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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A CURA DOS APEGOS - I

 
Nada termina
 
Sabemos que o apego é um obstáculo que um dia todos teremos que superar. Ele surge quando não compreendemos o lado interno da vida, quando não estamos em contato com a essência das coisas. Por falta desse contato ficamos habituados e acostumados à forma externa que reveste toda e qualquer essência, e nos apegamos a ela.

Em nosso convívio com os demais é como se considerássemos somente o corpo, o rosto, a personalidade das pessoas, esquecendo-nos de que em sua verdadeira essência elas são almas, e de que, como almas, estão presentes em todos os lugares.
 
Muito de nós gostaríamos de nos tornar mais desapegados. Mas como fazer isso? Como encontrar a essência das coisas e não nos prender a aparências?
 
Temos muitos vícios de pensamento e hábitos de linguagem, e chegamos a dizer coisas que, se pensássemos melhor, veríamos que não corresponde à realidade. Dizemos, por exemplo: "Aquela espécie de pássaro desapareceu"; ou: "Aquele homem morreu"; ou ainda: "A antiga civilização grega deixou de existir", e assim por diante. Na verdade, é um engano  dizer que as coisas acabam ou morrem, pois não é isso o que de fato acontece: na verdade, é a essência das coisas que transmigra, que sai de uma forma e entra em outra. E quando a essência transmigra, a forma da qual se retira fenece. 
 
Portanto, nada acabou quando uma espécie de pássaros já não é vista no plano físico. E nada acabou quando se diz inapropriadamente que uma pessoa morreu. Tampouco a essência da antiga civilização grega acabou só porque terminou aquele período áureo da história da Terra, nem a Atlântida acabou por não existir mais como continente físico e visível.
 
Dentro de novas espécies de pássaros que vão surgindo permanece a essência das espécies extintas; e dentro das pessoas que estão nascendo hoje encontra-se a essência que habitava corpos de outras épocas.
 
Na arquitetura atual está presente, de certo modo, a essência de civilizações anteriores, mesmo que não haja delas nenhum elemento concreto. Quanto à Atlântida, está ainda viva em cada pessoa que permanece emotiva, pois a essência daquela civilização sempre foi a emotividade.
 
Assim, podemos perceber que a essência de todas as formas desaparecida transmigra para outras que podem ser mais perfeitas. Nada se perde, tudo evolui. Ter consciência disso é o primeiro passo para nos desapegarmos de todas as formas externas concretas. Depois, numa segunda etapa, desapegamo-nos de coisas mais sutis como, por exemplo, as afetivas.
 
Desapego da atividade
 
A vida pode levar-nos a mudar de atividade externa frequentemente. Em certas circunstâncias podemos ficar numa profissão algum tempo e depois ir para outra bem diferente. Mas, se o que nos move é a intenção de evoluir e de servir melhor, e não alguma predileção pela forma externa do trabalho, podemos perceber continuidade, mesmo quando passamos para uma atividade aparentemente oposta. Nossa intenção de servir e de melhorar, e não a forma externa das atividades, é o fio que as pode interligar, dando-nos a impressão de coerência e harmonia, e não de percalços e contraste.
 
Se considerarmos as mudanças com superficialidade, como se fossem incômodas, as transformações podem parecer-nos drásticas. Entretanto, se a vemos com mais atenção, percebemos que não há diferença alguma entre as várias atividades quando as exercemos com o mesmo espírito. O espírito com que se fazem as coisas, isso é importante - e não tanto o que se faz. O espírito, a intenção, é o que traz a unidade.
 
Assim, pouca importância tem saber  quais foram as nossas atividades passadas, assim como pode ter pouca importância saber sobre nossas vidas anteriores. As diversas fases nada mais são que os breves momentos de uma extensa trajetória evolutiva.
 
Há pessoas que se distraem e se contentam rememorando fatos transcorridos e tentando descobrir o que fizeram em vidas passadas, mas o importante seria aquilo que não muda, vida após vida, o que une todas as encarnações. É a busca da nossa essência interior que nos desvela a meta da existência, a ligação de todos os fatos e episódios que vivemos, por mais variados que sejam.
 
Com base em palestras de Trigueirinho
Publicado pela Editora Irdin 

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