MOMENTOS COM KABIR
De que me servem as palavras,
Se o amor embebedou-me o coração?
Se envolvi o diamante com meu manto,
Por que desfaria o embrulho?
Quando sua carga era leve,
O prato da balança se erguia.
Agora, que o prato está cheio,
Qual a necessidade de pesar?
O cisne que pousou no lago
Buscaria outra vez a poça d’água?
Se o Senhor está dentro de ti,
Para que abrir os olhos?
Kabir diz: Escutai, ó irmãos!
Aquele que roubou meu olhar agora vive comigo.
Conta-me, ó Cisne, tua velha história.
De onde viestes? Para onde vais?
Em que margem pousarás para descansar?
A qual meta entregastes o coração?
Esta é a manhã da consciência!
Voemos juntos! Desperta! Segue-me!
Há um lugar livre da dúvida e da tristeza,
Onde o terror da morte não impera.
Lá, florescem bosques em eterna primavera,
E sua fragrância faz avançarmos mais e mais.
Imerso nela, o coração, qual abelha, se inebria.
Imenso nela, já não quer outra alegria.
Ó Sadhu!
Ouve minhas palavras imortais.
Para teu próprio benefício, considera-as bem.
Tu te afastaste do Senhor, da árvore na qual floresceste.
Afastando-te, perdeste o senso. Perdendo o senso,
compraste a morte.
Todos os saberes, todos os ensinamentos provém dele.
De quem mais?
Se tens isto por certo, o que há para temer?
Então, nada teme.
Qualquer nome que invoques nomeia o Sem Nome.
Entende isto e livra-te do ardil das palavras.
Ele habita o coração de todas as coisas.
Por que, então, se refugiar no deserto desolador?
Se pões o Senhor longe de ti, o que reverencias é a distância.
Se o Senhor não está perto, quem é, então,
que sustenta este mundo?
Kabir diz: Por que sofres com a dor da separação,
se Ele te preenche?
Conhece-te a ti mesmo, ó Sadhu, e o conhecerás integralmente.
Pois, dos pés à cabeça, não há nada em ti que não seja Ele.
Canta com alegria e o sentirás em teu coração.
Lá, onde reina a eterna primavera,
Onde o Som Não Percutido soa por si só,
Onde a Luz Imaculada preenche o espaço todo;
Lá, onde milhões de Bramas leem os Vedas,
Onde milhões de Vishnus inclinam suas cabeças,
Onde milhões de Shivas imergem em contemplação;
Lá, onde milhões de Krishnas sopram suas flautas,
Onde milhões de Saraswatis dedilham as douradas vinas,
Onde a miríades de deuses, anjos e iluminados
vivem contentes;
Lá, nessa outra margem que poucos alcançam,
Nessa praia distante, meu amado Senhor se desvela,
E o odor de flores e pasta de sândalo perfuma esse confim
Ó asceta,
Como é difícil renunciar a Maya!
Quando renunciei ao lar,
Apeguei-me às roupas.
Quando renunciei às roupas,
Apeguei-me aos farrapos.
Renunciei à paixão,
E inflamei-me com a raiva.
Renunciei à raiva,
E enregelei-me com a avidez.
Quando venci a avidez,
Enchi o peito de orgulho –
Minha mente ainda presa
Na vaidade da renúncia.
Apenas quando a mente se aquietou,
Foi que enfim pude sorrir para Maya.
Antigas memórias e nova concentração
Fundiram-se então em minhas palavras.
Kabir diz: Escutai, meus bons irmãos!
Somente um em um milhão resolveu este mistério.
Ó coração!
O que sabes dos segredos desta cidade?
Na ignorância chegaste; na ignorância partirás.
Ó companheiro!
O que fizeste da vida que te foi dada?
Colocaste sobre a cabeça um saco de pedras,
E esperas por alguém que te alivie o peso;
Teu Amigo te aguarda na outra margem do rio,
Mas nunca pensaste em como alcançá-lo;
Teu barco quebrou, continuas sentado cais,
E perdes teu tempo inquietando-te com as ondas.
O servo Kabir te pede que considere:
A quem recorrerás no último instante?
Estarás só e colherás os frutos que semeastes.
Ó amigo, pensa bem! Se amas, por que dormes?
Se O achaste, por que não te entregas completamente?
Se queres mantê-Lo em teu coração, por que
O deixas escapar?
Por outro lado, se o sono te pesa nos olhos,
por que perdes teu tempo
Alisando os lençóis e ajeitando os travesseiros?
Kabir diz: Falo-te das coisas do amor!
Se, por amor, deves entregar a cabeça,
o que esperas?
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