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domingo, 9 de agosto de 2015

AS ILUSÕES DA MENTE 

Todo seguir é um mal.

Sabemos que seguimos: seguimos o guia político, seguimos o guru, seguimos um padrão ou uma experiência. Toda nossa cultura e educação está baseada na imitação, na autoridade, no seguir.
           
Afirmo que todo o seguir é um mal, inclusive o seguir a mim próprio. O seguir é uma coisa maligna, destrutiva; e, entretanto, a mente segue, não é verdade? Ela segue Buda, segue Cristo, segue uma ideia, uma Utopia perfeita — porque a mente se acha num estado de incerteza, e quer a certeza. O seguir é uma exigência de certeza. Visto que exige a certeza, a mente está criando a autoridade — política, religiosa, ou a autoridade própria e está sempre a copiar; por conseguinte está lutando incessantemente. O seguidor jamais conhece a liberdade que há em não seguir. Só se pode estar livre, havendo incerteza e, não, quando a mente está a perseguir a certeza.
           
A mente que está seguindo, está imitando, está criando a autoridade e, portanto, com medo. Este é que é realmente o problema. Todos nós sabemos que seguimos, todos aceitamos certas teorias, certas ideias, alguma utopia ou outra coisa qualquer, porque, muito profundamente, no consciente e bem assim no inconsciente, lá está o temor. A mente que não teme não cria o oposto e não tem o problema do seguir; não tem guru, não tem padrão; ela está viva.
            
A mente se acha num estado de temor — medo da morte, medo de alguma coisa; e para ser livre entrega-se ela a várias atividades que conduzem à frustração; e surge, então, o problema: “pode a mente ficar livre do temor?”. “Como ficar livre?” é uma pergunta de colegial. Desta pergunta resultam todos os problemas a luta, a consecução ele um fim e, por conseguinte, o conflito dos opostos, Pode a mente ficar livre do temor?
            
Que é o temor? O temor só existe em relação com alguma coisa Tenho medo da opinião pública, tenho medo de meu patrão, de minha mulher, de meu marido; tenho medo da morte; tenho medo da solidão; medo de não alcançar, de não conhecer a felicidade nesta vida, de não conhecer Deus, a verdade, etc,. O medo, pois, está sempre em relação com alguma coisa.
            
Que é esse medo? Se pudermos compreender a questão do desejo, o problema do desejo, poderemos, suponho, compreender o temor e ficar livres dele.
            
“Eu desejo ser alguma coisa” — eis a raiz de todos os temores. Quando desejo ser alguma coisa, meu desejo de ser essa coisa e o fato de que não sou essa coisa criam o temor, não só num sentido restrito, mas também no mais amplo sentido. Nessas condições, enquanto existir o desejo de ser algo, tem de haver temor.
            
Estar livre do desejo não é a projeção mental de um estado que o meu desejo me diz ser o estado em que devo achar-me. Temos de ver, com toda a simplicidade, o fato do desejo, temos de estar simplesmente cônscios dele — como vemos num espelho, sem deformação, a nossa imagem, o nosso rosto, tal como é e não como desejamos que seja. O reflexo da sua imagem no espelho é muito exato; se puder estar cônscio do desejo em igual sentido, sem condenação; se simplesmente o observar vendo-lhe todas as facetas, todas as atividades, verá, então, que o desejo tem um significado inteiramente diverso.
            
O desejo da mente é de todo diferente do desejo em que não há escolha. O que combatemos é o desejo da mente — o desejo de “vir a ser alguma coisa”. É por causa dele que seguimos e que temos gurus. Todos os livros sagrados levam à confusão, porque você os interpreta de acordo com o seu desejo e, por conseguinte, só enxerga o reflexo dos seus próprios temores e ansiedades, nunca a Verdade. Assim, pois, só a mente que se acha num estado sem desejo algum, só essa mente é que não segue e não tem guru. Ela está totalmente cônscia de qualquer movimento; só então pode manifestar-se a bem-aventurança do real.

 
 
Krishnamurti
 
 
 
 
Sempre elegemos um modelo para seguir. Começamos com coisas mais simples: seguimos a moda; depois, insatisfeitos com o corpo, mudamos os nossos traços morfológicos... continuamos insatisfeitos - o desejo não tem fim, sempre se renova e torna-se cada vez mais exigente. Percebemos que falta algo, ah! O lado espiritual. Saímos a procura de um exemplo perfeito e o imitamos. Agora estou no caminho certo. Mera ilusão... continua a faltar alguma coisa. É um poço sem fundo! Não precisamos “vir a ser alguma coisa”; somos completos, inteiros; só necessitamos ter consciência disso e agir com sinceridade e incondicionalidade. Que o amor permeie sempre as nossas atitudes. KyraKally
 

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