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quinta-feira, 28 de março de 2019

A PERFEITA SIMPLICIDADE 
DO MOMENTO



Costuma acontecer bastante de, em qualquer coisa que estejamos fazendo — sentando, andando, levantando ou deitando –, a mente frequentemente é desconectada da realidade imediata e, no lugar disso, fica absorvida em conceitualização compulsiva sobre o o futuro ou o passado.

Enquanto estamos andando, pensamos sobre a chegada, e quando chegamos, pensamos na partida. Quando estamos comendo, pensamos sobre a louça e quando lavamos a louça, pensamos em ver televisão.

Essa é uma maneira bizarra de manter a mente. Não estamos conectados com a situação presente, mas estamos sempre pensando em outra coisa. Com muita frequência somos consumidos por ansiedade e desejo, arrependimentos sobre o passado e antecipação do futuro, perdendo completamente a perfeita simplicidade do momento.

B. Alan Wallace, em “Tibetan Buddhism from the Ground Up”.
 
 

Há uma antiga história zen: um discípulo disse para o Mestre Ichu: “Por favor, me escreva algo de grande sabedoria”. Mestre Ichu pegou seu pincel e escreveu uma palavra: “Atenção”. O estudante disse: “Isso é tudo?”. O mestre escreveu: “Atenção, atenção”. …

Por “atenção” nós podemos usar a expressão “estado desperto”. Atenção ou estado desperto é o segredo da vida, ou o coração da prática. … Cada momento da vida é absoluto em si mesmo. É tudo que existe. Não há nada além do presente momento; não há passado, não há futuro; não há nada além disto. Então quando não prestamos atenção a “isto”, perdemos todo o quadro. E o conteúdo “disto” pode ser qualquer coisa.

“Isto” pode ser ajustar nossas almofadas de meditação, cortar uma cebola, visitar alguém que não gostaríamos de visitar. Não importa o conteúdo do momento, cada momento é absoluto. É tudo que existe e tudo que existirá para sempre. Se pudéssemos prestar atenção total, nunca nos irritaríamos. Se estamos irritados, é axiomático que não estamos prestando atenção. Se perdemos não apenas um momento, mas um momento depois do outro, então estamos com problemas.
 
Charlotte Joko Beck, Nothing Special: Living Zen
 

Lembro-me de uma curta conversa entre o Buda e um filósofo da época. “Tenho ouvido dizer que o budismo é uma doutrina de iluminação. Qual é seu método? O que vocês praticam todo dia?”

“Nós andamos, comemos, nos lavamos, sentamos.”

“O que há de tão especial nisso? Todo mundo anda, come, se lava e senta… “

“Senhor, quando andamos, estamos conscientes de que estamos andando; quando comemos estamos conscientes de que estamos comendo… Quando os outros andam, comem, se lavam ou sentam, geralmente não estão atentos para o que estão fazendo.”

Thich Nhat Hanh, em “Zen Keys”
 
 
A vida é como um piquenique em uma tarde de domingo — ela não dura muito tempo. Só olhar o sol, sentir o perfume das flores ou respirar o ar puro já é uma alegria. Mas se tudo o que fazemos é ficar discutindo onde pôr a toalha, quem vai sentar em que canto, quem vai ficar com o peito ou a coxa do frango…, que desperdício! Mais cedo ou mais tarde o tempo fecha, a tarde cai e o piquenique acaba. E tudo o que fizemos foi ficar discutindo e implicando uns com os outros. Pense em tudo que se perdeu.

Você pode estar se perguntando: se tudo é impermanente, se nada dura, como pode alguém viver feliz? É verdade que não podemos, de fato, agarrar ou nos segurar às coisas, mas podemos usar esse conhecimento para olhar a vida de modo diferente, como uma oportunidade muito breve e rara. Se trouxermos à nossa vida a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos ver que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e teremos maior apreciação por tudo aquilo que já desfrutamos.

Também seremos mais pacientes. Vamos compreender que, por pior que as coisas possam parecer no momento, as circunstâncias infelizes não podem durar. Teremos a sensação de que seremos capazes de suportá-las até que passem. E com maior paciência seremos mais delicados com as pessoas a nossa volta. Não é tão difícil manifestar um gesto amoroso quando nos damos conta de que talvez nunca mais estaremos com a nossa tia-avó. Por que não deixá-la feliz? Por que não dispor de tempo para ouvir todas aquelas histórias antigas?

Chegar à compreensão da impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira prática espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa a transformação em nossa mente e em nosso ser.

Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais. Não precisamos sair de casa nem dormir em uma cama de pedras. A prática espiritual não requer condições austeras — apenas um bom coração e a maturidade de compreender a impermanência. Isso nos fará progredir.
 
Chagdud Tulku Rinpoche, em "Portões da Prática Budista"


 Fonte: http://darma.info 
 

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