A LIBERDADE ESTÁ EM TRANSCENDER O EGO
E AGIR COM O SER INTERNO
Uma semente para brotar terá que, além de romper a própria casca, perfurar o solo. Terá que expressar a vontade, focalizar todas as suas energias na realização da vida implícita em cada momento que lhe é dado viver.
Ainda pouco compreendidas pelos homens são as fases de transição pelas quais passam. Não percebem que os limites de um córrego devem ser expandidos e alargados, para que possa fluir o caudal de um rio. Por estar na matéria, a inércia de que estão impregnados os faz resistir à magna oportunidade que se lhes oferece e os faz impedir, com a rigidez de uma rocha, a passagem da torrente que quer impulsioná-los. Embora o cumprimento da Lei possa ser retardado por certo tempo, ela é, em si, irrevogável. Assim, ou a rocha submerge no fluxo ou é arrancada, permitindo finalmente a manifestação da nova etapa a ser vivida.
Quando o ser não tem qualquer tipo de ambição, ele pode observar as
situações e os próprios corpos sem se envolver com as forças materiais
e, assim, levá-los a um relaxamento capaz de possibilitar a realização
de um trabalho que os torne mais sutis. Porém, se por ambição o
indivíduo provoca experiências a fim de se transformar, a sua ligação
com planos superiores não se consolida o suficiente para sustar o
aparecimento das desarmonias. Essas desarmonias são um dos motivos pelos
quais deve-se ter cautela ao se conceder uma vida mais reclusa a um
indivíduo que busque a consciência espiritual, pois as desarmonias
surgem exatamente quando ele, ao gerir seus passos, age em proveito
próprio, afastando-se da meta interior e ficando ao sabor das forças do
ego.
O ego é um núcleo alimentado também pelos laços por ele
mesmo criado, e estes podem ser sutis como, por exemplo, o desejo de
recolhimento. Sob a capa de suposta independência e poder de decisão, o
ego vincula-se ao que lhe é mais cômodo; nutre-se de uma vã segurança e
imagina-se um centro de atenções às quais os demais devem render
tributo. Dessa forma, acreditando ser rei, torna-se cada vez mais
escravo.
Para a maioria dos indivíduos, a situação que oferece
melhores condições para um desenvolvimento equilibrado é a vida grupal.
Nela tem-se a oportunidade de manter contato sadio com o mundo externo
por meio de uma atividade ordenada e, sob a aura do grupo, preservar-se
não só do assédio de forças não resolvidas dentro de si próprio como
também daquelas emanadas das camadas psíquicas da sociedade.
Com esses conhecimentos básicos, nossa autodisciplina era, sob certos
aspectos, rigorosa. Estávamos dispostos a transcender o ego, o que
sabíamos ser impossível pelas vias normais de controle da personalidade.
Sabíamos que o verdadeiro estado de liberdade vai sendo alcançado por
um processo no qual, concomitantemente, a energia do ser interno
eleva-se e a do ego rende-se àquela. Os obstáculos, laços e vínculos são
gradualmente eliminados por meio de transmutações contínuas e,
finalmente, quando todos os laços humanos se rompem, o pássaro pode
voar.
Um homem que se crê conhecedor da verdade é maior entrave
para o fluir da energia espiritual do que um muro o seria à passagem da
luz. Cercado de frases e de conceitos, neles tropeça a cada passo. Seu
coração está rijo e sua entrega é como o fogo dos pântanos – queima
sobre a água e suas chamas rapidamente se extinguem.
Onde fostes buscar-Me não Me encontrastes. Esquecidos da busca, Achastes-Me por todos os lados.
José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br
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