SOBRE O VIVER MOMENTO
POR MOMENTO
Uma
coisa que tem continuidade nunca pode ser nova. Pense nisso a fundo, e
verá: não é nenhum problema complicado. Não há dúvida de que, se eu
consigo completar cada dia sem transportar para o dia seguinte minhas
ansiedades, minhas tribulações, saberei enfrentar de maneira nova o dia
de amanhã. O enfrentar o desafio de maneira nova é criação, e não haverá
criação se não houver um findar. Você enfrenta o que é novo com o que é
velho; por conseguinte, há necessidade de que o velho termine, para
você enfrentar o novo. Há necessidade de um findar a todos os minutos,
de modo que cada minuto seja um minuto novo. Isso não é nenhuma imagem,
nem devaneio poético. Se você experimentar, verificará o que acontece.
Mas, nós queremos continuar, subsistir. Queremos uma
continuação de momento em momento, dia por dia, porque pensamos que sem
continuidade não existimos.
Ora,
o que é capaz de continuar, pode se renovar? Pode ser novo? É evidente
que só pode haver uma coisa nova, quando há um findar. Seu pensamento é
contínuo. O pensamento é resultado do passado; é uma continuação do
passado, que em conjunção com o presente, cria, modifica o futuro. Mas o
passado, atravessando o presente, para o futuro, é sempre continuidade.
Não há solução da mesma. Só na quebra da continuidade se pode ver algo
novo. O pensamento precisa se extinguir para que o novo exista. Mas você
bem sabe o que estamos fazendo. Estamos nos servindo do presente, como
uma passagem do passado para o futuro. Não é o que estamos fazendo? Para
nós o presente é sem importância.
Ao pensamento, que é a ação do
presente, que é a relação presente, não atribuímos importância alguma. Atribuímos importância
ao produto, ao resultado do pensamento, que é o futuro ou o passado.
Não notou como os velhos contemplam o passado, e também os jovens
contemplam o passado, às vezes, ou o futuro? Ocupam-se de si mesmos, no
passado ou no futuro, e nunca dão inteira atenção ao presente. Dessa
maneira, usamos o presente como uma passagem para outra coisa, não
havendo com isso consideração, observação do presente; e para se
observar o presente, o passado precisa morrer. Certo, para percebermos o
que é,
não podemos olhar o presente através do passado. Se desejo compreender
você, devo olhá-lo diretamente e não por meio dos meus velhos
preconceitos. Porque, nesse caso, estou apenas olhando os meus
preconceitos. Só posso olhá-lo quando não existirem preconceitos; por
essa razão, precisamos colocar fim aos preconceitos.
Assim, para compreendermos o que é,
que é ação, que é relação, a cada momento, há necessidade de estarmos
novos; por conseguinte, o passado precisa terminar; e isto não é nenhuma
teoria. Experimente, para ver como esse findar não é tão difícil como
lhe parece. Enquanto você está escutando, experimente, e verá como é
fácil findar completamente o pensamento e ficar apto para descobrir.
Isto é, quando você não está influenciado, quando está interessado em
alguma coisa, vitalmente, profundamente, você a olha de maneira nova. O
próprio interesse expulsa o passado. Só lhe interessa observar o que é
e deixar que ele se revele a você. Ao perceber a verdade disso, a sua
mente se desocupa momento por momento. Por conseguinte, está descobrindo
tudo por maneira nova, e é por isso que o conhecimento nunca pode ser
novo. Só a sabedoria é nova. O conhecimento pode ser dado na escola, mas
a sabedoria não pode ser ensinada. Uma escola de sabedoria é um
absurdo.
A sabedoria é descobrimento e a compreensão do que é, momento por momento, e como se pode lhe ensinar a observar o que é.
Se lhe ensinam, isso é conhecimento, o qual se interpõe entre você e o
fato. O conhecimento, por conseguinte, é uma barreira diante do novo, e
uma mente cheia de conhecimento não pode compreender o que é.
Você é instruído, não é? E é nova a sua mente? Ou ela está repleta de
fatos armazenados na memória? E uma mente que se torna dia a dia em mero
repositório de fatos — como pode uma mente dessas perceber uma coisa
nova? Para perceber o que é novo, se requer completa ausência de
conhecimentos passados. Só no descobrimento do que é,
instante por instante, se encontra a liberdade que a sabedoria traz. A
sabedoria, por conseguinte, é algo novo, não repetido, não é coisa
aprendida de um livro escolar ou Sankara, do Bhagavad Gita, do Cristo.
Vemos
que o conhecimento que continua é uma barreira à compreensão do novo.
Se, quando você escuta, coloca em atividade seus conhecimentos
anteriores, como você pode compreender? Primeiro, você deve escutar.
Senhor, um engenheiro tem conhecimentos relativos à resistência de
materiais; mas quando vai construir uma ponte, precisa primeiro estudar o
local e o solo. Precisa estudá-los independentemente da estrutura que
vai construir, o que significa que precisa olhá-los de maneira nova, e
não apenas, copiando um livro. Mas há sempre perigo nas comparações, por
isso convém usá-las com sobriedade. O que importa é que haja uma
renovação e que nela haja criação, ímpeto criador, renascimento
constante; e isso só é possível quando morremos a cada minuto. Assim
pode a mente receber a verdade. A verdade não é uma coisa absoluta,
definitiva, remota. Ela existe para a descobrirmos momento por momento, e
não podemos descobri-la num estado de continuidade.
Continuidade,
afinal de contas, é memória, e como pode a memória ser nova? Como pode a
memória, que é experiência, que é passado, compreender o presente? Só
quando o passado está perfeitamente compreendido e a mente vazia, pode
ela perceber o presente na sua significação integral. Mas em geral a
nossa mente não está vazia. As nossas mentes estão cheias de
conhecimentos, e não são mentes que pensam. São mentes que só sabem
repetir, gramofones, que mudam o disco de acordo com as circunstâncias. E
tais condições, a mente é incapaz de descobrir o novo. Só há algo novo
no findar; mas você tem medo disso. Você tem medo de findar, e tudo o
que você fala, toda a sua acumulação de atos constituem uma proteção,
uma fuga disso. Você, por conseguinte, busca a continuidade, mas a
continuidade nunca é nova, nela não pode dar-se renovação, nunca há um
vazio onde você possa receber.
Assim, a mente só pode se renovar quando
está vazia, e não quando repleta de vossas ansiedades, dia por dia; e
com o findar da mente, há uma criação, que é eterna.
Krishnamurti – O que estamos buscando?
Fonte: Pensarcompulsivo
Buda nos disse que "O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sábia e seriamente o presente". Dalai Lama confirmou em uma simples afirmação: "Só existem dois dias no ano em que não podemos fazer nada: um se chama ontem e o outro amanhã".
Estamos realmente preparados para esvaziar a nossa mente ? Tudo indica que não há outro caminho... Então, pratiquemos o agora, pois é onde tudo acontece! kk
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