ESTAMOS MORRENDO,
NÃO ESTAMOS VIVENDO
Pergunta: O que é que nos faz temer a morte?
Krishnamurti:
Você pensa que uma folha que cai ao chão tem medo da morte? Pensa que
um pássaro vive com medo de morrer? Ele se encontra com a morte, quando
ela vem; mas a morte não lhe dá cuidados, pois está todo ocupado com o
viver, com apanhar insetos, construir seu ninho, cantar seus cantos,
voar pela simples alegria de voar. Você já observou os pássaros a voar
muito alto, sem um bater de asas, deixando-se levar pelo vento? Como
parecem se deliciar! Não têm preocupações sobre a morte. Quando a morte
chegar, muito bem, acabou-se tudo. Mas, não lhe dá cuidados o que irá
acontecer; eles vivem momento por momento, não é verdade? Só nós, entes
humanos, estamos sempre preocupados com a morte — porque não estamos vivendo. Esta é que é a desgraça: estamos morrendo, não estamos vivendo. Os velhos estão se aproximando da sepultura, e os mais novos não lhe ficam muito atrás.
Veja, existe
esta preocupação com a morte, porque tememos perder o “conhecido”, as
coisas que temos acumulado. Temos medo de perder a mulher ou o marido,
um filho ou um amigo; temos medo de perder o que aprendemos, acumulamos.
Se pudéssemos levar conosco tudo o que acumulamos — nossos amigos,
nossos bens, nossas virtudes, nosso caráter — não temeríamos a morte,
não é verdade? É por isso que inventamos teorias a respeito da morte e
da vida futura. Mas o fato é que a morte é um findar, e a maioria de nós
não tem vontade de enfrentar este fato. Não queremos nos separar do
conhecido; portanto, é nosso apego ao conhecido que cria em nós o medo, e
não o desconhecido. O desconhecido não pode ser percebido pelo
conhecido. Mas a mente, constituída que é do conhecido, diz: “Eu
acabarei” — e, por conseguinte, tem medo.
Ora, se você puder
viver a cada momento sem preocupações sobre o futuro; se puder viver sem
a ideia de “amanhã” (o que, entretanto, não implica a superficialidade
de ocupar-se meramente com o dia de hoje); se, cônscio do inteiro
“processo” do conhecido, você puder abandonar o conhecido, soltá-lo
completamente, verá então ocorrer uma coisa estupenda. Experimentará
isso um dia; coloque para o lado tudo o que você conhece, esqueça-o,
para ver o que acontece. Não transporte suas tribulações de dia para
dia, de hora para hora, de momento para momento; “solte-as” todas, e
você verá como, dessa liberdade, surge uma vida maravilhosa, que
incluirá tanto o viver como o morrer. A morte significa apenas o fim de
uma coisa — e nesse próprio findar há renovação.
Krishnamurti
"A morte não é a maior perda da vida.
A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos". (Picasso)
"A verdadeira questão não é se existe vida para além da morte... A verdadeira questão é se você está vivo antes da morte". (Osho)
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