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segunda-feira, 29 de junho de 2015

O BUDA REBELDE
- Parte III -


Imagine que olhamos para a nossa mão, 
certo dia, e reparamos que ela está fechada, 
formando um punho. Está segurando algo tão vital 
que não conseguimos largar. O punho está tão fechado 
que a mão chega a doer. A dor na mão viaja até o braço 
e a tensão se espalha pelo corpo. E isso segue por anos a fio.

Às vezes, tentamos tomar uma aspirina, 
assistir à televisão ou saltar de paraquedas. 
A vida segue, um dia esquecemos o que era tão importante 
e, então, a mão se abre: não há nada ali. 
Imagine a surpresa.

O Buda ensinou que a causa raiz de nosso sofrimento — a ignorância — é o que dá surgimento a essa tendência
 de agarrar. A questão que deveríamos nos colocar é: 
“A que estou me agarrando?” 
Deveríamos olhar bem fundo esse processo 
para ver se realmente há algo ali.

De acordo com Buda, estamos nos agarrando a um mito. 
É só um pensamento que repete “eu” tantas vezes,
 que cria um eu ilusório, tal como um holograma 
que tomamos por sólido e real.
 
A cada pensamento, a cada emoção, esse “eu” 
aparece como o pensador e também como aquele
 que vivencia, e ainda assim é apenas outra fabricação 
da mente. É um hábito muito antigo, tão arraigado 
que esse próprio agarrar se torna também, 
ele próprio parte da nossa identidade. 
Se não estivéssemos nos agarrando 
a esse pensamento de eu, poderíamos sentir 
que algo muito familiar — como um amigo próximo — 
está faltando e, assim, uma dor crônica
 repentinamente desapareceria.

Como se segurássemos um objeto imaginário, 
nosso agarramento ao eu não nos ajuda muito. 
Ele apenas nos dá dores de cabeça e úlceras,
 e logo desenvolvemos muitos outros tipos de sofrimento 
com base nele. Esse “eu” passa a defender a todo custo
 os próprios interesses, porque imediatamente percebe 
um “outro”. E, no instante em que temos o pensamento 
de “eu” e “outro”, o drama de “nós” e “eles” se desenvolve.

Tudo acontece em um piscar de olhos: 
agarramos o lado do “eu” e decidimos se o “outro” 
está a nosso favor, contra nós ou se não faz diferença.
Enfim, estabelecemos as nossas intenções: 
com relação a um objeto, sentimos desejo 
e o queremos atrair; com relação a outro, 
sentimos medo e hostilidade e o queremos repelir;
 e com relação a mais um outro objeto, somos indiferentes 
ou apenas o ignoramos. Dessa forma, o nascimento 
das nossas emoções e dos nossos julgamentos neuróticos 
é resultado de nosso agarramento ao “eu” e ao “meu”.

No fim, não estamos livres nem mesmo 
frente aos nossos próprios julgamentos. 
Admiramos algumas de nossas qualidades e logo 
nos inflamos todos, desdenhamos outras qualidades e criticamos a nós mesmos, e assim ignoramos boa parte 
da dor que realmente sentimos, totalmente engajados 
nessa luta interna para sermos felizes com quem somos.
Por que persistimos nisso, quando nos sentiríamos 
melhor e mais relaxados se simplesmente soltássemos? 
A verdadeira natureza da nossa mente 
está sempre presente, mas, por não enxergá-la, 
acabamos nos apegando ao que conseguimos 
ver e tentando fazer dela algo que não é.

Complicações desse tipo parecem ser o único jeito 
que o ego tem para se manter, isto é, criando um labirinto
 ou uma sala de espelhos para nos confundir. 
Nossa mente neurótica se torna tão revolta 
e enredada que fica difícil para nós 
rastrearmos o que ela está fazendo.

Investimos nesse grande esforço 
apenas para nos convencer de que encontramos 
algo sólido dentro da natureza insubstancial de nossa mente: uma entidade separada e permanente — 
algo que podemos chamar de “eu”. 
Ainda assim, ao fazer isso, estamos indo na contramão 
da verdadeira natureza das coisas, da realidade. 
Estamos tentando congelar a experiência, criar algo sólido,
tangível e estável com algo que não tem essa natureza.
 É como pedir ao espaço que ele se torne terra 
ou para a água que se torne fogo. 

Pensamos que abandonar esse pensamento de um “eu” 
é uma loucura, pensamos que a nossa vida 
depende desse pensamento.
Mas, na verdade, a nossa liberdade 
depende de nós o abandonarmos.
 


Dzongchen Ponlop




São tantos conceitos, tantas definições que nos sentimos perdidos... praticamos um, não dá certo... praticamos outro, é uma encruzilhada, voltamos ao ponto de partida. Somos seres únicos dentro desse conjunto Universo, então cada um deve encontrar seu modo de ser e realizar em si a divindade. Naturalmente que é válido examinar as experiências dos outros, e muito mais importante é observar a si mesmo. Observar a vida e 'extasiar-se' com ela é uma grande liberdade de ser, porém agir com a vida requer uma grande responsabilidade; teríamos que perguntar sempre, a cada ação, se aquele movimento traria um efeito positivo para todos os envolvidos. Quanto mais estivermos no mundo sem pertencer ao mundo, apenas sendo viajantes, observadores, amantes incondicionais,  fraternos e conscientes de nossas atitudes, estaremos iniciando nossa verdadeira jornada com sabedoria e justiça. KyraKally

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