NÃO EXISTE LIBERTAÇÃO
SEM A ENTREGA DO CORAÇÃO
O investigar requer mente equilibrada,
sã, mente que não se deixe persuadir por opiniões, próprios ou alheias
e, portanto, seja capaz de ver as coisas com toda a clareza, em cada
minuto de seu movimento, de seu fluir. A vida é um movimento de
relações, e portanto — ação. E, se não há liberdade, a mera revolta
nenhuma significação tem. O homem verdadeiramente religioso nunca se
revolta. É um homem livre — não do nacionalismo, da avidez, da inveja, etc.; livre, simplesmente.
E o investigar requer a compreensão da natureza e significado do medo,
porque a mente que, em qualquer de seus níveis, sente medo, é obviamente
incapaz do rápido movimento que exige o investigar. Sabeis que neste
país, em virtude da tradição e do prestígio da autoridade, gostamos de
gabar-nos de nossa civilização sete vezes milenária. E os que tanto se
orgulham dessa civilização provavelmente nada têm para dizer; por esta
razão tanto se fala a respeito dela. Não é livre o espírito que está sob
o peso da tradição e da autoridade. Terá de transcender a civilização e
a cultura, porque só então será capaz de investigar e descobrir a
verdade; de contrário, só saberá discorrer sobre a verdade, e a seu
respeito ter inumeráveis teorias. O descobrir exige um espírito
totalmente livre da autoridade e, portanto, do medo.
A compreensão do medo é um enorme e complexo problema. Não sei se alguma vez já lhes destes a
vossa mente — não só a mente, mas também o coração. A mente talvez já
tenhais dado, mas com toda a certeza nunca destes o coração. Para
compreender uma coisa, temos de dar-lhe nossa mente e nosso
coração. Quando só aplicamos a mente a uma certa coisa — principalmente
ao medo — tratamos de resistir a essa coisa, de erguer uma muralha
contra ela, de fechar-nos e isolar-nos, ou, ainda, tratamos de fugir da
coisa. É o que fazemos quase todos nós, e para isso é que serve a
maioria das religiões. Mas, quando aplicais o coração à compreensão de
uma coisa, verifica-se então um movimento muito diferente. Quando dais o
coração à compreensão de vosso filho — se isso vos interessa —
observais todo o incidente, toda minúcia; nada é insignificante, e nada
importante demais; e nunca vos enfadais. Entretanto, nunca damos o
coração a coisa alguma — nem mesmo a nossa esposa ou marido, ou filhos; e
muito menos à vida. Quando o indivíduo dá o seu coração, é instantânea a
comunhão.
"Dar o coração" é uma ação total. "Dar a mente" é ação fragmentária. E a
maioria de nós dá a mente a tantas coisas! Por isso, vivemos uma vida
fragmentária: pensando uma coisa e fazendo outra; e vemo-nos divididos
pela contradição. Para compreender uma coisa, temos de dar-lhe não só a
mente, mas também o coração.
E para compreender esse complexo problema do medo... não se requer um
mero esforço intelectual, porém que a ele nos apliquemos totalmente.
Quando amamos uma coisa — e emprego a palavra "amor" em seu sentido
total, isto é, sem dividir em "amor a Deus" e "amor ao homem", ou "amor
profano" e "amor divino"; tais distinções não são o amor, em absoluto —
quando amamos uma coisa, a ela nos entregamos com nossa mente e nosso
coração. Isso não é o mesmo que vincular-se a uma coisa. Pode um
indivíduo devotar-se de corpo e alma a uma certa causa — social,
filosófica, comunista, religiosa. Mas, isso não é dar-se; é
seguir uma mera convicção intelectual, uma ideia de que terá de cumprir
certos deveres, a fim de melhorar a si próprio ou à sociedade, etc.
Estamos, porém, falando de coisa bem diferente.
Ao darmos o coração, todas as coisas são percebidas claramente, na esfera dessa compreensão. Tentai fazê-lo — ou melhor, espero que o estejais fazendo neste momento. O homem que diz "Tentarei" — está no caminho errado, porque tempo não existe; só há o presente momento, o agora. E se o fizerdes agora, vereis que, quando se dá o coração, a ação é total — e não uma ação fragmentária, forçada, nem uma ação que segue certo padrão ou fórmula. Se derdes o coração, compreendereis imediatamente, instantaneamente, qualquer coisa; isso nada tem de sentimentalismo ou devoção — que são coisas muito pueris.
Para dar o coração, necessitamos de muita compreensão, de muita energia e clareza, para que, na luz dessa compreensão, possamos ver as coisas claramente. E não podeis vê-las claramente, se não estais livre de vossa tradição, de vossa autoridade, de vossa cultura, de vossa civilização, de todos os padrões sociais; não é fugindo da sociedade, indo-se viver numa montanha, tornando-se eremita que se compreende a vida. Pelo contrário, para compreenderdes esse extraordinário movimento da vida — que é relação, que é ação — e o acompanhardes infinitamente, necessitais de liberdade, e esta só vem àquele que dá sua mente, seu coração, seu ser inteiro. Então, compreendereis a vida. Na compreensão não existe esforço; é um ato instantâneo.
Só a mente livre, lúcida — só essa mente é capaz de ver o verdadeiro e de afastar o falso.
Ao darmos o coração, todas as coisas são percebidas claramente, na esfera dessa compreensão. Tentai fazê-lo — ou melhor, espero que o estejais fazendo neste momento. O homem que diz "Tentarei" — está no caminho errado, porque tempo não existe; só há o presente momento, o agora. E se o fizerdes agora, vereis que, quando se dá o coração, a ação é total — e não uma ação fragmentária, forçada, nem uma ação que segue certo padrão ou fórmula. Se derdes o coração, compreendereis imediatamente, instantaneamente, qualquer coisa; isso nada tem de sentimentalismo ou devoção — que são coisas muito pueris.
Para dar o coração, necessitamos de muita compreensão, de muita energia e clareza, para que, na luz dessa compreensão, possamos ver as coisas claramente. E não podeis vê-las claramente, se não estais livre de vossa tradição, de vossa autoridade, de vossa cultura, de vossa civilização, de todos os padrões sociais; não é fugindo da sociedade, indo-se viver numa montanha, tornando-se eremita que se compreende a vida. Pelo contrário, para compreenderdes esse extraordinário movimento da vida — que é relação, que é ação — e o acompanhardes infinitamente, necessitais de liberdade, e esta só vem àquele que dá sua mente, seu coração, seu ser inteiro. Então, compreendereis a vida. Na compreensão não existe esforço; é um ato instantâneo.
Só a mente livre, lúcida — só essa mente é capaz de ver o verdadeiro e de afastar o falso.
Jiddu Krishnamurti, em a Suprema Realização
Nenhum comentário:
Postar um comentário