SABEDORIA
Sabedoria, não se aprende de outros,
nem de livros.
"Muitas vezes, no intuito de ensinar, alguns instrutores vendem
ensinamentos de outros - sejam esses ensinamentos adquiridos através de
livros, palestras, cursos etc.- como se fossem seus. Ou seja, reproduzem
a experiência alheia, comportando-se como o autêntico experimentador.
Abriu mão da própria experiência, apropriou-se de um conhecimento de
segunda mão e passa a ensiná-lo. Nesse plágio, os ensinamentos passam de
mente em mente, como se viessem do último instrutor. Isso não passa de
viagens imaginárias. Só uma mente inocente e silenciosa é capaz de
absorver e expressar o inimaginável. Como estudantes e inquiridores de
nós mesmos, precisamos estar cônscios dessas manobras mentais na busca
da auto-afirmação e da segurança psicológica. Pois, essas coisas impedem
a reta percepção e o correto pensar."
"Podeis, pois, sem hesitação, lançar fora todos os livros sagrados, para
começardes de novo, porque eles, com seus intérpretes, seus instrutores
e gurus, não vos trouxeram nenhum esclarecimento. Sua autoridade, sua
disciplina compulsória, suas sanções, são absolutamente sem valor."
Pergunta: Que é sabedoria? É diferente do saber?
Que é saber? Por certo, o saber é o princípio acumulador que existe
em todos nós, e que é a memória. (…) Saber é um processo de
verbalização; e tudo aquilo que foi acumulado, e que é experiência,
memória, ou saber, nunca trará verdade.(1)
(…) A experiência, pois, é um
processo de reação da mente condicionada; e onde há o saber ou o acúmulo
de experiências, lembranças, palavras, símbolos, imagens, não pode
haver compreensão. Só pode surgir a compreensão quando estamos livres do
saber.(2)
Assim, pois, a compreensão não é o
resultado de acumulação, e sabedoria não é saber. A sabedoria é
independente do saber. (…) A sabedoria tem existência momento a momento,
ao passo que o saber nunca pode livrar-se do passado, do tempo. A
sabedoria é livre do tempo, (…). O homem que sabe pode não ser sábio,
porque o seu próprio conhecimento nega a sabedoria.(3)
A memória é experiência acumulada e o
que está acumulado é o que se sabe, e o que se sabe é sempre coisa
passada. Com essa carga de lembrança é possível descobrir-se (…) o
Atemporal? Não é necessário estarmos libertos do passado para que
possamos conhecer o Imensurável? (…) A sabedoria não é memória
acumulada, porém, antes, suprema receptividade para o Real.(4)
Se tenho um problema e desejo
realmente compreendê-lo, não devo aplicar-me a ele com a mente cheia de
preocupação e agitação. Tenho de fazê-lo com a mente livre; porque só a
mente passível, a mente vigilante, é capaz de compreensão. A mente que é
capaz de estar silenciosa está apta a receber a verdade. (…) A verdade é
totalmente nova, livre. A ela não podemos chegar-nos com idéias
preconcebidas, não é ela a experiência alheia.(5)
Sabedoria não é acumulação de
conhecimentos e experiência; a sabedoria não se adquire nos livros, (…).
Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que está
tranqüila encontrará o Atemporal, que é Imensurável, surgido na
existência.(6)
Sabedoria não é algo que se
experimente ou se encontre em algum livro. A sabedoria não é coisa que
se possa experimentar, (…) captar, acumular. Pelo contrário, a sabedoria
é um “estado de ser” em que não há acumulação de espécie alguma; não se
pode acumular sabedoria.(7)
Digo que a sabedoria não pode ser
comprada. A sabedoria não se encontra no processo de acumulação; não é o
resultado de inúmeras experiências; nem é adquirida pelo estudo. A
sabedoria, a vida mesma, só pode ser entendida quando a mente estiver
livre desse senso de busca, dessa procura de conforto, dessa imitação,
pois estes são apenas meios de fuga.(8)
A sabedoria não é uma coisa que
venha por meio de orientação, do seguir, por meio da leitura de livros.
Não podeis aprender a sabedoria de segunda mão; entretanto, é isto o que
estais tentando fazer. Assim, dizeis: “guiai-me, auxilai-me,
libertai-me”.(9)
O conhecimento nada tem que ver com a
sabedoria. A sabedoria não pode ser comprada; é natural, espontânea,
livre. Não é mercadoria que possais comprar de vosso guru, instrutor, ao
preço de disciplinas.(10)
Ora, confiamos demais no saber. O
homem que escreve um livro sobre a mente ou que disserta a respeito da
mente, aceitamo-lo como autoridade. Damos um nome ao seu pensamento, e o
esposamos. Nunca nos pomos a investigar o inteiro processo do nosso
pensar, para descobrirmos por nós mesmos. E é por isso que temos tantos
líderes, cada um fazendo valer a sua autoridade, e nos dominando. E pode
alguém lançar fora tudo isso e descobrir as coisas por si mesmo? Porque
(…) o saber é um obstáculo à compreensão.(11)
Se um homem deseja construir uma
ponte, para isso ele necessita, naturalmente, de saber, (…) de uma certa
capacidade técnica. Mas, pode-se ter de antemão o conhecimento, isto é,
a compreensão, de uma coisa viva? O que chamais “eu” é uma coisa viva,
da qual não se pode ter conhecimento prévio. Pode-se ter experiências a
ele relativas, ou conhecer o que outros disseram a seu respeito, mas se
um de nós se põe a examinar a si mesmo, com um conhecimento prévio,
nunca descobrirá o que é realmente.(12)
Com nossa busca de saber, com nossos
desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o
sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos tornando
cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria
não pode ser substituída pela erudição.(13)
Com nossa busca de saber, com nossos
desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o
sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos tornando
cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria
não pode ser substituída pela erudição.(13)
A erudição é necessária, a ciência
tem o seu lugar próprio; mas se a mente e o coração estão sufocados pela
erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma
explicação, a vida se toma vazia e sem sentido.(14)
O saber, o conhecimento de fatos,
embora em constante crescimento, é por sua própria natureza limitado. A
sabedoria é infinita, abarcando o saber bem como a esfera da ação; se
nos apoderarmos de um ramo, pensamos que temos a árvore toda. O
intelecto jamais nos levará ao todo, porque ele é apenas um segmento,
uma parte.(15)
Não é válida a experiência de outro
para a compreensão da realidade. Entretanto, as religiões organizadas,
no mundo inteiro, baseiam-se na experiência de outro, e, por
conseguinte, elas não estão libertando o homem, porém, ao contrário,
prendendo-o a um determinado padrão e instigando os homens uns contra os
outros.(16)
Sabeis, a maioria de nós deseja
adquirir sabedoria ou verdade por meio de outrem, mediante algo vindo do
exterior. Ninguém vos poderá transformar num artista; só vós próprios
podereis fazê-lo. É isto que desejo dizer: posso dar-vos tinta, pinceis e
tela, mas vós próprios tendes de vos tornar o artista, o pintor.(17)
Imaginais que qualquer sociedade ou
livro vos pode dar sabedoria? Livros e sociedades podem fornecer-vos
noções; (…). Se a sabedoria pudesse ser adquirida por meio de uma seita
ou sociedade religiosa, todos seríamos sábios, (…). A sabedoria, porém,
não se adquire por essa forma. A sabedoria é a compreensão do fluxo
contínuo da vida ou da realidade, e somente é aprendida quando a mente
está aberta e vulnerável, isto é, quando a mente não está mais
embaraçada pelos seus próprios desejos de auto-proteção, reações e
ilusões.(18)
Vamos averiguar o que entendeis por
sabedoria, (…). Podeis conhecer, ou adquirir a sabedoria, ou só é
possível conhecer fatos, e adquirir sapiência? Por certo, sapiência e
sabedoria são duas coisas diferentes. Podeis saber tudo a respeito de
uma coisa; mas será isso sabedoria?(19)
A sabedoria terá de ser adquirida
aos poucos, em vidas consecutivas? Sabedoria será acumulação de
experiência? Aquisição implica acumulação; experiência implica resíduo.
(…) Esse processo de acumulação será sabedoria (…) Pode o homem que sabe
ser sábio? O homem que sabe não é sábio, e o que não sabe é sábio.(20)
A acumulação, pois, nunca é
sabedoria, porquanto só pode haver acumulação daquilo que se conhece; e o
que se conhece não pode, nunca, ser o desconhecido.(21)
A verdade não pode ser acumulada.
Ela não é experiência. Ela é “experimentar” - em que não há
experimentador nem experiência. Conhecimento implica alguém que acumula,
que junta; (…) A sabedoria é como o amor; e, privados desse amor,
queremos cultivar a sabedoria.(22)
A sabedoria é sempre vigorosa,
sempre nova. Como se pode conhecer o novo, quando há continuidade? (…)
Só quando há findar, há o novo, que é criador. Mas queremos continuar
(…) e a mente em tais condições nunca pode conhecer a sabedoria. Pode
conhecer, apenas, a sua própria projeção, suas próprias criações. (…) A
verdade não pode ser procurada. A verdade só surge quando a mente está
vazia de todo conhecimento, todo pensamento, toda experiência; e isso é
sabedoria.(23)
Assim, perceber o processo integral
de nós mesmos é o começo da sabedoria. A sabedoria não é algo que se
possa comprar nos livros, (…) aprender de outras pessoas, (…) acumular
pela experiência.(24)
A experiência é simples memória; e a
acumulação de lembranças ou de conhecimentos não é sabedoria. A
sabedoria, sem dúvida, é o experimentar a cada momento, sem condenação
nem justificação; é a compreensão (…) de cada reação, de modo que a
mente vá ao encontro de cada problema por maneira nova.(25)
A erudição não é comparável com a
inteligência, erudição não é sabedoria. A sabedoria não é comerciável,
não é artigo que se possa comprar pelo preço de estudo e da disciplina.
Não se encontra sabedoria nos livros; não pode ser acumulada, guardada
ou armazenada na memória. A sabedoria vem pela negação do “eu”. Ter a
mente aberta é mais importante do que aprender (…). A sabedoria não pode
ser adquirida pelo temor e pela opressão, mas só pelo exame e pela
compreensão dos incidentes de cada dia, nas relações humanas.(26)
Uma vida primitiva não é uma vida
espiritual. O primitivo tem tanto medo como o chamado civilizado, e a
diferença é só que seus temores são mais rudimentares, mais
superficiais. Mas, em certo sentido, é necessário que o indivíduo
“sofisticado”, eminentemente culto, muito sabedor se torne primitivo.
Precisa tornar-se novo, “inocente”, morrer para todo o saber que
acumulou.(27)
A compreensão do “eu” é o começo da
sabedoria, e sabedoria não é reação. Só quando compreendo todo o
processo da reação, que é condicionamento, só então existe um centro sem
ponto, que é a sabedoria.(28)
Por conseguinte, o autoconhecimento é
o começo da sabedoria. A sabedoria não se compra nos livros; (…) não é
experiência; (…) não é a acumulação de nenhuma espécie de virtude, nem o
evitar o mal. A sabedoria só vem pelo autoconhecimento, pela
compreensão de toda a estrutura, de todo o processo do “eu”(29)
Assim, pois, o autoconhecimento é o
começo da sabedoria, e sem a sabedoria não pode haver tranquilidade.
Sabedoria não é sapiência. A sapiência é um obstáculo à sabedoria, à
revelação do “ego”, momento a momento.(30)
A sabedoria não tem autoridade; ela
vem à existência quando a mente começa a compreender as profundezas e
amplidões da sua própria natureza, sobre as quais não é possível
especular.(31)
Para descobrirmos o que é criador,
precisamos proceder de maneira nova. A mente deve estar vazia, livre de
todo saber, livre da memória. Só então existe a possibilidade de
relações de uma nova espécie, de um mundo novo.(32)
Não há caminho para a sabedoria. Se
algum caminho existe, então a sabedoria é coisa formulada de antemão, já
imaginada, conhecida. (…). A experiência e o saber, uma vez que são
contínuos, abrem um caminho para suas próprias projeções, e por isso são
sempre entraves. A sabedoria é a compreensão do que é, momento a
momento, sem acumulação de experiência e conhecimento. O que se acumula
não dá liberdade para compreender, e sem liberdade não há possibilidade
de descobrimento; (…). A sabedoria é sempre nova, sempre fresca, e não
há nenhum meio de a acumularmos. O meio destrói o que é novo, (…)
espontâneo.(33)
Vede, (…). Não interpreteis “sem
conhecimento” como um estado de ignorância. Ser “sem conhecimento” é
possuir a sabedoria; porque o conhecimento tem continuidade, e a
sabedoria não tem.(34)
A mente silenciosa - mas não
silenciada - só ela pode perceber o Imensurável. A solução do problema
(…) está na compreensão das relações; por conseguinte a meditação é o
começo do autoconhecimento e o autoconhecimento é o começo da sabedoria.
(…) Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que
está tranquila encontrará o Atemporal, que é o Imensurável, surgido na
existência. (…) A mente tem de ser induzida a recebê-lo de maneira nova,
de cada vez; e a mente que acumula saber, virtude, é incapaz de receber o eterno.(35)
Textos de Krishnamurti, extraídos de: Seleta de Krishnamurti
Fontes das citações: (1) Por que não
te Satisfaz a Vida, pág. 79 (2) Por que não te Satisfaz a Vida, pág.
80 (3) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 80 (4)O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág.178-179 (5) Nosso Único Problema, pág. 74 (6) Nosso
Único Problema, pág. 77 (7) Que Estamos Buscando?, 1ª Ed, pág. 217 (8)
Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 163-164 (9) Palestras na
Itália e Noruega, 1933, pág. 194 (10) Palestras em Adyar, Índia,
1933-1934,pág. 101-102 (11) Viver sem Temor, pág. 14 (12) Viver sem
Temor, pág. 14 (13) A Educação e o Significado daVida, 1ª ed, pág. 78
(14) A Educação e o Significado daVida, 1ª ed, pág. 78 (15) A Educação e
o Significado daVida, 1ª ed, pág. 79 (16) O Caminho da Vida, pág. 27
(17) Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 40-41 (18) Palestras no
Brasil, pág. 48 (19) Que Estamos Buscando?, 1ª ed, pág. 84-85 (20) Que
Estamos Buscando?, 1ª ed, pág. 85 (21) Que Estamos Buscando?, 1ª ed,
pág. 86 (22) Que Estamos Buscando?, 1ª ed, pág. 86 (23) Que Estamos
Buscando?, 1ª ed, pág. 86-87 (24) Viver sem Confusão, pág. 70 (25) Viver
sem Confusão, pág. 71 (26) A Educação e o Significado daVida, 1ª ed,
pág. 78 (27) O Homem eseus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 59 (28) Que
Estamos Buscando?, lª ed, pág. 215 (29) Viver sem Confusão, pág. 52
(30) O que te fará Feliz?,pág. 97 (31) Claridade na Ação, pág. 147
(32) Claridade na Ação, pág. 147 (33) Comentários sobre o Viver, pág.94
(34) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 29 (35) Nosso
Único Problema, pág. 77
FONTE DE EXTRAÇÃO: pensarcompulsivo
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