime é um viver diferente, uma vivência mais intensa. A experiência central da verdade sobre mim mesmo, o meu grande Eu sou, o renascimento pelo espírito, como dizia o Divino Mestre.

Se eu intensificar devidamente a minha vivência experiencial, e se esta experiência da verdade sobre mim mesmo atingir o seu clímax, então serão abolidos o morrer e o nascer. E só o viver, o grande e indestrutível viver, a vida eterna, a integração da minha vida individual na vida universal é que continuarão a existir.

Nem o conformismo com as misérias da vida presente, nem o escapismo para um céu, para uma zona longínqua, para além da morte, nada disto resolverá o problema central da existência humana.

Somente o transformismo, a total transformação de todas as minhas materialidades pelo poder da espiritualidade é que resolverá o problema da minha vida. ''O reino dos céus'', disse o divino Mestre, é semelhante a um fermento que alguém tomou e ocultou em 3 medidas de farinha até ficar tudo levedado. O fermento da experiência divina deve levedar, transformar todas as massas da minha existência humana, aqui e agora, e continuar para sempre. Nada de justaposição, nada de substituição, somente a total permeação, e pela interpenetração é que resolve o problema.

O reino do Cristo, escreve Frederic Sandersno seu livro In The Power of The Infinite: ''O reino do Cristo não jaz em alguma região longínqua; o reino de Deus não é condicionado por tempo e espaço. Muitos pensam que a vida terrestre com o seu sofrimento e as suas angústias, seja um estágio preliminar para a vida eterna e que o homem deva suportar as misérias desta vida até que soe a hora da libertação. Entretanto o reino dos céus ficará distante enquanto nós o considerarmos distante. E, contudo é agora mesmo que vivemos no reino de Deus, e não há nenhum outro mundo. Somente o nosso consciente obscurecido é que nos torna cegos para as glórias do mundo espiritual, no qual vivemos.

O homem, que tem a permanente consciência da presença de Deus, vive agora mesmo na harmonia do seu reino, numa atitude interna inatingível pelas vicissitudes dos fenômenos externos. Não podemos descrever a um surdo as belezas da música, nem podemos dar a um cego ideia das cores- e da mesma forma não podemos fazer compreender as glórias do reino do Cristo a um incrédulo que não as tenha experimentado pessoalmente.

Da cadeia e do alcance dos seus próprios pensamentos tece o homem dia a dia o seu céu e o seu inferno. Céu e inferno não são estados futuros que nos esperem depois da morte. A morte não modifica em nada o estado do homem; e os chamados mortos não estão mais perto de Deus do que os vivos.

A morte não representa a transição para um estado perfeito e definitivo. A disposição do espírito de um defunto continua a ser a mesma após morte que foi durante a vida terrestre. A revelação do reino de Deus se dá diariamente nas almas capazes de recebê-la; e cada pensamento espiritual acelera o advento universal do reino de Deus sobre a face da terra.
 
 
 

  Huberto Rohden


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