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domingo, 30 de agosto de 2020

O PROBLEMA PARADOXAL DA EDUCAÇÃO 

Jesus ensina a respeito do Reino de Deus | Mensagem da Bíblia

Se possível fosse uma alo-educação, como os nossos programas parecem supor, não haveria problema. Mas, como dizíamos, a única educação verdadeira é uma auto-educação, que é totalmente individual.
 
Ninguém pode educar alguém.
 
Alguém só pode educar-se a si mesmo.
 
A verdadeira educação é essencialmente intransitiva, ou reflexiva, subjetiva. Nem o próprio Cristo conseguiu alo-educar seus discípulos; do contrário não teria Judas traído o Mestre. E mesmo os restantes discípulos não estavam convertidos no dia da ascensão, depois de três anos de convivência com o melhor dos educadores. Eles, e outros, se auto-educaram na gloriosa manhã do Pentecostes, quando o espírito da verdade, que neles despertou, os transformou total e definitivamente. O que o Mestre fez, e que todo mestre pode e deve fazer, foi mostrar o caminho no qual o discípulo se pode auto- educar. Mas nenhum mestre tem a certeza de que o seu discípulo siga esse caminho. O livre-arbítrio do homem é uma fortaleza inexpugnável, cujas portas não abrem para fora, mas só para dentro.
 
Não é verdade que o meio bom faça o homem necessariamente bom, embora lhe facilite ser bom.
 
E, praticamente, é apenas isto que o educador pode fazer para seu educando.
 
De maneira que o educador se limita a mostrar o caminho certo ao educando.
 
Aqui, porém, entra em função um fator misterioso e dificilmente explicável: o ser central do educador vitaliza o seu dizer periférico. E esse ser central coincide com a auto-educação e a auto-realização do educador.
 
De maneira que, em última análise, o efeito decisivo da alo-educação radica na auto-educação.
 
O exímio iniciado norte-americano Emerson ouviu o esplêndido discurso de um elegante orador. Todos aplaudiram entusiasticamente, menos Emerson; à pergunta sobre se não havia gostado, respondeu: “Não pude ouvir o que ele disse, porque aquilo que ele é troveja mais alto”.

O nosso dizer e fazer só exerce impacto decisivo quando radica na plenitude do nosso verdadeiro ser – que requer auto-educação. O nosso dizer e fazer são canais, que têm de receber conteúdo do nosso ser.
 
De maneira que o impacto que o educador exerce sobre o educando é apenas indireto, dependente do próprio educador.
 
Os programas educacionais não podem contar com esse ser individual do educador, mas somente com o seu dizer e fazer social.
 
A educação moral, cívica e religiosa é, por conseguinte, uma alo-educação, cujo efeito é sempre problemático, em face do livre-arbítrio do educando. Se no educando não existe receptividade e ressonância propícia, o melhor dos educadores não pode educar ou converter o educando.
 
Pergunta-se se o educador pode produzir no educando essa receptividade e ressonância propícia. Diretamente, não.
 
Indiretamente, pode o educador despertar no educando potencialidades
dormentes, que melhorarão a receptividade dele. Praticamente, toda a arte de educar consiste em descobrir e despertar no educando essas potencialidades dormentes.
 
Se isto é base filosófica, então consiste ela no conhecimento exato da natureza humana, que é fundamentalmente a mesma em todos os seres humanos.
 
Mas ninguém pode conhecer a natureza humana alheia sem conhecer a sua natureza própria; só um autoconhecimento profundo abre o caminho para o alo-conhecimento.
 
A educação é, portanto, antes uma arte do que uma ciência. A ciência joga com análises intectuais, ao passo que a arte ultrapassa estas e atinge também a intuição cósmica. O educador-artista sabe auscultar e vislumbrar os imponderáveis existentes nas profundezas extraconscientes do educando.
 
O talento analisa.
 
O gênio intui.
 
A análise do talento é meridianamente consciente, ao passo que a intuição é misteriosamente ultraconsciente.
 
Essa intuição do educador pode ser cultivada e aperfeiçoada através de
experiência e vivência, interna e externa.
 
Programas meramente analíticos e técnicos não atingem a verdadeira alma da educação.

De maneira que, em qualquer hipótese, a alo-educação externa recai sempre na auto-educação interna.
 
É este o problema paradoxal da educação. Não existe nenhum caminho
psicotécnico que resolva satisfatoriamente esse problema, que é antes um problema do educador, e não do educando.
 
O problema educacional é uma síntese orgânica de ciência e arte, que exige do educador plenitude de autoconhecimento e auto-realização.
 
Como já lembramos, existe na física o processo chamado indução magnética, base de toda a nossa indústria atual: uma corrente elétrica de alta voltagem produz um campo magnético sem nenhum contato direto, somente por indução. O campo magnético assim induzido é uma espécie de aura ou alma gerada pela vizinhança de uma alta voltagem. Também na metafísica e na arte de educar existe uma espécie de indução, não magnética, mas espiritual. Essa indução espiritual, porém, supõe a presença de um indutor ou educador. Somente a plenitude do educador pode transbordar em benefício do educando. E somente essa plenitude é que pode solucionar o problema paradoxal da educação.
 
Quem julga ser bom por medo ou esperança de prêmio é um egoísta disfarçado.
 
Huberto Rohden - Educação do Homem Integral
http://universalismoesoterico.blogspot.com

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