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quarta-feira, 24 de junho de 2015

O IMPORTANTE ESTADO DE PERCEPÇÃO

Estar consciente constitui um extraordinário estado da mente. Escutem o movimento de seus próprios pensamentos — não os controlem, não os moldem, não digam "isto está certo, isto está errado". Apenas movam-se com eles. Esta é a percepção na qual não existem preferência nem condenação, nem juízos, nem comparação ou interpretação — apenas simples observação. Isso torna suas mentes altamente sensíveis. Do momento em que dão nome, vocês regrediram, suas mentes voltam a estar maçantes: porque é isso o que vocês estão acostumados a fazer.


Neste estado de percepção existe atenção: não controle, não concentração. Há atenção. Vocês estão atentos a seus próprios pensamentos e sentimentos e ao movimento que existe nessa atenção. Vocês estão atentos de uma forma abrangente, sem barreiras, não apenas conscientemente, mas também inconscientemente. O inconsciente é mais importante, de maneira que vocês têm que inquirir o inconsciente.


 Não estou empregando a palavra inconsciente como uma palavra técnica ou como uma técnica. Não o estou usando no sentido em que os psicólogos o fazem, mas como aquilo de que vocês não estão conscientes. Porque a maioria de nós vive na superfície da mente: indo para o escritório, adquirindo conhecimento ou dominando uma técnica, brigando e assim por diante. Nunca prestamos atenção às profundezas de nosso ser, que resulta de nossa comunidade, dos resíduos raciais, de todo o passado — não somente no que diz respeito a vocês, como seres humanos, mas também ao homem, às ansiedades do homem. 


Quando vocês dormem, tudo isso se projeta como sonho e então entra em cena a interpretação desses sonhos. O sonho, para o homem que está alerta, acordado, vigilante, consciente, atento, o sonho, para o homem que escuta, transforma-se numa coisa absolutamente desnecessária.


Agora, essa atenção requer uma tremenda energia; não a energia que vocês adquiriram através da prática, do celibato e tudo o mais — essa energia é toda feita de ambição. Estou me referindo à energia do autoconhecimento. Pelo fato de vocês terem lançado os alicerces certos, deriva disso a energia necessária para estarem atentos, na qual não existe o senso de concentração. Concentração é exclusão se vocês se concentram, apenas resistem, excluem. Mas a mente que está atenta pode se concentrar e não excluir.


Assim, desta atenção surge um cérebro que está quieto. As próprias células cerebrais são quietas — não por terem sido forçadas a ficarem quietas, a serem disciplinadas, por terem sido obrigadas, por terem sido brutalmente condicionadas, mas porque toda essa atenção se concretizou naturalmente, espontaneamente, sem esforço, facilmente, as células cerebrais não se perverteram, não endureceram, não calejaram, não se brutalizaram. 


Espero que vocês estejam acompanhando tudo isso. A menos que as células cerebrais estejam extraordinariamente sensíveis, alertas, cheias de vida, não endurecidas, não machucadas, não sobrecarregadas, não especializadas num determinado setor do conhecimento, a mesmo que estejam extraordinariamente sensíveis, não podem estar quietas. Então, o cérebro precisa estar quieto e ao mesmo tempo sensível a cada reação, estar consciente de toda música, de todo ruído, dos pássaros, precisa estar apto a ouvir estas palavras, a admirar o pôr-do-sol — sem sofrer qualquer pressão, qualquer tensão, qualquer influência. O cérebro precisa estar muito quieto porque sem quietude — não induzida, não suscitada artificialmente — não pode haver clareza.


E a clareza só pode chegar quando há espaço. Vocês terão espaço no momento que o cérebro estiver absolutamente quieto e no entanto extraordinariamente sensível, não amortecido. E é por isso que o que vocês fazem o dia todo é tão importante. O cérebro é brutalizado pelas circunstâncias, pela sociedade, pelo trabalho, pela especialização, pelos seus trinta ou quarenta anos trancados em um escritório, se acabando brutalmente — tudo isso destrói a extraordinária sensibilidade do cérebro. E o cérebro precisa estar quieto. A partir daí, toda a mente, na qual o cérebro está incluído, é capaz de ficar absolutamente quieta. Esta mente quieta não está mais buscando, não está mais aguardando a experiência — não está experimentando nada mesmo.


Depois a mente se torna absolutamente quieta, sem sofrer nenhum tipo de pressão, de compulsão. Essa quietude não é uma coisa produzida pelo pensamento, porque o pensamento cessou, toda a máquina do pensamento chegou ao fim. O pensamento precisa cessar, caso contrário gerará mais imagens, mais ideias, mais ilusões — mais, mais e mais. Portanto, vocês precisam compreender todo esse mecanismo do pensamento — não como deixar de pensar. Se entenderem todo o mecanismo do pensamento, que é a resposta da memória, associação e reconhecimento, denominação, comparação, julgamento — se vocês entendem isso, ele cessa naturalmente. Quando a mente está completamente quieta, nessa quietude existe um movimento bem diferente.


Esse movimento não é um movimento criado pelo pensamento, pela sociedade, pelo que vocês leram ou não leram. Esse movimento não pertence ao tempo, à experiência, porque esse movimento não tem experiência. Para uma mente quieta não existe experiência. Uma luz que está ardendo com muito brilho, que é forte, não precisa de mais nada, é uma luz para si mesma. Esse movimento não é um movimento voltado a nenhuma direção, porque direção implica tempo. Esse movimento não tem causa, porque qualquer coisa que tenha causa produz um efeito e esse efeito se transforma em causa e assim por diante — numa cadeia interminável de causas e efeitos. De forma que inexiste, mesmo, efeito, causa, motivo, senso de experimentação. Pelo fato da mente estar absolutamente quieta, naturalmente quieta, pelo fato de vocês terem lançado os alicerces, ela está diretamente relacionada com a vida, não divorciada da vida cotidiana.


Se a mente chegou a esse ponto, esse movimento é criação. Então não existe mais ansiedade de expressar, porque a mente que está em estado de criação pode expressar ou não. Esse estado mental que reina nesse completo silêncio se moverá, executará seu próprio movimento rumo ao desconhecido, rumo ao que é inominável.


Portanto, a meditação a que nos referimos não é a meditação que vocês fazem. A meditação de que falamos parte da eternidade para a eternidade porque vocês lançaram os alicerces não no tempo, mas na realidade.
 


Jiddu Krishnamurti





Viver no mundo sem pertencer ao mundo é a real meditação. Observar, desapegar e amar incondicionalmente são as atitudes que devem nos guiar. Os tropeços, as quedas nada mais são que alertas de lições ainda não aprendidas. Ferir-nos nos espinhos porque ainda não aprendemos a chegar às flores. Viver a temporalidade da vida sabendo que a eternidade é o conjunto maior da Existência. Com a prática do amor e o coração cada vez mais puro e inocente elevaremos a nossa vibração e... um dia... quando não tivermos mais nenhuma expectativa... estaremos cada vez mais unidos aos mistérios do Universo. KyraKally

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