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quinta-feira, 13 de junho de 2019

A LIBERTAÇÃO ESTÁ EM DESTRUIR AS BARREIRAS DE LIMITAÇÃO 


Pergunta: Dizeis que o homem é absoluta e incondicionalmente livre e que por ser livre está limitado. Por favor, podeis explicar como sua limitação é resultado de sua liberdade.

Krishnamurti: Disse que o homem, por ser livre, é limitado. Se não fôsseis livres não criaríeis este caos que existe no mundo, não criareis o caos dentro de vós mesmos. O sofrimento, a tristeza, a luta, vêm manifestar-se através da limitação. O processo da libertação é o de destruir barreiras. Pelo fato de serdes livres, derrubais, vos expandis, cresceis; se, entretanto, não fôsseis livres, se houvesse qualquer ser super-humano guiando-vos, se a vida de todo o indivíduo fosse vigiada, não existiria caos no mundo, não haveria limitação nem angústia. Serieis conduzidos como crianças através do abismo, sem o menor incomodo, tendo tudo planejado, controlado, dominado; não estais, porém, assim, tendes os vossos desejos e esses desejos estão continuamente indo de encontro à limitação, e o desejo luta e se esforça por derrubar as paredes da limitação, que o próprio desejo coloca diante de si mesmo. Se o prisioneiro verifica que não é prisioneiro, derruba as paredes da prisão. Pelo fato de não verificardes que sois livres, vos atemorizais. Tendes toda essa gama de religiões, de superstições, de crenças, dogmas e tudo mais, para vos sustentar em vosso temor. Ao passo que, se verificardes que, como indivíduos, sois absoluta, integralmente livres, então não vos atemorizareis, tudo vos será claro. Começareis por vos tornar fortes e cheios de propósito e não inventareis abrigos, confortos, deuses. Não buscareis salvação vinda do exterior. Podeis libertar-vos de certas tradições, tais como o banhar-se no Ganges, que deixareis àqueles que disso gostam, mas tereis vossa tradição particular pendurada ao redor do pescoço, isto por vos achardes atemorizados, incertos. Se vos encontrardes seguros, livres, tendes que escavar o vosso próprio caminho que é único e, portanto, não pode ser trilhado por outrem, seja quem for. Não existe caminho comum para a verdade. Assim, pois, é necessário que o pesquisador, que o homem crie seu próprio caminho. Mesmo que não busqueis a verdade, não importa; ela virá bater à vossa porta, através da tristeza, do sofrimento. Não vos molesteis em procurar e, por esse modo, em colocar-vos aparte da humanidade, separados da vida. A partir do momento que verificareis que a tristeza reside na limitação e que, por serdes livres, podeis destruir essa limitação, começareis a tornar-vos fortes, altivos, cheios de propósito. Então não sereis embaraçados nas limitações dos credos, das superstições, das crenças.

Estais me escutando como o haveis feito durante três anos e continuareis a fazê-lo pelos próximos dez anos, porém não vos achais realmente interessados em tudo isto, isto não é sério para vós. É exatamente como uma fantasia dentro da qual pensais que necessitais permanecer e que, ao contrário, perdereis algo. Por favor, acreditai-me, jamais perdereis seja o que for. De que vos serve escutar todos os dias, se não pondes uma só coisa em prática? Não importa o que seja. O que vos digo é fácil e compreensível para o selvagem como para o homem altamente evoluído. O altamente evoluído compreende a simplicidade, e a simplicidade é inexaurível; e o mesmo faz o selvagem por não ser complicado, por ter apenas começado a aprender. Porém, para o homem que se encontra entre estes dois, a vida é mais difícil, por não querer ele ir aos extremos; e aí reside a mediocridade, a mesquinhez de pensamento, a mesquinhez da vida, a indiferença. Não sei porque vindes ouvir-me todos os anos ou que valor tem isso para vós. Eu vos digo honestamente que se houvesse dois ou mesmo um só homem, realmente ansioso de aprender, de compreender, ardendo nesse desejo, seria muito melhor do que ter milhares indiferentes.

Se vós, como indivíduos, não vos aperceberdes que sois livres, absoluta e incondicionalmente, então tereis a tendência a criar complexidades, e, nessas complexidades que não são essenciais, sereis aprisionados. A função de uma pessoa como eu é explicar-vos que estais aprisionados e, por isso sois incapazes de destruir, por vós próprios, as barreiras. Eu não posso derrubar as barreiras, porque sois livres. Aí é que reside a potencial grandeza do homem. Ele não é como um animal que precisa ser conduzido, adestrado, a quem se diga o que deve fazer, que tenha de confiar nos poderes exteriores a si mesmo. Direis imediatamente: Não existem por acaso os Mestres? Não há um plano para a humanidade; e tudo mais que se segue. O que eu digo é: Deus, Mestres, gurus não tem utilidade para a libertação. Se houverdes sofrido, se realmente estiverdes famintos, ardendo, ansiosos, então aquilo que eu digo terá valor; se estiverdes buscando conforto, para ele haverá fim. Em vez de possuírdes velhos deuses tereis novos deuses, em vez de velhos gurus, tereis novos gurus, em vez de possuírdes velhas tradições, tereis novas tradições, também.

 
Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com
 

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