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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A RELAÇÃO ENTRE 
O AMOR HUMANO E AMOR DIVINO


O amor é uma das grandes forças universais; existe por si mesmo e seu movimento é livre e independente dos objetos nos quais e através dos quais se manifesta. Manifesta-se em qualquer lugar onde encontre uma possibilidade de manifestação, onde quer que haja receptividade, onde quer que haja alguma abertura para ele. O que você chama de amor, e pensa ser uma coisa individual e pessoal, é apenas a sua capacidade de receber e manifestar esta força universal. 
 
Entretanto, apesar de universal, não é uma força inconsciente; é um Poder sumamente consciente. Conscientemente, ele procura sua manifestação na terra; conscientemente escolhe seus instrumentos, desperta para suas vibrações aqueles que são capazes de uma resposta, esforça-se para realizar neles aquilo que é sua meta eterna, e quando o instrumento não é adequado, deixa-o e volta-se para procurar outros. Os homens pensam que, de repente, se apaixonam; veem seu amor chegar e crescer e gradualmente desaparecer — ou, talvez, durar um pouco mais naqueles que são especialmente capacitados para seu movimento mais durável. Mas a sensação de ser uma experiência pessoal toda sua era uma ilusão. Nada mais era do que uma onda do mar sem fim do amor universal.

O Amor é universal e eterno; está sempre se manifestando e é sempre idêntico na sua essência. É uma Força Divina; porque as deformações que vemos nas suas aparentes expressões pertencem a seus instrumentos. O amor não se manifesta apenas em seres humanos; está em todo lugar. Seu movimento está nas plantas, talvez nas próprias pedras; nos animais é fácil notar sua presença. Todas as deformações deste grande Poder Divino vêm da obscuridade e ignorância e egoísmo do instrumento limitado. O amor, a força eterna, não tem apego ou desejo, não tem fome de posse nem ligação egoística; é no seu movimento puro, a procura da união do ser com o Divino, uma procura absoluta, indiferente a todas as outras coisas. 
 
O Amor Divino dá-se e não pede nada. O que os seres humanos fizeram dele não é preciso dizer — transformaram-no em algo feio e repulsivo. E, entretanto, mesmo nos seres humanos, o primeiro contato com o amor traz para baixo algo da sua substância mais pura; por um momento eles se tornam capazes de esquecer de si mesmos, por um momento seu toque divino desperta e amplia tudo que é bom e bonito. Mas depois vem à tona a natureza humana, cheia de suas exigências impuras, pedindo alguma coisa em troca, negociando com o que dá, clamando por suas próprias satisfações inferiores, distorcendo e denegrindo o que era divino.

Para manifestar o Amor Divino você deve ser capaz de receber o Amor Divino, pois somente podem manifestá-lo aqueles que por sua natureza são abertos a seu movimento natural. Quanto mais vasta e clara a abertura, mais eles manifestam o Amor Divino na sua pureza original; quanto mais misturado com os baixos sentimentos humanos, maior será sua deformação. Aquele que não é aberto ao amor na sua essência e na sua verdade, não pode se aproximar do Divino. Mesmo aqueles que buscam, através do caminho do conhecimento, chegar a um ponto além do qual, se quiserem avançar mais longe, são obrigados a entrar ao mesmo tempo no amor e sentir os dois como um só: o conhecimento, a luz da união divina e o amor, o próprio cerne do conhecimento. Existe um momento no progresso da alma em que eles se encontram e você não pode distinguir um do outro. A divisão, a distinção que você faz entre os dois, a princípio é uma criação da mente: no momento que você se eleva a um plano mais alto, elas desaparecerão.

Entre aqueles que vieram a este mundo procurando revelar o Divino aqui e transformar a vida terrena, alguns há que manifestaram o Amor Divino em uma plenitude mais vasta. Em alguns a pureza da manifestação é tão grande que são mal compreendidos por toda a humanidade e até mesmo são acusados de ser duros e sem coração, embora o Amor Divino esteja lá. Porque neles, esse amor é divino e não humana em sua forma e em sua substância. Pois quando o homem fala de amor, ele o associa a uma fraqueza emocional e sentimental. Mas a intensidade divina de auto-esquecimento, esta capacidade de se dar inteiramente, sem nenhuma restrição ou reserva, como uma doação, não pedindo nada em troca, é muito pouco conhecida dos seres humanos. E quando não está misturado com emoções fracas e sentimentais, acham-no duro e frio; não podem reconhecer nele o mais alto grau e intensidade do poder de amor.

O grande holocausto, a suprema doação, foi a manifestação do amor do Divino no mundo. A Consciência Perfeita aceitou mergulhar e ser absorvida na inconsciência da matéria, para que a consciência pudesse ser despertada nas profundezas de sua obscuridade e pouco a pouco um Poder Divino crescer nela e fazer de todo este universo manifestado a mais alta expressão da Consciência Divina e do Amor Divino. Este foi o amor supremo: aceitar a perda da condição perfeita da divindade suprema, de sua consciência absoluta, de seu conhecimento infinito, para unir-se à inconsciência, co-habitar no mundo com a ignorância e a escuridão. E no entanto, ninguém talvez chamaria a isto de amor; porque não se reveste de um sentimento superficial; não faz exigências em troca do que fez, não demonstra seu sacrifício. 
 
A força do amor no mundo está tentando encontrar consciências que sejam capazes de receber este movimento divino na sua pureza, e de expressá-lo. Esta corrida de todos os seres em busca de amor, este empurrão irresistível e a procura no coração do mundo e em todos os corações é o impulso dado pelo Amor Divino, que se esconde atrás do anseio e busca dos homens. Ele experimenta milhões de instrumentos, tentando sempre e sempre falhando; mas este toque constante prepara esses instrumentos e subitamente acordará neles um dia a capacidade de autodoação, a capacidade de amar.

O movimento do amor não é limitado aos seres humanos e é talvez menos distorcido em outros mundos. Olhe para as flores e árvores. Quando o sol se põe e tudo se torna silencioso, sente-se por um momento e coloque-se em comunhão com a natureza: você sentirá, subindo da terra, de debaixo das raízes das árvores, ascendendo e caminhando através de suas fibras até os mais altos galhos espalhados, a aspiração de um amor intenso e saudade — saudade de algo que traz luz e dá felicidade, pela luz que se foi e que você gostaria de ter de volta. Há um anseio tão puro e intenso que se você puder sentir o movimento nas árvores, seu próprio ser também se elevará numa prece ardente pela paz e luz e amor que ainda não são manifestados aqui. 
 
Se você entrar em contato com este verdadeiro amor divino, vasto e puro, se você o tiver sentido mesmo por um momento e na sua forma mais íntima, tomará consciência da coisa abjeta na qual o desejo humano o transformou. Tornou-se, na natureza humana, algo baixo, brutal, egoísta, violento, feio, ou então, algo fraco e sentimental, formado de sentimentos mesquinhos, frágeis, superficiais e exigentes. E a esta torpeza e brutalidade ou a esta fraqueza egoísta chamam-na de amor!



A Mãe  (Mira Alfassa)
Fonte:pensarcompulsivo
 
 

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