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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A VERDADE NÃO ESTÁ 
NAS CITAÇÕES ALHEIAS

Por que você faz citações e por que faz comparações? Você costuma dizer: “Citando, posso comparar e compreender”; mas você cita porque, na sua mente, você não é mais que citações... Um disco de gramofone repete o que outra pessoa disse. Isso tem algo de vital na busca da verdade? Você compreende citando a Bíblia ou outro livro qualquer?

Nenhum livro é sagrado, asseguro-lhe; assim como um jornal, são só palavras impressas em papel, não há nada de sagrado nem num nem noutro.

Ora, você cita, porque pensa que, citando e comparando, compreende o que estou dizendo. Compreendemos alguma coisa por meio da comparação, ou só vem a compreensão quando atentamos diretamente para o que se diz? Quando você afirma que a Bíblia já o disse, ou que outro qualquer já o disse, o que realmente está ocorrendo  no seu “processo” psicológico? Afirmando o que outra pessoa já disse, você não precisa mais pensar no caso, não é verdade? 
 
Você pensa que compreendeu a Bíblia; e quando você compara o que a Bíblia disse com o que estou dizendo, você acha que é a mesma coisa e não dá mais atenção ao problema. Isto é, quando você compara, está, na verdade, procurando um estado no qual não seja perturbado. Afinal de contas, se você leu a Bíblia ou o Bhagavad Gita, e pensa tê-los compreendido, pode dar-se por satisfeito, e ficar a repetí-los, e isso não terá efeito algum em sua vida diária; pode continuar a ler e a citar, sem ser perturbado, em perfeita segurança. 
 
Você é então uma pessoa muito respeitável e pode continuar com seu estúpido e monstruoso modo de vida; e se vem alguém e lhe chama a atenção para alguma coisa, imediatamente você compara o que ele diz com aquilo que você leu, e pensa tê-lo compreendido. Na verdade, você está evitando perturbações; e é por isso que você compara, e é isso que eu reprovo.

Não sei se o que estou dizendo é novo ou velho; não me interessa saber se alguém já o disse ou não; o que verdadeiramente me interessa é descobrir a verdade de todo e qualquer problema — não de acordo com algum livro tido como sagrado. Quando procuramos a verdade de um problema, é estúpido repetir o que outros disseram. — Senhor, isto aqui não é uma conferência política, e fundamentalmente, a questão é a seguinte: pode-se compreender alguma coisa por meio de comparação? Compreendemos a vida, se temos a mente cheia de coisas ditas por outras pessoas, se seguimos a experiência, o saber alheio? Ou só vem a compreensão quando a mente está quieta? — mas não quando foi aquietada, porque isso é estar insensibilizada. 
 
Com o indagar, procurar, perscrutar, a mente se torna, inevitavelmente tranquila e então o problema revela todo o seu significado; e só quando a mente está tranquila se dá a compreensão do significado do problema, e não quando estamos constantemente comparando, citando, julgando, pensando. Positivamente, Senhor, o homem de saber, o letrado, nunca pode conhecer a verdade; pelo contrário, o saber e a erudição devem cessar. A mente precisa ser simples, para compreender a verdade, e não estar cheia do saber de outras pessoas ou de sua própria inquietação. 
 
Se você não tivesse livros de espécie alguma, se não tivesse os chamados livros religiosos ou sagrados, o que faria para descobrir a verdade? Se você estivesse verdadeiramente interessado em descobri-a, teria de perscrutar o seu próprio coração, teria de procurar os lugares sagrados da sua mente, não é verdade? Teria de observar-se com atenção, de compreender a maneira como a mente funciona; porque a mente é o único instrumento que você possuí, e se você não compreende esse instrumento, como poderá transcende-lo? 
 
Certamente, Senhor, os que escreveram os originais dos livros sagrados não podiam ter sido copistas, não é verdade? Eles não citaram palavras alheias. Mas nós citamos, porque os nossos corações estão vazios, porque somos áridos, nada temos de nós. Fazemos muito barulho, e a isso chamamos sabedoria; e com esse conhecimento queremos transformar o mundo, de modo que fazemos mais barulho ainda. Eis porque é muito importante que a mente realmente esteja desejosa de realizar uma transformação fundamental esteja livre de cópia, de imitação, de padrões.
 
 
Jiddu Krishnamurti 
 
 
 
 
"As outras religiões dizem: seja bom, comporte-se de modo que ninguém fique bravo com você. O Tao diz: Não seja". Joguemos fora tudo que possa comprometer nossa compreensão da vida. Como dizia Tereza de Jesus: "Nada te turbe... Por nada te acongojes... Nada te espante...  Nada tiene de estable... Siendo Dios su tesoro, Nada le falta". Se agirmos sem que nada nos perturbe, sem que nada nos aflija, sem que nada nos espante, pois nada temos de estável e sendo a eternidade nosso tesouro, Deus estará conosco e nada nos faltará. KyraKally

 

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