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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

OS SETE PRINCÍPIOS 
DA CONSCIÊNCIA


Uma Chave Para Compreender 
a Filosofia Esotérica


Parte I

É impossível encher de chá novo uma xícara que está cheia com outra substância. Do mesmo modo, para aprender teosofia, o estudante tem de saber esvaziar-se. Ele deve renunciar a preocupações excessivas com assuntos mundanos, temas pessoais e questões materiais. E mesmo isso não basta: é preciso força de vontade e discernimento.


Olhando com atenção o estudante verá que o próprio caminho espiritual está rodeado de luzes falsas e de fogos de artifício brilhantes, que não levam a lugar algum. Ele deve identificar e deixar de lado o caminho fácil da pseudo teosofia, dos ritualismos, das canalizações e outras formas de autoengano.


A dupla opção por abandonar as ilusões materialistas e as superficialidades pseudo espirituais permite ao estudante aumentar o seu grau de bom senso e autoconfiança e tomar medidas práticas para compreender e vivenciar o ensinamento vasto e complexo da filosofia esotérica moderna.


Como, exatamente, isto pode ser feito? Em 1891, falando a um dos seus alunos poucas semanas antes de deixar a vida física, H. P. Blavatsky deixou indicações valiosas sobre esta questão. Ela disse que, “não importa o que se estude na Doutrina Secreta”, a mente deve manter com firmeza quatro ideias “como base da sua ideação”.


A primeira delas é a da unidade fundamental de toda existência. Esta unidade interior inclui e preserva a diversidade e os contrastes da natureza externa.

A segunda ideia a ter sempre em mente, segundo H.P.B., é a de que não existe matéria morta no universo. Nada é inerte, tudo evolui. Cada átomo é uma vida.


A terceira e a quarta ideias são diretamente ligadas ao tema dos sete princípios da consciência humana. HPB acrescentou: “A terceira ideia a manter presente é a de que o Homem é o MICROCOSMO. Assim sendo, todas as Hierarquias dos Céus existem nele. Porém na verdade não existe nem Macrocosmo nem Microcosmo, mas UMA SÓ EXISTÊNCIA. O grande e o pequeno só existem como tais quando vistos por uma consciência limitada. A quarta e última ideia é aquela expressa no Grande Axioma Hermético que, na verdade, resume e sintetiza todas as outras. Como o Interno, assim é o Externo; como é acima, assim é abaixo, só existe UMA VIDA E UMA LEI e o que atua é o ÚNICO. Nada é Interno, nada é Externo; nada é GRANDE, nada é Pequeno; nada é Alto, nada é Baixo na Economia Divina.” [1]


Este é o grande motivo para estudar o tema dos sete princípios da consciência, um dos mais importantes de toda a filosofia esotérica. Este assunto contém a chave pela qual se pode ter acesso ao verdadeiro conhecimento oculto, ou essencial. O homem é o microcosmo. Por isso ele tem de conhecer a si mesmo (seus sete princípios) para poder conhecer o mundo a seu redor. E a recíproca é verdadeira: ele também precisa estudar o cosmo para conhecer a si mesmo.


Os pitagóricos da Grécia antiga estudavam a “música” cósmica das esferas ou planetas para conhecerem-se a si mesmos, porque o grande é como o pequeno, e vice-versa. E por que motivo os primeiros teosofistas ecléticos, alunos de Amônio Sacas em Alexandria, no século três da nossa era, trabalhavam com o princípio da analogia em sua busca da verdade universal? Porque só há uma EXISTÊNCIA UNA, cujas manifestações externas são diversas.


Por essa mesma razão prática, a obra “A Doutrina Secreta” dá uma grande atenção ao funcionamento da vida em sua dimensão cósmica. Alguns leitores reclamam, afirmando que grande parte de “A Doutrina Secreta” é “muito abstrata”. E, sem dúvida, eles têm razão. Mas a abstração que é necessária para compreender a origem do universo e a longa jornada da alma humana não foi recomendada pelos Mestres por mero acaso. Não há nada mais prático do que o estudo dos processos cósmicos, porque este estudo desperta Buddhi-Manas no estudante, ou seja, une o seu quinto princípio, mental, ao seu sexto princípio, intuitivo.


Este é, exatamente, o passo evolutivo que se espera da humanidade na etapa atual.


Cabe registrar que o conceito blavatskiano de “raça” só se relaciona secundariamente com o corpo físico. Esotericamente, a ideia de raça não depende da cor da pele; e tampouco há raças “melhores” ou “piores” que outras. A palavra “raça” diz respeito a um protótipo fundamentalmente psico espiritual (embora também físico) do ser humano. Ao mesmo tempo, refere-se a um período de tempo quase inimaginavelmente longo e a uma determinada etapa da evolução geológica do planeta. Basta dizer que as duas primeiras raças não eram plenamente físicas e habitaram o planeta quando ele tinha características geológicas muito diferentes das atuais. Neste contexto, as pequenas diferenças “raciais” entre os povos da humanidade atual são desprezíveis. A convivência harmoniosa dos seres humanos, independentemente de cor da pele, classe social, sexo, afiliação religiosa ou ideologia política, é o primeiro objetivo do movimento universalista e esotérico. Os estudantes dessa filosofia devem trabalhar pela fraternidade e pela felicidade de todos os seres.


É verdade que, durante o século 20, o conceito de raça foi distorcido e utilizado para justificar antissemitismo e outros crimes contra a humanidade. Mas a filosofia esotérica não pode abandonar o conceito milenar e fundamental de raça-raiz apenas porque, em determinado momento, ele foi distorcido por líderes políticos criminosos. As distorções passam, e a verdade fica. O mau uso eventual de conceitos filosóficos deve estimular-nos a estar atentos para perceber o significado que cada um dá às palavras, e para o contexto vivo em que elas são empregadas.


No tema das raças, como em tantos outros, a simplificação excessiva da filosofia esotérica também traz sérios perigos. H.P.B. evitou a redução dos seus ensinamentos a um conjunto de ideias demasiado fáceis. A intenção era impedir, ou tornar menos provável, que estudantes inexperientes pudessem memorizar alguns conceitos e iludir-se pensando que conheciam a ciência esotérica.


A civilização de hoje, inspirada e dominada pela cultura europeia e pelas culturas dos seus descendentes e associados nos vários continentes, está situada na segunda metade da quinta raça-raiz, mais precisamente na quinta sub-raça da quinta raça-raiz. Ela está no ponto em que Manas, a mente, passa a receber cada vez com mais força a luz intuitiva de Buddhi, preparando o surgimento da sexta sub-raça da quinta raça-raiz. Este despertar ocorre através de indivíduos e setores sociais pioneiros e inicialmente pouco numerosos. Como efeito colateral inevitável, esta nova energia parece tirar de foco e desarticular os mecanismos anteriores e convencionais de produção de sentimento ético. Enquanto pequenos setores pioneiros despertam, outros setores sociais – inicialmente majoritários – parecem perder todo senso ético e qualquer inspiração vinda dos planos superiores de consciência. Assim, a crise da transição se aprofunda. Mas é por causa da nova energia inspiradora que as velhas estruturas tremem.


Há sete raças-raízes. Cada uma delas tem, de acordo com H.P.B., sete sub-raças. O conjunto da quinta raça-raiz trabalha predominantemente o foco evolutivo  do quinto princípio - Manas, assim como no conjunto da sexta raça-raiz o foco estará especialmente concentrado no sexto princípio, Buddhi.


O mesmo ciclo em espiral é percorrido, numa escala menor, ao longo das sete sub-raças. Na quarta sub-raça da quinta raça, por exemplo, houve um relativo predomínio do quarto princípio, do desejo (Kama). Na atual quinta sub-raça da quinta raça, temos um relativo predomínio do princípio mental (Manas). Na sexta sub-raça da nossa quinta raça-raiz, haverá um despertar do sexto princípio, o princípio búdico, centro e sede da alma espiritual. Estamos vivendo o longo processo do seu surgimento.


A relação direta – numérica e numerológica – entre os sete princípios do homem tal como aparecem na teosofia original e as sete etapas sucessivas da evolução da humanidade é um forte motivo para que se mantenha o esquema original dos sete princípios. Os sete princípios são a ponte entre o microcosmo (o ser humano) e o macrocosmo (o planeta e o universo). Porém nenhum conhecimento vem até nós sem uma provação e uma dificuldade. Como um astucioso teste para o discernimento do estudante atento, estes ensinamentos foram distorcidos pela pseudoteosofia da Sociedade de Adyar.


A vida cósmica (e humana) é como um carrossel que gira dentro de um carrossel, e o segundo carrossel gira dentro de outro carrossel ainda maior, e assim sucessivamente. Em termos de realidades espaciais, cada átomo é uma miniatura do sistema solar, e cada sistema solar é uma miniatura da Via Láctea.


Na escala de tempo, o segundo faz parte do minuto, o minuto faz parte da hora, a hora faz parte do dia, o dia faz parte do ano, o ano faz parte do século, e o século é uma pequena partícula de grandes eras cósmicas. Também a evolução das almas está perfeitamente sincronizada com os ciclos maiores e menores.


O espaço-tempo universal, abstrato e absoluto – o círculo ilimitado que tudo contém – é chamado de Parabrahman em filosofia esotérica. A chave para perceber estas realidades vivencialmente – através da lei da analogia – está nos sete princípios da consciência humana.


A pseudo teosofia de Annie Besant e Charles Leadbeater, porém, inverte a numeração dos princípios, fazendo com que eles já não tenham correspondência com os números das raças e das sub-raças. Esta descaracterização do esquema referencial da teosofia de H.P.B. faz com que as rodas grandes e pequenas dos ciclos da vida universal já não encaixem mais umas nas outras. A falsa teosofia fragmenta a visão da vida ao impossibilitar a relação entre microcosmo e macrocosmo. Uma vez adulterada a enumeração dos sete princípios, o estudo da cosmologia e da natureza oculta do ser humano ensinadas nas “Cartas dos Mahatmas” e em “A Doutrina Secreta” fica impossibilitado. Por isso, o esquema didático original do ensinamento teosófico é indispensável. Só ele nos oferece uma visão sistêmica da vida, capaz de unir coerentemente a parte e o todo, mostrando de que modo a parte contém o todo e de que maneira o ser humano é um resumo coerente do universo.


O tema das Raças, Rondas e Cadeias coloca desafios lógicos à nossa compreensão e amplia a nossa capacidade de perceber intuitivamente o funcionamento do cosmo.

Carlos Cardoso Aveline


 
NOTAS:

[1] “Fundamentos da Filosofia Esotérica”, H. P. Blavatsky, org. Ianthe Hoskins, Editora Teosófica, Brasília, 90 pp., ver pp. 77 e seguintes.
 
Fonte:Fonte: Fonte: http://www.filosofiaesoterica.com 
 

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