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terça-feira, 5 de março de 2019

TENDES QUE VOS TORNAR
PERFEITAMENTE SIMPLES



... Esforçar-me-ei por tornar certas generalidades perfeitamente claras, e, quando houverdes compreendido estas generalidades, podereis traduzi-las na prática por vós mesmos. Haveis de verificar ser este método muito mais útil, muito mais real do que se eu vos estivesse indicando em detalhe como devereis viver.

A memória é o resultado de uma ação incompleta; isto é, se não viverdes plenamente no presente, concentradamente, completamente, dar-se-á a resistência da memória, a reflexão sobre o passado e o pensar sobre o futuro. Assim, a mente cria por si própria um sistema que a todo o instante busca seguir e perde, por esse modo, a concentração acurada, a vigilância da liberdade.

A realização da Verdade não pode ser buscada por meio da evolução, ou pela ideia de progresso. Se houver o desejo de conseguir algo, vosso esforço se desperdiçará, e somente estareis progredindo no sentido da aquisição, o que nada mais é do que desejo. É somente penetrando as camadas do eu-consciência, as camadas do desejo, que podeis chegar à plenitude da Vida, a essa beatitude da Verdade.


Pergunta: Parece que nos falais de intuição como sendo um sinônimo da Vida. No geral, julgamos a intuição como a verificação de um fato, de uma verdade, sem o processo de raciocínio — algo que sabemos, dentro de nós próprios, ser verdade. Entendeis ser isto meramente a intuição pessoal, não a intuição da Vida? Que é a intuição da Vida em si mesma?

Krishnamurti: Tomemos como exemplo a intuição daquilo que chamais reencarnação. Intuitivamente sentis que deve ser assim, que vida após vida haveis de voltar à terra afim de colher mais experiências, maior compreensão, mais sabedoria, até chegardes à perfeição da própria Vida. Haveis ouvido referências ou tendes lido coisas a respeito desta ideia e pelo fato de ela corresponder ao vosso interior, dizeis ser a voz da intuição, quem vo-lo afirma. Porém, isto não é intuição. Ponderai e verificareis que nada mais é do que a satisfação pessoal do prolongamento de vós próprios. Isto vos proporciona felicidade, o pensar que na próxima vida voltareis à existência; isto vos lisonjeia, isto vos dá uma solução, um confortável adiamento das coisas e por isso a aceitais. Eu não me preocupo sobre se a reencarnação é ou não um fato; para mim, isso não tem importância. A satisfação pessoal que denominais intuição, absolutamente, não é intuição. A intuição, a percepção instantânea das coisas não é, em tempo algum, coisa pessoal. Para conhecer a própria essência da Vida, a mente necessita de estar liberta de todos os desejos, portanto, liberta de toda personalidade, do ego, da individualidade. Esta penetração, esta compreensão instantânea do valor supremo, é intuição, que não deve ser confundida com impulso pessoal.

Intuição é o intenso apercebimento emocional, no qual o pensamento se completa. Ora, se descobrirdes o desejo, camada após camada, se perfurardes a individualidade — o que não é a vã consecução do êxito, porém uma continua penetração do pensamento na plenitude da emoção — então chegareis àquilo que pode ser denominado intuição, e que não é a mera aceitação de uma ideia atraente. Em toda a questão que profundamente vos perturbe, o que é que fazeis? Não consultais pessoas, jogando com ideias, ponderais vosso problema até que o pensamento se complete pela emoção e esta seja a vossa solução. Essa determinação não é vontade. A vontade é pessoal. Quando o desejo impele a mente para a consecução transforma-se em vontade. Vontade nada mais é do que o reconhecimento consciente do ego que causa a resistência. Na intuição, não há em absoluto resistência nem vontade, porém sim, essa capacidade de percepção instantânea que é sabedoria.

Intuição é o apercebimento no qual cessa toda a distinção, portanto, toda resistência. O entendimento instantâneo que é sabedoria, só advém quando a mente começa a repelir uma por uma as camadas da eu-consciência, da individualidade. Existe a Vida e existe a ilusão do eu-consciência; quando houverdes atravessado a ilusão, então vivereis esta Vida. Nesse viver, não mais existe esforço contínuo, consecução ou progresso. Quisera que experimentásseis isto e vísseis como opera automaticamente, porém, para isso perceberdes, tendes que sofrer uma mudança completa, tendes que ficar inteiramente sós, completamente vós mesmos. O entendimento da Vida eterna não é um feitio intelectual ou um artifício que possais aprender de outrem ou de mim. É somente quando começais a expulsar, camada por camada, dos muitos desejos que possuis, que se manifesta o contentamento da sabedoria.


Pergunta: Falais de apercebimento emocional. Também dizeis que pensamento e amor são uma coisa só e vós próprios não sabeis se estais pensando quando amais ou amando quando pensais. Porque, pois, fazeis distinção entre apercebimento emocional e apercebimento mental?

Krishnamurti: Vós pensais separadamente da emoção; não pensais com sentimento. A reação vos faz pensar, porém, não ousais pensar por completo nesse apercebimento emocional de que falo, porque, se o fizésseis, serieis forçados a afrouxar todos as amarras que vos prendem. Tendes que vos tornar perfeitamente simples, inteligentes.

Quando estiverdes inteiramente livres da distinção entre pensamento e emoção como sendo funções separadas, então não haverá apercebimento mental nem emocional; será o apercebimento perfeito no qual a mente e o coração estarão em unidade como um só. No apercebimento, cessa toda distinção. A distinção pessoal na ação, somente desaparece pelo pensamento no completar-se a si próprio pelo apercebimento emocional; isto é, por meio da perfeita harmonia da mente e do coração.

 
Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com
 
 
"Seja comum, seja simples, seja você quem for. Não há necessidade de ser importante, a única necessidade é de ser real. Ser real é existencial, ser importante é viagem do ego". Uma afirmação muito sábia de Osho. A simplicidade é algo extraordinário, então sejamos extraordinários, pois como diz Osho "a única pessoa extraordinária é aquela que não tem desejo de ser extraordinária, que está completamente à vontade com a sua simplicidade".
 
 

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