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sexta-feira, 28 de junho de 2019

-REVENDO ANTIGAS POSTAGENS-

POR QUE TANTOS SÃO COLHIDOS
PELA TRISTEZA ?

 
Vossos pensamentos e vossas ações acham-se presentemente condicionados, limitados por ideias sociais, econômicas e religiosas e vós haveis vos tornado meros dentes de engrenagem numa máquina vastíssima. Não estais seguros e nem sois responsáveis e, dessa incerteza e irresponsabilidade, surgem vossas ações desarmoniosas e em conflito. Onde há conflito no pensar e sentir e, portanto, na ação, segue-se a tristeza e, a maioria das pessoas no mundo, tanto os irrefletidos como os espertos se acham colhidos pela tristeza.

Para libertar-se desta tristeza é preciso tornar-se consciente de que se está apenas imitando, que os pensamentos e sentimentos são contorcidos pelo contínuo conformar-se a ideais preestabelecidos e padrões que cegamente seguis. Em virtude disso, vosso verdadeiro instinto, a integridade de vosso próprio pensamento e sentimento perverteu-se. Presentemente não podeis confiar em vosso instinto, porque através de múltiplos séculos vosso instinto tem sido pervertido pela opinião pública, pela tradição, pela autoridade espiritual. Vosso instinto, que é vosso verdadeiro guia, foi assim rudemente pervertido e daí haverdes perdido, naturalmente, toda confiança nele. Portanto, afim de uma vez mais descobrirdes vosso instinto puro, necessitais começar a verificar como vossos pensamentos e sentimentos estão condicionados pelo medo e por causa da imitação; e, no verdadeiramente defrontar essas limitações, impostas pela sociedade e pela religião, pelos múltiplos padrões e ideais, dareis liberdade à inteligência natural que é a intuição, a qual é verdadeiro instinto.

O que estou dizendo não é de modo algum filosófico, nem tampouco é o pensamento ocidental ou oriental expresso de modo a acomodar-se às mentes modernas; isto porque, para mim, a filosofia, um sistema de pensar, somente limita a liberdade de sentir e produz a conformidade, que é uma imitação. Não estou de modo algum oferecendo-vos uma panaceia para as doenças atuais do mundo, nem dando-vos um sistema mediante o qual possais encontrar a felicidade.

No mundo inteiro todos buscam a felicidade, a felicidade que perdura, porém uma tal felicidade não se encontra pela conformidade, seja de que espécie for. A conformidade, que é imitação, principia na infância, por meio da educação, pelo choque com a sociedade e com as circunstâncias externas. Por esse modo tendeis a fazer que vossos pensamentos e sentimentos correspondam à opinião pública e se tornem subservientes às ideias religiosas e às autoridades espirituais.

Se refletirdes sobre qualquer religião ou filosofia, nela encontrareis um método estatuído mediante o qual podeis chegar à realização da verdade ou Deus. Tudo que fazeis é conformar-vos, imitar e forçar vosso pensar e sentir segundo o molde determinado desse sistema, e por essa maneira apenas vos tornais dentes de engrenagem numa máquina social ou religiosa. Todo o edifício da civilização moderna se acha baseado inteiramente na conformidade e ajustamento a padrões que foram estatuídos por uma autoridade, a autoridade da opinião pública ou de um instrutor espiritual. E o que se dá com religião, sociedade e ideias, dá-se com a educação; a conformidade contínua resulta na sufocação do pensamento individual.

O que acontece na vida atual? Tendes uma experiência, tal como a morte ou a falência num negócio ou uma grande desilusão, e esta experiência vos faz sofrer forçando-vos a pensar. Em face do conflito, da confusão e da desgraça, rompeis com a conformidade, com a imitação, na qual reside a insinceridade, a falsidade, e começais a pensar por vós próprios, acrescentando assim o conflito. Ora, quando isto acontece, que é que fazeis? Buscais uma maneira de sobrepujar este conflito, para vencer essa tristeza, não por compreender-lhe a causa, porém sim procurando uma evasão, e estabeleceis um ideal, esperando por meio desse ideal esquecer o conflito.

Assim, da conformidade, desperteis para o conflito, escapais para a satisfação, a qual mais uma vez é limitação, e assim vos amarrais a este processo de contínua fuga do presente, no qual unicamente está a imortalidade. Eu digo que há entendimento no presente, não no conformar-se à memória do passado ou na persecução de um ideal para o futuro, porém sim, no contínuo apercebimento que revela todos os conflitos. Vós compreendeis fazendo face aos vossos conflitos, não tentando deles escapar. Fazer-lhes frente é tornar-se apercebido de que o sofrimento existirá enquanto houver a persecução do anseio. É na intensidade do viver no presente, sem o embaraço da conformidade ou da fuga, que advêm um êxtase, uma perpétua felicidade que para mim é a beatitude da verdade.

 
Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com


"A tristeza é um livro sábio que se tem no coração e que nos diz centenas de coisas - impede-nos de apodrecer como um cogumelo debaixo de uma árvore; pouco a pouco vai fabricando uma provisão de ensinamentos para a vida". Jaliusz Slowacki está certo, porém a tristeza precisa ser profundamente refletida, pois, do contrário, pode tornar-se viciante.

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