Translate

segunda-feira, 15 de junho de 2015

COMO FAZER VOCÊ SABER...?

Como fazê-lo saber?
Como fazê-lo saber que sempre há tempo?
Que só se tem que buscá-lo e se dar.
Que ninguém estabelece normas a não ser a vida.
Que a vida sem certas regras perde a forma.
Que a forma não se perde ao nos abrirmos.
Que nos abrirmos não é amar indiscriminadamente.
Que não é proibido amar.
Que também se pode odiar.
 

Como fazê-lo saber que ninguém estabelece
normas salvo a vida?!…

 

Que o ódio e o amor são afetos.
Que a agressão porque sim, fere muito.
Que as feridas se fecham.
Que as portas não devem se fechar.
Que a maior porta é o afeto.
Que os afetos nos definem.
Que definir-se não é remar contra a corrente.
Que não quanto mais forte se faz o traço mais se desenha.
Que buscar um equilíbrio não implica ser fraco.
Que negar palavras implica abrir distâncias.
Que se encontrar é muito bonito.
Que o sexo faz parte do que é belo na vida.
 

Como fazê-lo saber que ninguém estabelece
normas salvo a vida?!…

  
 Que a vida parte do sexo.
Que o porquê das crianças tem um porquê.
Que querer saber de alguém não é apenas curiosidade.
Que querer saber tudo de todos é curiosidade doentia.
Que nunca é demais agradecer.
Que a autodeterminação não é fazer as coisas sozinho.
Que ninguém quer estar sozinho.
Que para não estar sozinho é preciso dar.
Que para dar devemos receber antes.
Que para que nos deem também é preciso saber como pedir.
Que saber pedir não é regalar-se.
Que regalar é definitivamente não querer.

Como fazê-lo saber que ninguém estabelece
normas salvo a vida?!…


 Que para que nos queiram devemos mostrar quem somos.
Que para que alguém seja é preciso ajudá-lo.
Que ajudar é poder alentar e apoiar.
Que adular não é ajudar.
Que adular é tão pernicioso como virar a cara.
Que as coisas cara a cara são honestas.
Que ninguém é honesto porque não rouba.
Que o que rouba não é ladrão por prazer.
Que quando não há prazer nas coisas, não se está vivendo.
Que para sentir a vida não é preciso esquecer 
que existe a morte.
Que se pode estar morto em vida.
 

Como fazê-lo saber que ninguém estabelece
normas salvo a vida?!…


 Que se sente com o corpo e a mente.
Que com os ouvidos se escuta.
Que custa ser sensível e não se ferir.
Que ferir não é sangrar.
Que para não sermos feridos levantamos muros.
Que quem semeia muros não colhe nada.
Que quase todos somos construtores de muros.
Que seria muito melhor construir pontes.
Que sobre elas se vai ao outro lado e também se volta.
Que voltar não implica retroceder.
Que retroceder pode ser também avançar.
Que não é por muito avançar que se amanhece 

mais perto do sol.

Como fazê-lo saber que ninguém estabelece normas, 
salvo a vida?!…




Mario Benedetti

Nenhum comentário:

Postar um comentário