A MORTE DO VELHO
E O NASCIMENTO DO NOVO HOMEM
O instinto de dúvida sempre esteve
comigo... A dúvida sempre esteve comigo. Por isso, nenhum fanatismo,
nenhuma cegueira ou devoção a uma única religião em particular pode
acontecer. O resultado final de tudo isso foi que não cheguei a nenhuma
conclusão, e fiquei cheio de perguntas e dúvidas. Não havia nenhuma
resposta para nada. Qualquer resposta que houvesse pertencia aos outros,
e eu não podia confiar na resposta de ninguém. As respostas dos outros
só provocavam uma coisa em mim: o surgimento de cada vez mais perguntas.
A resposta de ninguém podia tornar-se a minha.
Assim, desde o começo, essa condição era perigosa, porque viver sem
nenhum objetivo era muito inseguro. Eu nem mesmo tinha certeza que
estava um palmo adiante, porque isso eu só podia vir a saber pelos
outros. A respeito do caminho já trilhado, a pessoa pode saber
positivamente, mas sobre o que está à frente do caminho e a pessoa não
trilhou, só se pode saber pelos outros. Por isso não havia nenhum
caminho claro para mim. Era tudo escuridão. Cada passo era dado na
escuridão — ambíguo e sem objetivo.
Minha condição era cheia de tensões, insegurança e perigo. Todos os meus
parentes e amigos consideravam-me rebelde e indisciplinado por causa
dessa condição. Lentamente as pessoas começaram a achar que eu era
louco, tal a situação.
Por menor que fosse a questão, havia dúvidas e nada além de dúvidas.
Ficavam apenas perguntas e mais perguntas sem nenhuma resposta. Na
opinião dos outros, tanto eu era bom quanto louco. Eu mesmo sentia medo
de enlouquecer. Não conseguia dormir a noite.
Durante a noite e o dia inteiro, as perguntas pairavam sobre mim. Não
havia resposta para nada. Eu estava em alto mar, sem nenhum barco ou
praia onde quer que fosse. Se havia algum barco, eu mesmo o negava e o
afundava. Havia muitos barcos e muitos marinheiros, mas eu me recusava a
entrar no barco de quem quer que fosse. Sentia que era melhor afundar
do que entrar no barco de outro. Se era para isso que a vida estava me
levando, para afundar a mim mesmo, então sentia que esse naufrágio
também deveria ser aceito.
A minha condição era de total escuridão. Era como se eu tivesse caído no
fundo de um poço escuro. Naquela época eu sonhava muitas vezes que
estava caindo, caindo, e entrava cada vez mais num poço sem fundo. E
muitas vezes acordei de um sonho transpirando muito, todo molhado,
porque a queda era infinita, sem nenhum chão ou lugar que pudesse apoiar
meus pés.
Não havia mais nada além da escuridão e da queda, mas aos poucos fui
aceitando até isso. Senti muitas vezes que precisava concordar com
alguém, devia me segurar em alguma coisa ou aceitar alguma resposta. Mas
isso não estava de acordo com minha natureza. Nunca fui capaz de
aceitar o pensamento de ninguém.
Inevitavelmente, aconteceu também de não haver mais lugar dentro de mim
para nenhum pensamento. Agora eu percebo que todas as minhas respostas
nada mais eram que pensamentos. Se existem apenas perguntas, a pessoa
deixa de pensar.
Uma conclusão é um pensamento. Se não há conclusões, automaticamente
cria-se um vácuo. Eu não sabia disso nessa época, mas uma espécie de
vazio, um oco, surgiu por conta própria. Muitas perguntas ficavam
girando. Mas por não haver respostas, elas desapareciam por exaustão e
morriam. Eu não conseguia as respostas, mas as questões eram
destruídas.
Um dia surgiu uma condição inquestionável. Não que eu tenha recebido as
respostas — não! Em vez disso, todas as questões caíram por terra e
criou-se um grande vazio. Essa foi a SITUAÇÃO EXPLOSIVA. Viver assim era
tão bom quanto morrer. E ASSIM MORREU A PESSOA QUE FAZIA PERGUNTAS.
Depois dessa experiência do vazio, não questionei mais nada. Todos os
assuntos onde as perguntas pudessem ser levantadas deixavam de existir.
Antes, eram só perguntas e mais perguntas. Daí em diante, não restou
mais nada que se assemelhasse a uma pergunta.
Agora não tenho perguntas e nem respostas. Se alguém levanta uma
questão, a resposta é a que vem do meu vazio interior. Não posso dizer
que a resposta seja minha porque nunca tive nenhum pensamento sobre ela.
Não li a resposta antes. Também estou ouvindo a resposta pela primeira
vez, ao mesmo tempo que o ouvinte. Assim como ele ouve pela primeira
vez, eu também ouço. Não que eu seja o orador e ele o ouvinte, não que
eu esteja dando e ele recebendo. A resposta vem, e nós dois somos
ouvintes, ambos a recebemos.
Por isso, se minha resposta amanhã for diferente da que estou dando
hoje, não sou responsável por isso porque não dei resposta alguma. O
mesmo vazio de onde ela veio é responsável pela mudança. Não posso fazer
nada. Portanto, você pode achar que sou inconsistente. Eu só poderia
ser inconsistente se "eu" estivesse respondendo. Se há alguma
inconsistência, é por causa desse vazio dentro de mim. Desde aquela
experiência, nem eu fiz qualquer pergunta, nem vislumbrei qualquer
resposta. Nessa explosão, o velho de ontem morreu. Este homem é
absolutamente novo.
Aqui, muitas pessoas pedem que eu escreva minha autobiografia. É
muito difícil porque aquele sobre quem eu escreveria não sou eu. Tudo o
que sei agora não tem estória. Não existe estória após a explosão; não
há nenhum evento. Todos os eventos são anteriores à explosão. Depois
dela há apenas vazio. Tudo o que existiu não sou eu e não é meu.
O S H O
Sempre me questionei a respeito de tudo... o que lia, o que experimentava me trazia sempre perguntas... Interrogava-me: como posso viver assim? Observava as pessoas ao meu redor e elas seguiam sempre alguma coisa ou alguém. Eu realmente tentei seguir, estive até em um centro espiritual e lá passei algum tempo... mas não consegui ficar. Até que li esse testemunho de Osho. Puxa! Que alívio! A única realidade que existe é a mudança. Mudamos a cada instante, por isso aquelas respostas de ontem não condiz mais com as de hoje. Estou esperando a 'explosão' acontecer comigo. KyraKally
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