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domingo, 19 de fevereiro de 2017

ORAÇÃO AO EU SUPERIOR


 
O Eu Superior age em silêncio e segurança, e modifica a vida da pessoa profundamente e sem teatralidade. Toma conta do homem sem anúncios berrantes; as outras conversões são apenas turbações emotivas. O divino age de maneira profunda.

Por que não manifesta ele mais abertamente seu poder, não intervém com mais clareza na vida do eu pessoal? É porque, sabendo-se imortal e conhecendo a natureza efêmera da pessoa, pode permitir-se esperar com maravilhosa paciência que cresça, amadureça e desapareça a força do eu pessoal.

Isso explica por que não podemos obrigar que a graça desça sobre nós. Ela vem à sua hora, não à nossa; bruscamente, sem a esperarmos. A vinda da graça é sentida de modo reconhecível, mas somente depois que o homem foi humilhado e castigado, tornado modesto.

A manifestação da graça, pois, não nos chega sem o preparo prévio, sem a maturação dos esforços e sem a solicitação fervorosa. A base da atração entre aquele que pede e o que dá, deve ser a fé e o amor. O aspirante deve crer que o Eu Superior existe e que alcançá-lo constitui a meta oculta de sua encarnação.

Precisamos mudar de atitude e erguer os olhos com amor para o Eu Superior. Devemos nos prender a ele mais que a qualquer outra coisa. Este poder que dirige a vida universal pode igualmente dirigir a nossa vida, se o deixamos que pense, sinta e aja através de nós.   
 
Somente a humildade ante este Eu Superior pode abrir as barreiras que trancam o acesso a nosso centro espiritual no coração. Todo grito sincero que lançamos, no curso de uma crise, no vazio aparente, é ouvido pelo Eu Superior sempre presente. Não esqueçamos de ser sinceros, isto é, que o anseio corresponda aos atos do homem, tanto quanto seus pensamentos; que seja uma aspiração permanente e não simplesmente um desejo momentâneo.

Quem invoca a potência suprema não deve fazê-lo em vão, embora a resposta possa tomar uma forma inesperada que nem sempre é de seu gosto, e vá às vezes além de suas esperanças, agindo sempre em seu benefício verdadeiro e não somente na aparência.
 
Perde-se às vezes muito tempo em reclamar favores não merecidos. A sabedoria prática e a sinceridade moral consistem em acolher no coração esta verdade: arrependa-se e serás remido.

O maior pecador pode receber o que não mereceu se deseja arrepender-se sinceramente, corrigir-se em toda a medida do possível e voltar-se para a sublime fé. Qualquer que tenha sido sua vida anterior, mudando seus pensamentos e seus atos, poderá comungar com o Eu Superior e fazer ouvir sua voz nesta região mais alta, donde é sempre possível fazer surgir o dom da graça.

Ninguém deve ser orgulhoso para não orar, e isto suscita a questão da necessidade e da utilidade da oração. Ninguém tem o direito de desdenhá-la. Enquanto formos imperfeitos, a oração nos é indispensável. Somente o sábio que não nutre mais desejos pode dispensar-se dela, embora a possa fazer em benefício dos outros, a seu modo misterioso.

A oração dirigida a um ser sobrenatural com o fim de libertar o pedinte das aflições que mereceu poderá apenas ter o resultado de consolá-lo. A oração, porém, que se combina com um esforço de arrependimento para corrigir os defeitos que deram crescimento à aflição e que completa uma tentativa real a reparar o mal eventualmente causado a outrem, pode não ser vã.

O arrependimento e a reparação são os fatores capitais para tornar uma oração eficaz. Representam uma força que pode afetar o karma pessoal, introduzindo no processo kármico um karma novo e favorável.

Quando a oração exalta o homem acima das mesquinharias e cuidados pessoais, ela é útil a seu aperfeiçoamento. Quando é puramente material, torna-se um apelo hipócrita a uma entidade antropomórfica e por isso resulta vã, tanto do ponto de vista espiritual quanto do prático. A única maneira de fazer apelo contra os sofrimentos infligidos pelo princípio do karma, não é orar mas transformar os pensamentos.

A oração produz sua floração mais luminosa quando pode exprimir-se por estas palavras: “Que tua vontade, ó Deus, seja feita por mim, e não para mim”. O efeito pode não ser momentâneo, mas neste momento magnífico, a fórmula terá seu alcance verdadeiro e será ouvida de mais alto.

Então, e somente então, alguma coisa descerá no suplicante e aliviará seu fardo de preocupação. O homem conhecerá a paz no instante em que, sentindo a relação impalpável com Deus, aceita a colaboração na ordem universal.

Paul Brunton
Fonte: yoga-ensinamentos
 

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