REVENDO ANTIGAS POSTAGENS
INVESTIGUE, NÃO SIGA
Primeira Parte
Tendes que ser "impiedosos" com vós mesmos e viver no "verdadeiro estado de investigação". A menos que vos investigueis profundamente, em vosso interior, não tendes possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. Ninguém vos pode levar a esse descobrimento - ninguém! - e, tampouco, nenhum sistema.
A verdade não é uma coisa estática, que fica à vossa espera, enquanto seguis um sistema uniforme, enquanto praticais dia a dia um certo método, enquanto aprimorais a vossa mente e o vosso coração para alcançar aquele estado a que chamais "a verdade".
A Verdade não espera por vós!
Não procureis um caminho, um método. Não há métodos nem caminho para a verdade. Não procureis um caminho, mas tornai-vos apercebidos do obstáculo. O apercebimento não é apenas intelectual; é simultaneamente mental e emocional; é
a plenitude da ação. Então, nessa chama de apercebimento, todos esses
obstáculos se desmoronam porque os penetrastes. Então podereis perceber
diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A vossa ação será
assim oriunda da plenitude e não da insuficiência da segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização do eterno.
Só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que alcançou a madureza não segue caminho algum, seja o caminho dos Adeptos, seja o caminho do saber, da ciência, do devotamento ou da ação.
O homem que foi posto num determinado caminho não está amadurecido e não encontrará, jamais, o Eterno, o atemporal... Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem interesses adquiridos, interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a razão porque achamos tão difícil o amadurecer; como nos será possível abandonar aquilo que estamos apegados há cinquenta ou sessenta anos?...
Mas,
vós vos entregastes a uma organização, da qual sois presidente,
secretário ou simples membro... O homem que se entregou a um determinado
caminho ou norma de ação, está preso a sistemas, e não encontrará a Verdade.
Através da parte nunca se encontra o todo. Através
de uma estreita fenda da janela, não podemos ver o céu, o céu
maravilhoso e brilhante, só pode ver com clareza o céu o homem que está
de fora, longe de todos os caminhos, de todas as tradições, e nesse homem há esperanças...
Aquele que deseja descobrir a verdade, o real, o eterno, cumpre que abandone todos os livros, sistemas, "gurus", pois aquilo que deseja achar só encontrará quando compreender a si próprio. É a Verdade que liberta; não o meio, ou o sistema.
Só a Verdade pode nos libertar. A compreensão apenas pode vir quando não estamos seguindo alguém, quando não existe a autoridade de espécie alguma - seja a autoridade da tradição, seja a autoridade dos livros, do guru, da nossa própria experiência. Nossa experiência é resultado de nosso condicionamento, e tal experiência não pode nos ajudar a descobrir o que é a Verdade.
Visto que a nossa mente está, em geral, narcotizada pelas ideias de outras pessoas e pelos livros, como também está constantemente a repetir o que outros disseram, tornamo-nos repetidores e não pensadores.
Se citais o Bhagavad-Gita, ou a Bíblia, ou os livros sagrados chineses, por certo não fazeis mais do que repetir. Não achais? E o que repetis não é a Verdade. É uma mentira, pois a Verdade não pode ser repetida. Uma mentira pode ser ampliada, encarecida e repetida, mas a Verdade não
pode; e enquanto repetis a Verdade, deixa ela de ser a Verdade, e por
isso são destituídos de importância os livros sagrados, uma vez que
através do autoconhecimento, através de vós mesmos, podeis descobrir o eterno.
Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, encontra-se
em todas as coisas. Portanto, a ideia de que necessitais progredir em
direção a realidade, é uma ideia falsa. Não se pode progredir na direção
de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não têm ela futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranquilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno.
Para mim a realização desta verdade é a finalidade do homem.
Algumas pessoas vão à Índia, mas não sei por que fazem isso: a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade não é uma fantasia. A verdade está onde você está. Não em algum país estrangeiro, mas onde você está. A verdade é o que você está fazendo, como está se comportando. Está aí, não nas cabeças raspadas e naquelas bobagens que os homens têm feito.
Os que desejam deveras descobrir a Verdade relativa aos seus problemas, devem, naturalmente, por à margem tudo quanto é autoridade. Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos cheios de temor. Precisamos de alguém para nos escorar, para
nos dar coragem; precisamos do "irmão mais forte" - aquele que mora na
Rússia, ou na Inglaterra, ou na América, ou do outro lado do Himalaia,
ou "ali na esquina". Todos precisamos de alguém para ajudar-nos.
Enquanto estivermos encostados em alguém, nunca chegaremos a compreender o "processo" do nosso pensar; negaremos, assim, a nós mesmos, o descobrimento da Verdade.
Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da Verdade. Cada um de nós deseja submeter-se a algum padrão; porque a submissão é mais fácil do que a vigilância. A submissão a padrões representa a base de nossa existência social, pois temos medo de estar sós. O temor e a renúncia ao pensar acarretam a aceitação e a submissão, a aceitação de autoridade. Tal como acontece com o indivíduo, assim também acontece com o grupo, com a nação.
A Realidade só pode manifestar-se quando a mente percebe o seu próprio processo, percebe o quanto está condicionada e livre do seu próprio processo de reconhecimento. Só então há possibilidade de a mente ficar tão tranquila que seja capaz de receber aquilo que é a Verdade.
A Verdade é atemporal. Não depende do tempo. Por consequência, não pode ser aprendida e guardada para uso, ou lembrada e seu nome repetido. A Verdade é criadora. É ela sempre nova e a mente nunca pode compreende-la.
A verdade não está longe de nós. Ela se acha à nossa frente, só
temos de saber olhá-la. A mente cheia de preconceitos, conclusões,
crenças, não tem nenhuma possibilidade de vê-la; um dos nossos piores
preconceitos é o processo analítico. Percebendo isso, o abandonareis. E,
uma vez abandonado, ele não tornará a enredar-vos; nunca mais pensareis com propósitos de ascensão, de repressão, de resistência, porque tudo isso está implícito na análise.
Para
descobrir o que é verdadeiro, ou qual a finalidade da vida, ou para
achar a verdade relativa a reencarnação ou qualquer problema humano,
aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a
verdade, precisa estar absolutamente certo de suas intenções.
Se estas consistem em procurar segurança ou conforto, evidentemente
ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais
devastadoras e desconfortáveis para quem procura segurança ou
conforto. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de abrir-se às perturbações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.
Krishnamurti
http://ventosdepaz.blogspot.com
Será
que realmente estamos dispostos a encontrar a Verdade ou estaremos o
tempo todo sendo engolidos pela atração e beleza da planta carnívora
?(sociedade)
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