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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 A CURA DOS APEGOS - II

A perpétua existência
 
Convivem harmoniosamente no universo energias que constroem e energias que destroem. As primeiras criam e alimentam formas - uma atividade, a encarnação de uma pessoa, os ciclos de uma civilização, por exemplo. As últimas possibilitam que a essência abandone as formas que já não lhe correspondem, que estejam limitando sua expressão. Destroem para liberar.
 
Ambas as energias são necessárias para que a vida prossiga seu curso.
 
Se não houvesse a energia que a certa altura destrói nosso corpo, que é apenas a forma externa  que tomamos em determinada encarnação, como seria possível para a essência que o habita continuar um ciclo criativo numa próxima vida e progredir?
 
Terminado um ciclo, a essência precisa de formas mais perfeitas para manifestar-se de novo. Em termos planetários, se não houvesse a energia que provoca cataclismos e faz com que uma civilização desapareça, como a essência daquela civilização poderia reaparecer de maneira mais perfeita em outra, posterior?
 
Como poderia o espírito que nos move realizar um trabalho de crescente qualidade, se a certa altura não surgisse outra forma para animar?
 
A superação dos apegos 
 
Uma lição de desapego foi vivida pelo filósofo Krishnamurti quando seu irmão, de quem se sentia muito próximo, desencarnou. Os dois eram companheiros, e muito unidos. Krishnamurti sentiu fortemente a sua falta. Não tinha mais a sua presença física, não via mais diante de si a sua forma humana. Sofreu muito, porque até então não havia aprendido a perceber a essência invisível do amado irmão.

Numa bela poesia que escreveu sobre essa passagem de sua vida, Krishnamurti relata como tentou inutilmente amenizar seu sentimento de perda. Percorreu os lugares onde passeavam juntos, e em nenhum deles conseguia encontrar o irmão. Depois começou a procurá-lo no rosto de todas as pessoas, mas não o via em nenhum. Procurou o irmão em todas as coisas e recantos, nas casas em que tinham morado, e em lugar algum o achava.
 
Cansado de penar pela sua ausência, foi então que num momento de inspiração se voltou para dentro de si mesmo e descobriu, em seu próprio coração, a presença de seu irmão, imperecível.
 
Desse modo, curado de suas profundas dores, teve uma experiência totalmente inesperada como acréscimo: também no próprio coração descobriu todos os seres que os homens chamavam de vivos e todos os que chamavam de mortos.
 
A cura dos apegos soluciona os mais diversos problemas. Podemos então encontrar resposta para muitas perguntas: "Como perceber a essência do que nos rodeia?" "Como não perder a harmonia e a beleza que conhecemos em antigas civilizações?" "Como não perder o amor dos que desencarnaram?" "Como não nos sentirmos inativos se nosso trabalho termina ou é interrompido, ou se ficamos impossibilitados de trabalhar por algum motivo?" "Se perdemos  bens materiais, como não nos sentirmos roubados do que já passou, do que possuímos em épocas de fartura?" "Como, enfim, encontrar a essência das coisas?"
 
A resposta para todas essas perguntas é uma só: ir para dentro do próprio coração, para dentro do próprio ser. Lá a consciência da alma, que é universal, desde sempre nos aguarda.
 
 Com base em palestras de Trigueirinho
 Publicado pela Editora Irdin 

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