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quinta-feira, 4 de junho de 2015

A LIBERDADE É PERIGOSA 
PARA O HOMEM

Estudante: Diz o senhor que a liberdade é perigosa 
para o homem. Por que motivo?

 Krishnamurti: Porque é perigosa? Você sabe o que é a sociedade?

Estudante: É um grande número de pessoas 
a ditar-nos normas de procedimento.

 Krishnamurti: É isso mesmo. Mas é também a cultura, os costumes, os hábitos de determinada comunidade; a estrutura social, moral, ética, religiosa em que o homem vive, eis o que se chama geralmente de sociedade. Porém, se cada indivíduo dessa sociedade agir como lhe aprouver, ela o considerará um elemento perigoso. Se vocês fizessem o que quisessem aqui, na escola, o que aconteceria? Representariam um perigo para o próprio colégio, não concordam? As pessoas em geral não gostam que os outros sejam livres. O homem realmente livre, não com relação às ideias, mas interiormente liberto da avidez, da ambição, da inveja, da crueldade, é considerado pelos demais como um ser perigoso, por diferir totalmente do indivíduo comum. Então, a sociedade o adora ou o aniquila, ou lhe demonstra indiferença.


  Estudante: Disse o senhor que a liberdade e a ordem nos são necessárias, mas como alcança-las?

 Krishnamurti: Antes de tudo, vocês não devem depender de outrem; não esperem que alguém lhes dê liberdade e ordem — nem pai, nem mãe, nem marido, nem mestre. Consiga-as vocês mesmos. Esta é a primeira coisa que precisam compreender: não peçam nada a ninguém, exceto alimentos, roupa e abrigo. É inútil rogar, ou apelar para quem quer que seja, seus gurus, seus deuses. Ninguém pode proporcionar-lhes liberdade ou ordem. Por conseguinte, compete-lhes criar ordem em si próprios. Isso significa que vocês mesmos devem pesquisar e descobrir o que é ser virtuoso. Sabem o que é virtude — ter moralidade, ser bom. Virtude é ordem. Assim, cumpre descobrirem, individualmente, como serem bondosos, afáveis, solícitos. E é dessa solicitude, desse zelo, que procede a ordem, e, portanto, a liberdade. Vocês dependem de outros para dizer-lhes o que devem fazer, isto é, não olharem pela janela, serem pontuais, serem bondosos. Porém, se disserem: “olharei pela janela quando quiser, mas, ao estudar, toda a minha atenção será consagrada ao livro”, criarão ordem dentro de si, independentemente da orientação alheia.


  Estudante: Que ganhamos em ser livres?


Krishnamurti: Nada. Se nos preocuparmos com o que vamos ganhar, na realidade, estamos pensando em termos de negócio. Vou fazer isto e, em troca, dê-me alguma coisa. Sou bondoso com você porque me convém. Mas isso não é bondade. Enquanto nos preocuparmos apenas com o ganho, não seremos livres. Se você pensar: “Se eu obtiver liberdade, poderei fazer isto ou aquilo”, isso não será liberdade. Não pensem, pois, em termos de utilidade. Se o fizer, eliminará completamente a possibilidade de ser livre. A liberdade só existe quando a temos sem nenhum objetivo. Não amamos uma pessoa porque ela nos dá alimento, roupa ou abrigo, pois isto não é amor.


Costumam passear sozinhos? Ou saem sempre com outras pessoas? Se às vezes andam sós, terão então a oportunidade de conhecer-se, de saber o que pensam, o que sentem, o que é virtude, o que desejam ser. Descubram-no. E vocês não poderão compreender-se se estiverem sempre falando, a passear com os amigos e continuamente acompanhados. Sentem-se quietos sob uma árvore, mas sem nenhum livro. Apenas olhem as estrelas, o céu límpido, os pássaros, o contorno das folhas. Observem a sombra. Acompanhem o pássaro atravessando o céu. Em solitude, tranquilos, sentados sob uma árvore, começarão então a compreender a mente em atividade e a importância de frequentar as aulas.
  
Krishnamurti — Ensinar e Aprender



Suponho que não existe conceito para a liberdade. Talvez liberdade para a maioria seja liberar-se das responsabilidades. Será que é assim? Quanto mais irresponsabilidade mais liberdade? Quiça seja uma condição individual. Somos uma humanidade muito heterogênea, então a liberdade está relacionada com a medida que cada um tem sobre ela?  Ou não é possível medir a liberdade? Creio que aqueles que amam incondicionalmente estão mais livres das condições impostas pela sociedade. Caminham com tolerância e responsabilidade. Espelham-se na sabedoria espiritual e na justiça divina. Possivelmente estes, dentre a maioria, sejam os mais libertos. KyraKally

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