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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

CONVERSANDO COM UM SÁBIO


 
Quando passei um tempo em Ramanasramam, fiquei hospedado perto da casa de Arthur Osborne. Numa certa tarde, por volta das 16 horas, Sri Rámana entrou em minha cabana e me trouxe uma manga. E sentou-se num banquinho no canto da cabana. Eu me sentei sobre a cama.

Olhamos um para o outro e sorrimos. Ele me deu um de seus belos sorrisos. E entendi que deveria ficar em silêncio, nada deveríamos dizer porque nada havia a dizer. Mas de repente ele me fez uma pergunta. E eu lhe perguntei, "O que é mais importante: estar na presença de um Sábio ou praticar auto-investigação sozinho?"

Ele esperou alguns segundos e então disse, "O Sábio é auto-investigação. O Sábio é o Eu, seu Eu." Portanto, quando se está na presença do Sábio, é como se as práticas espirituais estivessem sendo feitas num ritmo acelerado. Tudo que tem de ser feito está sendo feito, quando se está na presença de um verdadeiro sábio.

Então novamente lhe perguntei, "Por que muitas pessoas vêm a você e apenas algumas podem sentir, enquanto que outras nada sentem? Algumas vão embora desapontadas, enquanto outras têm seus sonhos realizados."

Então ele esperou aproximadamente um minuto e disse, "Isso depende da maturidade do buscador. Depende da sinceridade do buscador. Muitas pessoas vêm aqui visitar-me, para fazer um julgamento, e depois vão a outro instrutor. Elas viajam por toda a Índia, e depois voltam para a Inglaterra, para a Holanda ou para os Estados Unidos, e então contam a seus amigos que visitaram dez sábios e que nada lhes aconteceu. Mas se a pessoa é sincera e se entrega totalmente ao sábio, então o sábio, a graça do sábio será sentida pela pessoa e esta fará tremendo progresso. Mas a pessoa tem de ser sincera, tem de ser um devoto, esquecer de si mesmo completamente e imergir no sábio."

Então lhe fiz outra pergunta, "Qual é o caminho mais fácil e efetivo de fazer atma-vichara (auto-investigação)?" Novamente ele sorriu, esperou alguns segundos e disse, "Estar sempre consciente, em todas as situações, do Eu-Sou em seu coração. Esta é a prática mais efetiva."

Sua cabeça estava tremendo, e também perguntei sobre aquilo, "Por que você tem essa fraqueza?" Descobri mais tarde que sua cabeça estivera tremendo nos últimos quarenta anos. Ele novamente explicou que a experiência que teve aos dezesseis anos (a experiência da morte aparente) foi como colocar um elefante numa pequena cabana.

O que acontece quando se coloca um elefante numa cabana de palha? A cabana é destruída. Quando ele teve aquela experiência, seu corpo foi feito em pedaços e o deixou com tremores da cabeça.

Então lhe perguntei, "Por que isto não aconteceu comigo?" E ele me explicou que tive uma experiência de vida, não de morte, que é um pouco diferente. Eu lhe perguntei, "O que determina essas experiências?" Ele disse, "Karma."

Então parei de falar. Ele caminhava com uma bengala. Era o ano de 1949 e ele já estava bem doente. Seu atendente veio e o levou para o ashram.

Não importa por quais situações você está passando em sua vida. Se passa situações boas ou ruins, por riqueza ou pobreza, doença ou saúde. Essas coisas são totalmente irrelevantes. É necessário desviar o pensamento de si mesmo, de seu pequeno eu, e imergir sua mente na consciência do Eu-Sou.

Esqueça sua mesquinhez, esqueça sua vida pessoal. Você está sempre preocupado com seus negócios. Não há experiência neste mundo que possa lhe trazer paz e felicidade. Paz e felicidade são seu estado natural. É apenas quando você permite à mente pensar que o problema aparece. Por isso o primeiro passo na vida espiritual é aprender a controlar a mente.

O segundo passo no progresso espiritual é desenvolver humildade. E humildade significa não julgar as pessoas. A pessoa humilde não se sente insultada quando alguém fala mal dela ou lhe diz algo rude. Não fica irada ou aborrecida.

Isso soa como se fosse covardia, mas o covarde na verdade é a pessoa que acredita que deve lutar por seus direitos. Ela está sempre se defendendo. Mas quem desenvolve humildade desenvolve amor e compaixão por tudo e por todos. Não possui o menor desejo de retaliação ou vingança.

Aprenda a deixar tudo em paz. Especialmente você mesmo. Entenda que quando uma porta se fecha, uma outra se abre. O universo está ao seu lado. A vida está ao seu lado. Tente sempre estar animado. Não diga aos outros seus problemas, pois cada um tem os seus. Pare de sentir pena de si mesmo.

Se ao menos você se tornasse consciente do poder dentro de você… a essência universal. Todos esses anos você tem adorado Buddha, ou Cristo, ou Shiva ou Krishna. Todos esses deuses são na verdade você. Não há nada que você precise, não há nada que você tenha de se tornar.

Você pensa que precisa de algo, mas é o ego que precisa, é o ego que tem medos. O profundo poder que existe dentro de você sempre tomará conta de você, sempre olhará por você e o protegerá. Aprenda a sentir isso em seu coração.

É isso o que Sri Rámana queria dizer quando falava, "Seja sempre consciente do Eu-Sou." A consciência do Eu-Sou é toda-poderosa. Eu-Sou é Deus. Eu-Sou é a absoluta realidade.

Tudo que você tem a fazer é lembrar-se disso e sentir isso em seu coração. O que quer que faça durante o dia, trabalhando ou dirigindo, sempre diga “Eu Sou” para si mesmo. Quando você pronuncia essas palavras Eu-Sou, todo o universo se torna você. Você desperta para a realidade da vida, para sua verdadeira natureza.

Entregue-se ao Eu. Seja totalmente livre. Não tema mais esse mundo. Não seja enganado pelas coisas que assiste na TV, quando ouve sobre guerras, crimes, mortes. Quanto mais você mergulhar em si mesmo, mais será capaz de ver a verdade sobre esse mundo, e então rirá.

Se quer resolver seus problemas, não pense neles em absoluto. Pense no Eu-Sou. Eu-Sou é onisciência, onipotência, onipresença. Eu-Sou é Deus. Realidade absoluta, paz. Portanto, quando você realmente põe sua fé no Eu-Sou, o mundo todo lhe parecerá perfeito.


 
 
Conversando com SRI RÁMANA – Robert Adam (Título original) Fonte: yoga-ensinamentos
 
 

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