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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O LIVRO DA VIDA


Segunda Parte


O próximo capítulo diz: enquanto você estiver funcionando centrado, rumo à periferia, tem de haver contradição. Isto é, enquanto estiver agindo de forma autocentrada, egoística, egocêntrica e personalisticamente, restringindo a totalidade dessa vida imensurável a esse pequeno “eu”, você inevitavelmente criará desordem. O “eu” é algo muito pequeno, criado pelo pensamento. O pensamento, o nome, a forma, a estrutura psicológica e a imagem que ela construiu de si mesma, dizem: “Eu sou alguém”. Enquanto existir atividade autocentrada, tem de haver contradição, tem de haver desordem. E o livro diz: não pergunte como não ser autocentrado. Quando você pergunta como, você está pedindo um método. Se você segue o método, essa é outra forma de atividade autocentrada. O livro está dizendo a você tudo isso, não eu. O orador não está traduzindo o livro. Estamos lendo-o juntos. Enquanto você pertencer a qualquer seita, grupo, religião, estará obrigado a criar conflito. Isso é difícil de engolir porque todos nós acreditamos em alguma coisa. Você acredita em deus, outro não; outro acredita no Buda, outro em Jesus, e o Islã diz existir alguma outra coisa. Assim, a crença produz divisão no relacionamento entre as pessoas. Não há necessidade alguma de crença quando você está unicamente preocupado com fatos – fato sendo aquilo que está realmente acontecendo em seu livro.


Então surge o problema de como ler o livro, se você está separado dele. Quando pega um romance ou uma novela de suspense, você lê como alguém de fora, virando as páginas, na companhia de toda excitante história, e assim por diante. Mas aqui o leitor é o livro. Ele o está lendo como se estivesse lendo uma parte de si mesmo; não está lendo um livro qualquer. O livro também diz que o homem tem vivido sob a autoridade – política, religiosa, do líder, do guru, do homem que sabe, do intelectual, do filósofo. Sempre se conformou com um padrão de autoridade. Por favor, escute muito cuidadosamente o que o livro está dizendo: existe a autoridade da lei – existe a autoridade do policial, de um governo eleito, do ditador. Não estamos falando desse tipo de autoridade. Estamos lendo a respeito da autoridade que a mente busca com o propósito de sentir-se segura.

A mente está sempre buscando segurança. O livro diz: quando você está buscando segurança psicológica, está inevitavelmente criando autoridade – a autoridade do sacerdote, da imagem, do home que diz: “Sou iluminado, vou esclarecê-lo”. Assim o livro diz: livre-se de todo esse tipo de autoridade; o que significa: seja uma luz para você mesmo. Não dependa de ninguém para a compreensão da vida, para a compreensão desse livro. Para ler esse livro não deve haver ninguém entre você e ele – nenhum filósofo, nenhum sacerdote, nenhum guru, nenhum deus, nada. Você é o livro que está lendo. Portanto, deve haver libertação da autoridade do outro, seja a do marido ou a da esposa. Isso significa ser capaz de fica sozinho.

O livro diz: você discutiu, leu o primeiro capítulo sobre a desordem, a ordem e a autoridade. O próximo diz: vida é relacionamento; relacionamento em ação. Não somente com aqueles de quem é intimo: você está relacionado com toda a humanidade. Você é semelhante ao resto dos seres humanos, onde quer que eles vivam, porque eles sofrem, você sofre, e tudo o mais. Psicologicamente, você é o mundo e o mundo é você. Portanto, você tem tremenda responsabilidade. Então o livro diz no capítulo seguinte: o homem tem vivido com medo desde tempos imemoriais – medo, não somente da natureza, do ambiente, da doença, de acidentes e assim por diante, mas também as muito profundas camadas de medo, as profundas, inconscientes, inexploradas ondas de medo. Vamos ler o livro juntos até o capítulo e terminar e dizer: “Observe o medo e você será capaz de pôr fim a ele”. O livro outra vez pergunta, na página seguinte: que é medo? Como ele surge, qual a sua natureza? Por que o homem não resolveu o problema? Por que vive com ele? Acostumou-se a ele? Aceitou-o como forma de vida? Por que o homem, o ser humano, não solucionou o problema para que a mente seja totalmente livre do medo? Enquanto houver medo, você viverá na escuridão. E se sua adoração resultar dessa escuridão, ela será absolutamente sem sentido.

É muito importante penetrar mais fundo na natureza do medo. Como surge o medo? Da lembrança de coisas passadas – lembrança de alguma dor, de alguma coisa que você fez, que não devia ter feito; uma mentira que contou, não quer que seja descoberta e teme que o seja; uma ação que corrompeu sua mente. Você pode estar com medo daquela corrupção, daquela ação? Ou pode estar com medo do futuro, de perder um emprego, ou de não se tornar cidadão proeminente em um quintalzinho qualquer. Temos inumeráveis formas de medo. As pessoas têm medo do escuro, da opinião pública, da morte, de não se realizar – o que quer que isso signifique. E há o medo da doença; a pessoa pode ter muita dor física que fica registrada na mente e ela tem que volte. Assim o livro diz: siga em frente, leia mais; o que é medo? É ele criado pelo pensamento? É ele criado pelo tempo? Estou saudável agora, mas quando envelhecer ficarei doente e isso me assusta. Isso é tempo. Ou o pensamento diz: algo pode me acontecer, posso perder o meu emprego, ficar cego, perder minha esposa, o que quer que seja. É essa a raiz do medo? – o livro está perguntando. Assimvocê diz: vire a página e descobrirá a resposta você mesmo; não o orador. O livro diz que o pensamento e o tempo são fatores do medo. Que pensamento é tempo.

A página seguinte pergunta: é possível à mente humana, a você que está lendo o livro que é você mesmo, ser completamente livre do medo, de tal forma que não haja mais o leve sopro de medo? O livro diz novamente: não peça um método. Métodos significam repetição, um sistema; o sistema que você inventar não dissolverá o medo, porque então você estará seguindo um sistema e não compreendendo a natureza do medo. Portanto, não busque um sistema, mas simplesmente compreenda a natureza do medo. Ele interroga: o que você quer dizer por compreender? Ou você compreende a construção verbal e o significado da palavra, o que é uma forma especifica de atividade intelectual, ou você vê a verdade. Quando você enxerga a verdade, então a coisa desaparece. Quando enxergar claramente, por si próprio, que o pensamento e o tempo são fatores do medo, não como uma afirmação verbal, mas como uma parte de você mesmo – em seu sangue, em sua mente, no seu coração, que o tempo é o fator – então verá que o medo não tem mais lugar, somente o tempo. Porque o medo foi criado pelo tempo. E pelo pensamento. Tenho medo do que possa acontecer, tenho medo de minha solidão. Nunca examino minha solidão – o que ela significa – mas tenho medo dela, o que significa que fujo dela; mas essa solidão é a minha sombra, ela me persegue. Não se pode fugir da própria sombra. Do mesmo modo, se você tiver a paciência da observação, que não é fugir, mas observar, olhar, escutar, ouvir o que o livro está dizendo, ele dirá que o tempo é o fator, não o medo; por isso você tem de compreender o tempo. Se compreender o tempo, talvez então não haja um fim para o medo.


Krishnamurti
http://nossaluzinterior.blogspot.com
  

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