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terça-feira, 26 de março de 2019

TRECHOS BUDISTAS
 
 
O sofrimento permeia a existência cíclica como o óleo permeia as sementes de gergelim. Como o óleo, a completa infiltração do sofrimento não é sempre aparente, especialmente em fases onde o prazer predomina e as coisas parecem ir bem. Entretanto, da mesma forma que o óleo se torna evidente quando as pequenas e duras sementes são trituradas e espremidas, também o sofrimento latente é diretamente experimentado quando nossas camadas de pretensões egoístas se arrebentam sob a opressão da existência cíclica.
 Por que é assim? A resposta é que estamos sujeitos ao carma, a lei inexorável de causa e efeito. A questão que, logicamente, se segue é: O que causa o carma? A causa raiz do carma são os venenos da mente. Nossa mente é basicamente confusa porque não reconhecemos sua natureza absoluta. Na falta deste conhecimento, deslizamos para um estrutura errônea, que é a dualidade.
 De início nos agarramos a um “eu” que percebe e a um “objeto” que é percebido. Vendo o objeto, definimos seu tamanho, forma e cor. Depois o julgamos: “Isto é bonito. É feio. Gosto disso. Não gosto disso. Isso me faz feliz. Isso me faz infeliz”. Finalmente, sentimos apego ou aversão: “Quero isso. Não quero isso”. É aí que começa o sofrimento.
 
Como a causa para todo sofrimento, ela tem sua raiz na ambição e no desejo. Se ambição e desejo forem eliminados, ele não vai ter lugar para habitar. Eliminar todo o sofrimento — isso é chamado de a terceira lei. Por essa lei, a lei da extinção, alguém pratica o caminho. E quando alguém escapa dos laços do sofrimento, isso é chamado conquista da emancipação. Por que meios uma pessoa pode conquistar emancipação? Separando-se da falsidade e ilusão — isso já pode ser chamado de emancipação.
 
O inferno e o céu, na verdade, não estão tão longe um do outro. Entender isso é um pouco capcioso, já que a experiência do céu é muito diferente da do inferno. Mas isso ganha sentido se considerarmos o exemplo de uma substância simples como a água. Para os humanos, a água é crucial para a manutenção da vida; para os peixes, é o seu meio ambiente; para os deuses mundanos, uma substância semelhante à ambrósia; para os fantasmas famintos, sangue e pus; para os seres dos infernos, lava derretida. Não é que a substância em si varie de um caso para outro, mas, sim, que se modifica a percepção e a experiência que seres diferentes têm dela. Da mesma forma que nossa visão se altera quando pomos óculos com graus diferentes, nossa experiência da realidade é inteiramente condicionada por nossa percepção, a qual é determinada pela extensão dos nossos enganos e fantasias.

Havia uma vez um velho pastor que a cada verão ia com a família ao alto de uma determinada montanha para criar seus carneiros e iaques. Muitas pessoas passavam pela tenda da família e o pastor sempre perguntava-lhes para onde se dirigiam. Invariavelmente respondiam: “vamos ver Dodrupchen Rinpoche e receber a transmissão direta dos três versos”.
Em um verão, o velho decidiu que ele também iria ver o lama. Perguntou a uma família que passava se poderia se juntar a ela, e as pessoas concordaram que fosse junto. Assim, ele partiu, deixando para trás todos os seus carneiros e iaques.

Quando chegaram à casa do lama, o velho, sem saber o que fazer e nada tendo a pedir ao lama, dirigiu-se à cozinha, recebeu um pouco de comida e esperou por ali. Nesse ínterim, a família solicitou e recebeu do lama um ensinamento curto e em seguida partiu de volta à casa.
 O velho ficou naquele lugar por três anos, ajudando na cozinha em troca de comida, tornou-se como que um membro da familia dos que ali trabalhavam. Durante todo esse tempo, ele nunca se encontrou o lama.
Um dia, os cozinheiros pediram ao velho que levasse chá ao lama. Pela primeira vez ele entrou na sala do mestre. Quando o lama o viu, exclamou: “Atsi! Atsi! Na ka ru rakshe treng ua dra shig yin!”, que quer dizer: “Minha nossa! Minha nossa! Seu nariz é como uma semente de rudraksha!”. De fato, o nariz do velho era muito grande e rugoso. O velho pensou consigo: “Então é isso. Finalmente recebi do lama a transmissão dos três versos!”.
Ele retornou à sua aldeia, entoando dia e noite, “Atsi! Atsi! Na ka rakshe treng ua dra shig yin”, contando as recitações em seu rosário.
As pessoas da aldeia passaram a ter grande fé nele porque, afinal de contas, havia ficado com o lama por três anos. Elas imaginavam que ele, agora, seguramente deveria ter qualidades extraordinárias. Sempre que ficavam doentes, tinham alguma dor ou inchação, iam se avistar com ele. O velho soprava sobre a parte afetada e elas saravam. Ele se tornou bem famoso por toda a região.
Certo dia, nasceu no pescoço de Dodrupchen Rinpoche um furúnculo que cresceu tanto que quase o sufocava. Muitos médicos tentaram tratá-lo, mas nada se mostrava eficaz. Uma pessoa que estava de visita, vindo da região do velho, disse ao lama:


“Um de seus alunos mora perto de nós. Ele pode curá-lo”.
 “Quem é ele?” perguntou o lama.
 

“Um velho que passou três anos com o senhor”.
 

“Não me lembro dele, mas diga-lhe que venha me ajudar”.
 

Imediatamente alguém foi enviado para buscar o velho. “Você tem que vir agora mesmo”, disseram-lhe, “o lama está precisando de ajuda”.
 

O velho disse, “O lama me deu a transmissão dos três versos. Eu vou tentar ajudá-lo”. 

Antes que o velho chegasse, uma almofada muito bonita foi disposta para ele sentar, um sinal de grande respeito. Assim que ele entrou no aposento, o lama viu o nariz e se lembrou do velho pensando: “Como é que esse aí vai poder me curar?”. 

Lentamente, com concentração unidirecional, o velho começou a entoar, “Atsi! Atsi!…”. O lama caiu na gargalhada, o furúnculo estourou e ele sarou.

A sabedoria substitui a ignorância em nossas mentes quando realizamos que a felicidade não consiste em acumular mais e mais sensações prazerosas. Essa busca por gratificação não traz o sentimento de totalidade ou de algo completo. Ela simplesmente leva a mais procura e mais aversão. Quando realizamos em nossa experiência que a felicidade não vem de buscar algo mas de se deixar levar, não de procurar experiências de prazer mas de se abrir no momento para o que é verdadeiro, essa transformação do entendimento então libera a energia da compaixão dentro de nós. Nossas mentes não mais estão limitadas a afastar a dor e agarrar o prazer. A compaixão se torna a resposta natural de um coração aberto. 

‘Ó, bem, a morte acontece com todo mundo. Não é nada demais, é natural. Estarei bem.’
 
Essa é uma boa teoria, até que se esteja morrendo.”
 
“Se eu morrer esta noite dormindo, o que fiz do meu dia? Que fiz com a minha vida? Fui de algum benefício ou causei algum dano? Algumas vezes não é tão agradável ver o quão auto-centrado e egoísta você tem sido, o quão focado no “eu, meu”. Quando quer que tenha sido este o caso, você criou um carma que, em última análise, impele a mente numa direção difícil no momento da morte. É como a movimentação para frente. Se você põe algo em movimento, ele continua a ir naquela direção. Se a sua mente tem se movido através de um curso negativo, quando você morrer ela continuará exatamente no caminho pelo qual ela tem se movido o tempo todo.”
 
“… Isto que a vida é — só um momento, um encontro, uma passagem, e então se vai. Se você entende isso, não há tempo para luta. Não há tempo para discussão. Não há tempo para ferirem uns aos outros. Quer você pense em termos de humanidade, nações, comunidades ou indivíduos, não há tempo para nada menos do que verdadeiramente apreciar a breve interação que temos uns com os outros.”
 
 http://darma.info/
 

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