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domingo, 25 de fevereiro de 2024

 A FUNÇÃO DO SOFRIMENTO - I

 
De onde vem o sofrimento ?
 
Só compreendendo o significado e a função do sofrimento  podemos predispor-nos a superá-lo.
 
O sofrimento tem um sentido espiritual, uma função moral e também um trabalho a fazer em nossas células físicas. Entretanto, mesmo reconhecendo isso, devemos saber que ele não faz parte do plano divino. Nossa alma e o próprio universo não têm o propósito de nos fazer sofrer.
 
A causa do sofrimento do ser humano encontra-se nele próprio e, em princípio, decorre de sua resistência a transformação. O sofrimento tem sido utilizado pelas forças do destino como um meio de amadurecer a consciência; quando ela não se eleva movida pela razão, pela intuição ou pelos conhecimentos que já adquiriu, ele pode contribuir para certo despertar.
 
Há milênios Buda revelou que o sofrimento é produto do desejo. Nós o engendramos ao querer coisas, ao nos envolver emocionalmente com algo ou com alguém e, ao fazer experiências puramente pessoais, sem um motivo nobre e elevado.
 
Enquanto desejarmos coisas, pessoas, o que quer que seja, por si mesmas e por motivos egoístas, sofremos.

A humanidade, até hoje, de modo geral pouco se interessou pela evolução do universo onde está inserida. Seu sofrimento vem da sua ignorância básica acerca da unidade da vida. Por não sabermos que a vida é una, os seres humanos amam mais a si mesmos que a Deus ou aos seus semelhantes, e o sofrimento cessa só quando essa ignorância é transcendida.

Todavia, paradoxalmente, mesmo não sendo parte do plano divino, o sofrimento é por ele utilizado para o bem, como veremos.

A compreensão do sofrimento

O passo inicial para compreendermos o sofrimento, como vimos, é tomar consciência do que sofremos sempre que desejamos algo. Mas é quase impossível deixar de ter desejos enquanto estamos encarnados, porque o desejo é como uma secreção sutil do corpo emocional. Assim, como produto da própria fonte de emoções, o sofrimento sempre reaparece, de forma ou de outra, na existência humana.

Contudo, podemos iniciar um trabalho de libertação se canalizamos os desejos para finalidades e objetivos cada vez mais elevados. Essa é a forma mais simples e direta de mitigarmos ou anularmos em boa parte o sofrimento. Pouco adiante confrontá-lo diretamente.
 
A purificação ou o refinamento dos desejos dá-se por etapas. Começamos com com o desapego das coisas materiais; a seguir praticamos o desapego das relações afetivas e, por fim, o desapego dos preconceitos e esquemas mentais. À medida que os apegos mais grosseiros são superados, o desejo é canalizado para coisas mais nobres. E, numa etapa mais adiantada desse trabalho de libertação, passamos a desejar não ter desejos.

É então que podemos nos relacionar mais inteligentemente com o sofrimento. Compreendermos, por fim, que ideias, tendências e anseios equivocados retêm o fluir da vida ou nos desviam do curso correto, distanciando-nos das leis universais que deveríamos seguir.
 
Tipos de sofrimento 
 
Há tipos de sofrimento e cada uma tem a sua função. Um deles é chamado sofrimento espiritual. Constitui-se das provas que passamos em nossa busca do Espírito. Apesar de mais sutil que outros, o sofrimento espiritual também é gerado pelo desejo. Ele existe devido ao nosso anseio de nos tornar espiritualizados. Mas quem padece dele não se queixa, porque sabe, no íntimo, que tal sofrimento o levará a uma compreensão da vida e das coisas.
 
O sofrimento espiritual não é limitante, como se possa crer, mas fortalece a pessoa que o experimenta e a deixa receptiva a realidades mais amplas. Uma de suas funções é despertar a fé. Se o abraçarmos sem restrições, seremos preenchidos de alegria e devoção, entraremos em um estado de paz e segurança interiores.
 
Outro tipo de sofrimento é o de natureza moral. Forja e purifica o caráter, faz com que deixemos de ser dúbios ou tépidos em nossos sentimentos mais básicos. Todos os que têm caráter adquiriram-no vivendo diferentes gradações desse tipo de sofrimento.

Durante o sofrimento moral temos a possibilidade de fazer opções importantes para a vida do Espírito. Quando o caráter já está bem depurado, não lamentamos esse sofrimento, pois sabemos quão precioso é o aprendizado que dele advém. Sabemos, também, que o padecimento aumente com a queixa. Com lamentos, desperdiçamos a energia que nos foi dada para suportar o sofrimento. Ele, em princípio, nunca é maior que a nossa capacidade de vivê-lo.
 
Este também é proporcional à capacidade de suportá-lo, mas em alguns casos acrescentamos-lhe a rejeição, a não aceitação. Com esse acréscimo, pode tornar-se excessivamente pesado.
 
Precisamos considerar o sofrimento como uma chance de sanar desequilíbrios antigos causado por nós mesmos, e abandonar a errônea ideia de que ele vem como mera punição.

Com base em palestras de Trigueirinho
publicado pela Editora Irdin

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