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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

SEJAM QUAIS FOREM AS CONSEQUÊNCIAS,
BUSQUE O ESSENCIAL



"É na simplicidade que se encontra o essencial..."


Penso que a dificuldade que tem a maioria das pessoas provém de serem muito indiferentes, e a indiferença geralmente produz a tolerância. A indiferença é como uma folha que voa soprada pelo vento. A mente que não é esclarecida, precisa, quando não está sempre julgando, balanceando, pensando tudo, tende a tornar-se cada vez mais indiferente, e nela admitis todo o pensamento, não a preocupando quem escreve ou fala. Entra e saí, sem deixar um vestígio. Tal mente é tão indiferente que aceita todas as coisas sem exame, e é benigna e docemente tolerante. É o que está acontecendo com a maioria das pessoas educadas. Aceitam tudo, sem pensar, sem julgar o que pessoalmente pensam a respeito. Por exemplo, se vos apresento um pensamento, não há contra ele a resistência de vosso próprio pensamento. É como que se lutasse com uma parede de pedra. Mas se houvesse um pensamento ativo e criador de vossa parte, haveria uma qualidade receptora que é essencial à compreensão. Se sois indiferente a este pensamento e a essa espécie de expressão, a consequência é que estais dominado, moldado, preso à autoridade de cada pensamento transitório. É esta uma das mais difíceis coisas, suponho, aqui na Índia. O Hinduísmo admite toda a sorte de pensamento; podeis ser um agnóstico ou o contrário disso, e ainda podeis ser hindu. Admitis tudo, e, por isso, sois como uma casa em que entram todas as correntes de ar. A vossa própria mente é indecisa, tornai-vos indiferente, e a indiferença é pecaminosa, se em alguma coisa há pecado. Eu preferiria que de modo absoluto, categórico e violento recusásseis tudo quanto eu digo ao invés de permanecerdes indiferente. A vossa tolerância inclinou-se para a indiferença. Temos neste país o Cristianismo, o Budismo, todas as religiões, e não somos, realmente, espirituais, porque nos tornamos cada vez mais indiferentes. Seria melhor, sob o meu ponto de vista, que fossemos, realmente, intolerantes., porque pensais que a vossa ideia é a melhor e que convém por ela vos baterdes. Não estou pregando a intolerância; mas serdes indiferente às vossas ideias, ao vosso próprio sofrimento, à vossa própria lida, à vossa vida penosa, é um pecado, é uma maldição.

A mente ativa, que está constantemente vigilante, deve ter, antes de tudo, experiência. A verdade deve ser experimentada e, depois, mantida. Não podeis crer na verdade. Ela é vossa, como o vosso nariz é vosso, como os vossos sentimentos são vossos. A verdade não deve ser acreditada com indiferença, mas mantida com objetivo, que provém do êxtase de toda a experiência. A verdade é a vida, a ser experimentada através do desejo, através do senso, através do pensamento e da emoção. Como disse eu ontem, se obstruís qualquer um desses canais pelo temor, pela falta de compreensão do objetivo da vida, estais obstruindo os únicos meios pelos quais a vida pode ser compreendida. É esta a razão porque não podeis ser indiferente. Sede ou completamente contra ou completamente a favor. Não hesiteis entre as duas coisas. Se pensais que estou errado, não faz mal. Se achais que o que pensais está certo, e não vos incomodais com as consequências, não desenvolvereis, então, esta funesta indiferença. Um bom nadador preferirá nadar contra a corrente, porque se delicia com o exercício, em vez de seguir serenamente a corrente, porque nisso não há muito divertimento. É uma simples distração. Uma mente ativa, que sabe o que quer, que está sempre analisando, experimentando, pesquisando, nunca pode acreditar simplesmente na verdade. Deve sentir a verdade. Isto, para mim, é a coisa de maior importância nestas palestras. Não preciso que acrediteis em nada que eu digo. Tenho sido vagamente, reservadamente, atendido nas discussões que têm ocorrido. Um pessoa diz: “Krishnamurti diz isto”, mas, nunca, o que ela pessoalmente sente, pensa e está lutando pela vida, porque tudo isto torna-se uma questão de crença, e não de experiência da vida. A verdade não é uma questão de crença ou afeição pessoal. Deveis gostar de mim e eu devo gostar de vós. Esta não é a razão pela qual deveis acreditar naquilo que eu digo. Verdade é vida, e a vida é o desejo, o pensamento, o senso, as emoções; e se não puderdes compreender e desenvolver isto, nunca tereis a verdade que é felicidade, que é a liberdade. Não podeis ser indiferente, deveis ser eficientemente pró ou contra. Seria muito melhor, acho — estou dizendo isto convencido de que será mal compreendido — ser fanático, no sentido mais amplo da palavra, saber o que é essencial e procura-lo, quaisquer que fossem as consequências. É o que vós pensais que é o essencial, não o que eu penso, porque não posso dizer o que vos é essencial. É uma questão de discernimento individual verificar o essencial, e, ao fazê-lo, deveis ser sempre cauteloso, discernindo, rejeitando e assimilando. Não acrediteis apenas porque eu acentuei certos pontos repetidamente. É essa a razão porque frequentemente pergunto a mim mesmo se na realidade vale a pena falar ou não. — Não acrediteis, mas experimentai o que estou dizendo, porque só pela experiência podereis desenvolver-vos, e não pela crença.       


Krishnamurti



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