Pergunta:
Considera um pecado que um homem ou uma mulher se gozem de relações
sexuais ilegítimas? Um jovem quer livrar-se de tal felicidade ilegítima
que ele considera errada e tenta continuamente controlar a sua mente mas
não consegue. Poderia mostrar-lhe uma maneira prática de ser feliz?
Krishnamurti: Em coisas assim não há “maneiras práticas.” Mas consideremos a questão; tentemos compreendê-la, embora não do ponto de vista de um determinado ato ser pecado ou não ser pecado. Para mim não existe tal coisa como o pecado.
Porque é que o sexo se tornou um problema na
nossa vida? Porque há tantas distorções, perversões, inibições, repressões? Não
será porque estamos esfomeados mental e emocionalmente, porque estamos incompletos
em nós próprios, porque apenas nos tornamos máquinas imitativas e a única
expressão criativa deixada para nós, a única coisa na qual podemos encontrar
felicidade é a coisa a que chamamos sexo? Como indivíduos deixamos de o ser
mental e emocionalmente. Somos apenas máquinas na sociedade, na política, na
religião. Nós como indivíduos fomos absolutamente, implacavelmente destruídos
através do medo, através da imitação, através da autoridade. Não libertamos a
nossa inteligência criativa através de canais sociais, políticos e religiosos.
Por isso a única expressão criativa que nos foi deixada como indivíduos é o
sexo, e a isso atribuímos naturalmente uma tremenda importância, nisso
colocamos uma enorme ênfase. Eis porque o sexo se tornou um problema, não é?
Se puderem libertar o pensamento criativo, a
emoção criativa, então o sexo deixará de ser um problema. Para libertar
completamente, integralmente, essa inteligência criativa, têm que questionar o
próprio hábito do pensamento, têm de questionar a própria tradição em que
vivem, essas mesmas crenças que se tornaram automáticas, espontâneas,
instintivas. Através do questionamento entram em conflito, e esse conflito e a
sua compreensão despertarão a inteligência criativa; nesse questionamento
gradualmente libertarão o pensamento criativo da imitação, da autoridade, do
medo.
Esse é um lado da questão. Também há um outro
lado para esta questão, que diz respeito à comida e ao exercício, e ao amor ao
trabalho que fazem. Perderam o amor ao vosso trabalho. Tornaram-se empregados
de escritório, escravos de um sistema, trabalhando por quinze rúpias ou por dez
mil rúpias, não por amor ao que fazem.
Com respeito à relação sexual ilegítima,
consideremos primeiro o que querem dizer com casamento. Na maioria dos casos o
casamento é apenas a santificação da possessividade, pela religião e pela lei.
Suponham que amam uma mulher; querem viver com ela, possuí-la. Ora a sociedade
tem inúmeras leis que os ajudam a possuir, e várias cerimônias que santificam
essa possessividade. Um ato que teriam considerado pecaminoso antes do
casamento, consideram-no legal após essa cerimônia. Isto é, antes da lei
legalizar e da religião santificar a vossa possessividade, consideram o ato da
relação sexual ilegal, pecaminoso. Onde há amor, amor verdadeiro, não há
qualquer problema de pecado, de legalidade ou ilegalidade. Mas a menos que
realmente pensem profundamente sobre isto, a menos que façam um esforço real
para não interpretar mal o que eu disse, isso levá-lo-á a todas as espécies de confusão.
Temos medo de muitas coisas. Para mim a cessação dos problemas do sexo não
reside na mera legislação, mas em libertar essa inteligência criativa, em ser
completos na ação, não separando mente e coração. O problema só desaparece
vivendo completamente, integralmente.
Conforme
tenho tentado esclarecer, não podemos
cultivar o nacionalismo e ao mesmo tempo falar de fraternidade. Creio
que foi
Hitler quem baniu a ideia de fraternidade da Alemanha porque, disse ele,
era antagônica ao nacionalismo. Mas aqui estão vocês a tentar cultivar
ambos. No
íntimo são nacionalistas, possessivos; fazem distinção de classes, e
contudo
falam sobre a fraternidade universal, sobre a paz mundial, sobre a
unidade e a
unicidade da vida. Enquanto a vossa ação estiver dividida, enquanto não
houver
ligação íntima entre pensamento, sentimento e ação, e consciência plena
dessa
ligação íntima, haverá inúmeros problemas que tomam tal predominância
nas
vossas vidas que se tornam uma fonte constante de decadência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário