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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

TRÊS PALAVRAS DEVEM SER COMPREENDIDAS



Três palavras têm de ser compreendidas: uma é “religião”, ou “espiritualidade”; a segunda é “moralidade”; e a terceira é “legalidade”. 

Religiosidade (ou espiritualidade) não subsiste em ideias morais – está além do moral e do imoral, está além do certo e do errado; não possui consciência externa; vive da pura consciência em si. Existe um tremendo “estado de alerta”, e a pessoa age a partir desse “estado de alerta”. Quando acontece de a ação surgir do “estado de alerta”, ela é inevitavelmente boa.

Mas o ser humano vive num “estado não alerta”. Toda a vida do ser humano é repleta de “estados não alertas” – ele é quase como um robô. Ele vê e, contudo, não vê; ele ouve e, contudo, não ouve. Ele existe, mas somente no sentido literal da palavra, não realmente, não como um Buda ou um Cristo ou um Zaratustra… ou como Dionísio, Pitágoras, Heráclito. Não, ele não existe com tal intensidade, com aquele “estado de alerta”.

Desse modo, a moralidade se torna quase uma necessidade – ela é um substituto. Quando não se pode ter a coisa verdadeira, acaba sendo melhor ter alguma coisa não-verdadeira do que não ter absolutamente nada, porque o ser humano precisa ter um certo código de comportamento. Mas se este código flui do “estado de alerta”, então não há nenhum problema.

É assim que as pessoas estão: vivendo apenas em uma espessa nuvem de inconsciência. Suas vidas não são aquela vida de luz, mas a de escuridão – e, vindo dessa escuridão, dessa confusão, dessa fumaça, o que você pode esperar? Elas estão fadadas a fazer algo tolo, algo errado.

A menos que todos se tornem um Buda, permanecerá a necessidade de alguma espécie de moralidade. A moralidade não é algo grandioso; é um substituto pobre da religiosidade. Se você pode ser religioso, então, não há necessidade de moralidade.

Minha ênfase aqui é na religiosidade, não na moralidade, porque observei o completo fracasso da moralidade. Ela tem sido de algum modo útil; ajudou as pessoas a viverem de algum modo umas com as outras, sem cortarem-se as gargantas muito violentamente. Elas cortam, mas cortam de maneira indireta e gradualmente, não repentinamente; e cortam de modo sofisticado. Primeiro, lhes dão tranquilizantes, ou drogas, para anestesiá-las e, assim, não sentirem muita dor.

Todas as ideologias políticas e religiosas não são nada mais do que tranquilizantes não-medicinais. Todo o propósito é o de fazê-los viver no sono, de modo que vocês possam ser explorados, oprimidos, escravizados e, ainda assim, não estarem alertas para o que lhes está acontecendo.

Karl Marx está certo nesse sentido –  a religião é o ópio do povo. Mas por “religião” ele quer dizer “cristainismo, hinduismo, budismo…” Ele não estava ciente da religião da qual eu estou falando, da religião dos Budas. Ele estava falando sobre as religiões institucionalizadas, organizadas. E não sobre a experiência viva dos iluminados. Porque esta não é um ópio, é exatamente o oposto disso – é cheia de ciência.

Há uma diferença entre os padrões moral e legal. “Moral” significa que você vive “de acordo com os mais elevados padrões que a sociedade impôs sobre você” e não de acordo com sua própria luz. É o potencial máximo, a esperança da sociedade, que foi imposta sobre você. E o padrão legal é o mínimo.

O padrão moral é o máximo, a maior expectativa da sociedade; e o padrão legal é a expectativa mínima: pelo menos deve-se cumprir o legal. Se você não puder alçar-se ao moral, então, por favor, cumpra o legal. O legal é o limite mais baixo e o moral é o limite mais elevado, daí a diferença. A diferença existe.

Há muitas coisas imorais que não têm nada a ver com a lei. Você pode estar fazendo muitas coisas imorais, mas não pode ser apanhado legalmente, porque a legalidade consiste, no mínimo, no limite mais baixo.

Dizem que o melhor professor é aquele que é capaz de explicar o que está dizendo ao aluno mais estúpido da classe. Se o mais estúpido pode compreendê-lo, então, é claro, todos os outros compreenderão. A lei pensa na pessoa mais estúpida, na pessoa mais inumana, naquela que está próxima ao animal. A moralidade pensa no mais inteligente, no mais humano. Daí a diferença entre as duas – e a diferença continuará.

E eu tenho de lembrá-los de uma terceira coisa também; do padrão espiritual. Este é o maior, o transcendental, além do qual não existe nada. Os Budas vivem de acordo com o último, os santos vivem de acordo com o moral e os assim chamados cidadãos vivem de acordo com o legal. Estas são as três categorias de seres humanos.

Será a maior evolução da sociedade quando houver somente um único padrão, o espiritual – então não haverá necessidade de nenhuma lei, nenhuma necessidade de alguma moralidade, nenhuma necessidade do estado, de magistrados, de polícia, de militarismo. Quase 99% de nossa energia é desperdiçada neste mundo administrativo. 

Se o ser humano puder viver de acordo com sua própria luz – e isso só será possível se ele alcançar seu âmago mais profundo, por meio de meditação -, então todo esse criminoso desperdício de energia poderá  ser interrompido. A terra poderá tornar-se o próprio paraíso, porque se 100% da energia tornar-se disponível para a criatividade, para a arte, para a ciência, para a música, para a pintura, para a poesia, nós poderemos criar, pela primeira vez, uma verdadeira sociedade de seres humanos.

Até agora, o ser humano apenas parece humano: lá no fundo, ele não é nada mais do que animal mascarado de ser humano. Sua humanidade não tem nem a espessura da pele; basta arranhá-lo um pouquinho e o animal sai. O ser humano com o qual estamos convivendo, com o qual vivemos até aqui, está tão interessado no trivial, que só isso já prova a sua mediocridade…não pode dar nenhum indício de sua inteligência.

A humanidade continua discutindo sobre grandes coisas. Mas prossegue vivendo de maneira totalmente diferente. Seus pensamentos são muito elevados; sua vida é muito imatura. Na verdade, ela cria todos esses grandes pensamentos para encobrir sua imaturidade.


Osho


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