Translate

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A BUSCA DA FELICIDADE 
NO LUGAR ERRADO


"Acredito que o objetivo da nossa vida 
seja a busca da felicidade. Isto está claro. 
Quer se acredite em religião ou não, 
quer se acredite nesta religião ou naquela, 
todos nós buscamos algo melhor na vida. 
Portanto, acho que a motivação da nossa vida
 é a felicidade". (Dalai Lama)



Todos os prazeres físicos se manifestam na superfície do corpo e são captados pela mente por intermédio do sistema nervoso. Você gosta dos prazeres exteriores dos sentidos porque foi apanhado por eles primeiro e continuou em suas garras. Assim como certas pessoas se acostumam à prisão, nós, mortais, apreciamos os prazeres materiais que calam as alegrias íntimas.

Pela maior parte, os sentidos nos prometem uma pequena felicidade passageira, mas no fim só nos dão sofrimento. Virtude e felicidade interior não prometem muito, mas no fim nos asseguram bem-aventurança duradoura. Por isso chamo à felicidade íntima e persistente da alma “Alegria”, e “Prazer” às sensações passageiras.

O ambiente exterior e as companhias são da máxima importância. O ambiente exterior específico do começo da vida é crucial porque estimula ou embota o ambiente interior instintivo da criança. Esta nasce geralmente com um ambiente mental prévio, que é estimulado quando o de fora se parece com o de dentro; entretanto, se diferentes, o de dentro irá com toda a probabilidade ser suprimido. Uma criança instintivamente má pode ser corrigida e melhorada em boa companhia, e vice-versa, ao passo que uma criança instintivamente boa, colocada em boas companhias, sem dúvida será ainda melhor. As pessoas se esquecem de que o preço da luxúria é o desgaste crescente de energia nervosa e cerebral, com o inevitável encurtamento de sua perspectiva de vida.

Os materialistas se envolvem a tal ponto na tarefa de fazer dinheiro que não conseguem relaxar e gozar seu conforto, mesmo depois de adquiri-lo.

Como é insatisfatória a vida moderna! Basta examinar as pessoas à sua volta. Pergunte-se: elas são felizes? Note as expressões tristes em suas faces. Observe o vazio em seus olhos.

A vida materialista tenta a humanidade com sorrisos e garantias, mas só nisto é consistente: nunca deixa de, mais cedo ou mais tarde, quebrar suas promessas! O excesso é sempre ruim. Não importa quão agradável seja uma coisa, se você exagerar em seu uso, ela deixará de lhe dar prazer e em vez disso lhe dará desgosto.

Lembre-se, pois: não exagere na comida, no sono, no trabalho, na atividade social ou em qualquer outra, por mais agradável que seja, pois a indulgência excessiva só traz infelicidade.

Convém distinguir entre o necessário e o supérfluo. As coisas necessárias são poucas, ao passo que as supérfluas não têm fim. Para ser livre e feliz, considere apenas as suas necessidades. Pare de alimentar desejos sem conta e de perseguir o fogo-fátuo da ventura enganosa. Quanto mais depender das coisas exteriores para a sua felicidade, menos felicidade experimentará.

Desejar o supérfluo é o meio mais seguro de empobrecer. Não seja escravo de bens e posses. Procure reduzir até as suas necessidades. Gaste o tempo na busca da felicidade e da bem-aventurança duradouras. A alma imutável e imortal se oculta por trás da tela de sua consciência, onde estão pintadas as imagens tenebrosas da doença, do fracasso, da morte, etc. Erga o véu da mudança ilusória e instale-se em sua natureza imortal. Entronize sua consciência instável na imutabilidade e serenidade interiores, que são o trono de Deus. Faça com que sua alma manifeste bem-aventurança dia e noite.

A felicidade pode ser assegurada pelo exercício do autocontrole, pelo cultivo de hábitos simples e pensamentos elevados, e pela economia de dinheiro, ainda que se ganhe muito. Tente ganhar mais a fim de ajudar os semelhantes a ajudar-se a si mesmos. Uma das leis tácitas da Vida é que quem ajudar os outros a obter abundância e felicidade será sempre ajudado, e obterá mais e mais prosperidade e ventura. Essa é uma lei da felicidade que não pode ser infringida. Não é melhor viver de maneira simples e frugal para enriquecer de verdade?

Buscar a felicidade fora de nós mesmos é como tentar agarrar uma nuvem. A felicidade não é uma coisa: é um estado mental. Precisa ser vivida. Nem o poder mundano nem os esquemas de ganhar dinheiro poderão jamais captar a felicidade. A inquietação mental resulta de uma percepção voltada para fora. E essa inquietação significa que a felicidade sempre se mostrará esquiva. O poder temporal e o dinheiro não são estados da mente. Uma vez obtidos, apenas diluem a felicidade. Com certeza não a podem concentrar.

Quanto mais dispersamos nossas energias, menos poder nos sobra para aplicar a um empreendimento específico. Os hábitos envolventes da preocupação e do nervosismo brotam de profundezas abissais no subconsciente, lançando tentáculos à volta de nossa mente e eliminando de vez toda a paz interior que porventura tenhamos desfrutado.

A verdadeira felicidade nunca será encontrada fora do Eu. Quem a procura ali age como se estivesse à cata do arco-íris em meio às nuvens!

A alma não consegue reencontrar a ventura perdida em coisas materiais, pois o conforto que estas oferecem é ilusório. Depois de perder o contato com a divina bênção interior, o homem procura saciar sua sede de ventura nos prazeres falsos dos sentidos. Nos níveis mais profundos de seu ser, contudo, permanece consciente do seu anterior estado de imanência com Deus. A verdadeira satisfação lhe escapa porque, passando de um prazer sensual a outro, o que ele persegue é sua perdida felicidade no regaço do Senhor.

Que cegueira! Por quanto tempo ainda você, já farto, saciado e aborrecido, teimará em não procurar a alegria dentro de si mesmo, o único lugar onde ela pode ser encontrada?

Pense, por um instante, no que Jesus Cristo teria querido dizer com as palavras: “Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Mateus, 8:22). O significado é que a maioria das pessoas está morta sem saber! Elas não tem ambição, iniciativa, entusiasmo espiritual, alegria na vida.

Para que viver dessa maneira? A vida deveria ser uma inspiração constante. Viver mecanicamente é estar morto por dentro com o corpo ainda respirando!

O motivo pelo qual a existência das pessoas se arrasta de forma tão insípida e desinteressante é que elas dependem de canais rasos para sua felicidade em vez de ir até a fonte inesgotável de toda a alegria, dentro de si mesmas.

Para que gastar todo o nosso tempo com coisas que não duram? O drama da vida tem sua moral no fato de ser apenas isto: um drama, uma ilusão.

Os insensatos, imaginando que a representação é real e duradoura, lastimam as partes tristes, lamentam que as alegres não se eternizem e deploram que a peça tenha de acabar. O sofrimento é o castigo de sua cegueira espiritual.

Os sábios, porém, sabendo que o drama não passa de ilusão, buscam a felicidade eterna no Eu interior.




Texto transcrito do livro Como ser Feliz o Tempo Todo, de Paranhansa Yogananda


Nenhum comentário:

Postar um comentário