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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

COMPREENDENDO 
O PROCESSO TOTAL DA MEDITAÇÃO

Como você deve saber, há necessidade de nos libertarmos da ilusão, isto é, de nos libertarmos do poder que a mente tem de criar valores não reais em relação à vida, ao viver real. A mente possui um extraordinário poder de criar ilusões, por meio de crenças, de fugas, de dogmas. Ela “projeta” todo o gênero de padrões, alvos, ideais, por meio dos quais espera preencher-se e a essa identificação com algo dela própria “projetado” chama “tornar-se superior”. Ora, se não ficamos totalmente livres desse poder da ilusão e da atividade geradora da ilusão, nunca descobriremos o que é real, o que é verdadeiro, se há Deus, se algo existe de superior a esta nossa horrível e superficial existência. 

O autoconhecimento é a base da sabedoria e a sabedoria VEM SEMPRE SÓ, pois não pode ser adquirida por meio de livros e de citações alheias. A sabedoria é algo que tem de ser descoberto por cada um e não constitui um resultado do saber. O saber e a sabedoria não andam juntos. Surge a sabedoria na madureza do AUTOCONHECIMENTO. Sem autoconhecimento não é possível ordem e, por conseguinte, não há virtude.

Aprender a respeito de si mesmo e acumular conhecimento acerca de si são duas coisas diferentes. A mente que adquire saber jamais aprende. O que faz é só isso: acrescenta a si própria informações, experiência, na forma de conhecimento, e do fundo constituído por tais acumulações ela "experimenta" e então, nunca está realmente a aprender, porém, a tornar-se mais sabedora, a adquirir mais e mais. 
 
Aprender é sempre do presente ativo, não conhece o passado. Só a mente que não está ADQUIRINDO, porém sempre APRENDENDO, poderá compreender, em todos os seus aspectos, essa entidade chamada EGO. Tenho de conhecer a mim próprio, a estrutura, a natureza, o significado da entidade total; mas não é possível SE ESTOU REPLETO DE CONHECIMENTOS E EXPERIÊNCIA PREVIAMENTE ADQUIRIDOS, ou se minha mente ESTÁ CONDICIONADA, porque, então, não estou aprendendo, porém, meramente, interpretando, traduzindo, olhando com olhos empanados pelo passado.

Há enorme diferença entre saber e aprender. O saber tolhe a mente, ao passo que o movimento do aprender a liberta. Tenho de aprender continuamente sobre minha pessoa porque O QUE SOU é uma entidade extraordinária, VIVA. A todo instante ocorre uma mutação, uma grande variedade de sugestões, de reações, e tudo isso tenho de observar, de aprender. Mas, se estou observando com experiência e os conhecimentos PREVIAMENTE ADQUIRIDOS, não estou aprendendo. Espero que isso esteja mais ou menos claro.

O aprender a respeito de si mesmo — não só as próprias reações fisiológicas e todas as compulsões e exigências biológicas, mas também o movimento interno do próprio pensamento — é necessário, para que se possa estabelecer ordem. Só então pode começar a meditação. Como você sabe, há uma enorme quantidade de livros sobre meditação, e uma multidão de INSTRUTORES e INDIVÍDUOS SAGAZES que têm escrito como meditar, O QUE fazer.

A rotina de frequentar um escritório, de fazer e tornar fazer, interminável uma certa coisa agradável ou desagradável, o incessante ajustamento a um dado padrão — tudo se torna para nós muito cansativo e, por conseguinte, tratamos de buscar algo misterioso, algo extraterreno, de um outro mundo. Pensamos, pois, que, com isso que CHAMAMOS "meditação" — e que é uma das INVENÇÕES da Ásia — encontraremos essa coisa EXTRAORDINÁRIA, uma realidade não construída pela mente.

Ora, é muito importante compreender o que é meditação, porque na verdadeira meditação há grande beleza, uma grande intensidade, e só a mente que medita sabe o que é amor. Ordinariamente, não sabemos o que é amor.

Para estabelecermos a ordem interior necessitamos de atenção e de um percebimento DE TUDO O QUE SE PASSA, A CADA MOMENTO, DENTRO DE NÓS — sem rejeitar, sem fugir, porém, simplesmente PERCEBENDO TUDO, SEM ESCOLHA.  Observe a si mesmo, o movimento do seu próprio pensamento, note como ele é condicionado, perceba sua natureza, sua sutileza, seus antecedentes (seu fundo psicológico). Desse percebimento, em que não há escolha, provém, naturalmente a atenção. Nesse estado de atenção, não existe nenhuma entidade que está atenta: SÓ HÁ ATENÇÃO. Quando há atenção, nenhuma contradição existe, porque a mente atenta é capaz de concentrar-se sem nada excluir.

Você tem de compreender a estrutura externa da vida, estar em comunhão com ela, para, então, passar do exterior para o interior, a psique, aquele feixe de memórias que é você mesmo, com todos os seus condicionamentos, suas tradições, esperanças, medos, desesperos, ansiedades; e, para perceber essas coisas, a ela estar atento e, por conseguinte, dissolvê-las, não necessitamos do tempo. Quando assim procedemos, nossa mente se torna penetrante, clara, sutil, porque já não existe nenhuma contradição, nenhum esforço para ser ou "vir a ser". Contradição significa esforço. A mente que forceja para ser isto ou aquilo acha-se num estado de confusão; e todo e qualquer esforço que faça a fim de esclarecer-se, aprofundar-se, só produzirá mais escuridão, mais confusão.

 
Esse processo total é meditação.

 
Se estamos atentos, há um grande silêncio em nosso interior, não é verdade? Quando você está de fato escutando o que se está dizendo, com todo o seu ser — sem aceitar, sem traduzir, sem rejeitar, sem tentar compreender, porém simplesmente atento — sua mente se acha então extraordinariamente quieta, não é exato? Há um silêncio que não é artificial, que não foi criado pela vontade, pelo esforço. Vem esse silêncio quando se compreendeu toda a estrutura do EGO, e, onde há silêncio, há espaço. A mente que está em silêncio, tem espaço — só ela conhece a beleza que não é estímulo.
 
Esse processo, todo inteiro, é meditação. 

 


Krishnamurti

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