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sábado, 30 de maio de 2015

 AUTOILUSÃO: NOSSA CONSTANTE 
TRAVE DE TROPEÇO

A auto-ilusão é um perigo constante à medida que avançamos por um caminho espiritual. O ego está sempre tentando alcançar a espiritualidade. É como se quiséssemos assistir o nosso próprio enterro. No começo, por exemplo, podemos nos aproximar de nosso amigo espiritual com a esperança de conseguir dele alguma coisa maravilhosa. A esta aproximação dá-se o nome de "caça ao guru", tradicionalmente comparada à caça do veado almiscareiro. O caçador persegue o veado, mata-o e dele retira o almíscar. Poderíamos adotar essa atitude para com o guru e a espiritualidade, mas isso não passaria de autoilusão. Nada teria a ver com uma abertura ou entrega verdadeira. 

Podemos também supor erroneamente que a iniciação significa transplante, a transplantação do poder espiritual dos ensinamentos, do coração do guru para o nosso. Esta mentalidade encara os ensinamentos como algo estranho a nós. Essa atitude para com o processo de iniciação é muito sonhadora e não tem nada de válido. Por isso necessitamos de alguém que esteja pessoalmente interessado em nós como realmente somos, necessitamos de uma pessoa que represente o papel de espelho. Toda vez que estivermos envolvidos com algum tipo de autoilusão, é preciso que o processo todo seja revelado. Qualquer atitude de apego deve ser exposta. 

A verdadeira iniciação dá-se pelo "encontro de duas mentes". É uma questão de sermos o que efetivamente somos e de nos relacionarmos com o amigo ou amiga espiritual tal como ele ou ela é. Esta é a verdadeira situação em que a iniciação pode ocorrer, porque a ideia de nos submetermos a uma operação e de nos modificarmos de maneira fundamental é completamente irreal. Ninguém pode, na verdade, modificar, de maneira absoluta, nossa personalidade. Ninguém pode virar-nos completamente de ponta-cabeça ou pelo avesso. Temos que usar o material existente, o que já está aí. Precisamos aceitar-nos como somos e não como gostaríamos de ser, o que significa renunciar a auto-ilusão e o faz de conta. Toda a nossa constituição e as características de nossa personalidade precisam ser reconhecidas, aceitas; depois talvez possamos encontrar alguma inspiração. 

Nesse momento, se manifestamos a disposição para trabalhar com nosso médico, internando-nos num hospital, o médico, de sua parte, colocará à nossa disposição um quarto e tudo o mais que se fizer necessário. Assim, ambos os lados estão criando uma situação de comunicação aberta, que é o significado fundamental do "encontro das duas mentes. "Este é o verdadeiro modo de unir a bênção, a essência espiritual do guru, à nossa própria essência. O mestre exterior, o guru, abre-se, e, porque o discípulo também está aberto - porque está "desperto", verifica-se o encontro dos dois elementos, que são idênticos. Este é o verdadeiro significado da iniciação. Não se trata de entrarmos para um clube ou fazermos parte de um rebanho: sermos uma ovelha com as iniciais do dono marcadas no traseiro. 

Com a experiência do encontro das duas mentes, estabelecemos uma comunicação verdadeira com nosso amigo espiritual. Não só nos abrimos como também vivenciamos — como um clarão — uma súbita intuição, um entendimento instantâneo de parte dos ensinamentos. O mestre criou a situação, nós experimentamos  o clarão, e tudo parece muito bem. 

Falando de modo geral, o que sucede é que, depois que nos abrimos, que temos um "clarão", num segundo momento, percebemos que estamos abertos e a ideia de avaliação aparece subitamente. "Oba! Fantástico! Tenho que pegar uma coisa destas, tenho que capturá-la e conservá-la, porque é uma experiência muito rara e valiosa."Assim, procuramos agarrar-nos à experiência e aí começam todos os problemas — com a consideração de que a experiência verdadeira da abertura é algo valioso. Tão logo tentamos capturar a experiência, toda uma série de reações em cadeia se inicia. 

Auto-ilusão significa tentar recriar reiteradamente uma experiência passada, em vez de vivenciar o fato a experiência no momento presente. Para viver a experiência agora, teríamos de desistir da avaliação, da maravilha que foi o clarão, pois é esta lembrança que a mantém à distância. Se tivéssemos a experiência continuamente, ela pareceria bastante corriqueira, e é esta fato que não podemos aceitar. "Se ao menos eu pudesse ter outra vez aquela experiência de abertura!" É assim que nos conservamos ocupados em não ter a experiência: recordando-a. Este é o jogo da auto-ilusão. 

Enquanto você olha para si mesmo ou para qualquer parte de sua experiência como o "sonho que virou realidade", estará envolvido com auto-ilusão. A auto-ilusão parece depender sempre do mundo dos sonhos, porque você preferiria ver o que ainda não viu a ver o que está vendo agora. Não aceita que o que está aqui agora seja o que é, nem está disposto a continuar com a situação tal qual ela é. Assim, a auto-ilusão sempre se manifesta sob a forma de tentativas de criar ou recriar um mundo sonhado, a nostalgia da experiência de sonhar. E o oposto da auto-ilusão é simplesmente trabalhar com os fatos da vida. 

Se procurarmos qualquer tipo de alegria ou felicidade plena, a realização de nossa imaginação e de nossos sonhos, então ficaremos, igualmente, sujeitos a insucesso e depressão. Tudo se resumo nisto: o medo da separação, a esperança de alcançar a união, não são simplesmente manifestações ou ações do ego ou da auto-ilusão, como se o ego fosse, de algum modo, uma coisa real que praticasse determinadas ações. O ego são as ações, os eventos mentais. 

Portanto, a verdadeira experiência, que está além do mundo dos sonhos, é a beleza, as cores e o entusiasmo da experiência real do agora na vida cotidiana. Quando enfrentamos as coisas tais como são, abandonamos a esperança de algo melhor. Não há mágica alguma, porque não podemos mandar que saiamos da nossa depressão. Depressão e ignorância, seja qual for a emoção que experimentamos, todas são reais e contém verdades extraordinárias. Se quisermos, de fato, aprender a ver a experiência da verdade, teremos de estar onde estamos. Tudo é apenas uma questão de ser um grão de areia. 

 

Chögyam Trungpa 




Quando realizamos a experiência da unicidade com tudo e com todos, sentimo-nos discriminados por todos aqueles que ainda estão presos na teia da auto-ilusão. É uma consequência natural, pois consentimos e compreendemos que uma mudança, em nós,  se fazia urgente e necessária, a qual nos impulsionou um salto quântico na espiral evolutiva e, quando isso acontece, tudo em nossa volta se transforma também, as energias que atraímos com a nova vibração despendem o aroma do amor incondicional que a tudo abarca, não podemos mais ser exclusivos, só podemos ser inclusivos, atitude incompreensível para o ser ainda animado pela posse e o egoísmo - não despertaram para o verdadeiro viver como fizemos. Sejamos, pois, compassivos com os nossos irmãos, lembremo-nos de quando fomos egoístas e possessivos; essas atitudes não esquecemos, pois reforçam cada vez mais novas mudanças em nosso viver. KyraKally

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