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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

P   E   C   A   D   O


Pergunta: Considera um pecado que um homem ou uma mulher se gozem de relações sexuais ilegítimas? Um jovem quer livrar-se de tal felicidade ilegítima que ele considera errada e tenta continuamente controlar a sua mente mas não consegue. Poderia mostrar-lhe uma maneira prática de ser feliz?

Krishnamurti: Em coisas assim não há “maneiras práticas.” Mas consideremos a questão; tentemos compreendê-la, embora não do ponto de vista de um determinado ato ser pecado ou não ser pecado. Para mim não existe tal coisa como o pecado.

Porque é que o sexo se tornou um problema na nossa vida? Porque há tantas distorções, perversões, inibições, repressões? Não será porque estamos esfomeados mental e emocionalmente, porque estamos incompletos em nós próprios, porque apenas nos tornamos máquinas imitativas e a única expressão criativa deixada para nós, a única coisa na qual podemos encontrar felicidade é a coisa a que chamamos sexo? Como indivíduos deixamos de o ser mental e emocionalmente. Somos apenas máquinas na sociedade, na política, na religião. Nós como indivíduos fomos absolutamente, implacavelmente destruídos através do medo, através da imitação, através da autoridade. Não libertamos a nossa inteligência criativa através de canais sociais, políticos e religiosos. Por isso a única expressão criativa que nos foi deixada como indivíduos é o sexo, e a isso atribuímos naturalmente uma tremenda importância, nisso colocamos uma enorme ênfase. Eis porque o sexo se tornou um problema, não é?

Se puderem libertar o pensamento criativo, a emoção criativa, então o sexo deixará de ser um problema. Para libertar completamente, integralmente, essa inteligência criativa, têm que questionar o próprio hábito do pensamento, têm de questionar a própria tradição em que vivem, essas mesmas crenças que se tornaram automáticas, espontâneas, instintivas. Através do questionamento entram em conflito, e esse conflito e a sua compreensão despertarão a inteligência criativa; nesse questionamento gradualmente libertarão o pensamento criativo da imitação, da autoridade, do medo.

Esse é um lado da questão. Também há um outro lado para esta questão, que diz respeito à comida e ao exercício, e ao amor ao trabalho que fazem. Perderam o amor ao vosso trabalho. Tornaram-se empregados de escritório, escravos de um sistema, trabalhando por quinze rúpias ou por dez mil rúpias, não por amor ao que fazem.

Com respeito à relação sexual ilegítima, consideremos primeiro o que querem dizer com casamento. Na maioria dos casos o casamento é apenas a santificação da possessividade, pela religião e pela lei. Suponham que amam uma mulher; querem viver com ela, possuí-la. Ora a sociedade tem inúmeras leis que os ajudam a possuir, e várias cerimônias que santificam essa possessividade. Um ato que teriam considerado pecaminoso antes do casamento, consideram-no legal após essa cerimônia. Isto é, antes da lei legalizar e da religião santificar a vossa possessividade, consideram o ato da relação sexual ilegal, pecaminoso. Onde há amor, amor verdadeiro, não há qualquer problema de pecado, de legalidade ou ilegalidade. Mas a menos que realmente pensem profundamente sobre isto, a menos que façam um esforço real para não interpretar mal o que eu disse, isso levá-lo-á a todas as espécies de confusão. Temos medo de muitas coisas. Para mim a cessação dos problemas do sexo não reside na mera legislação, mas em libertar essa inteligência criativa, em ser completos na ação, não separando mente e coração. O problema só desaparece vivendo completamente, integralmente.

Conforme tenho tentado esclarecer, não podemos cultivar o nacionalismo e ao mesmo tempo falar de fraternidade. Creio que foi Hitler quem baniu a ideia de fraternidade da Alemanha porque, disse ele, era antagônica ao nacionalismo. Mas aqui estão vocês a tentar cultivar ambos. No íntimo são nacionalistas, possessivos; fazem distinção de classes, e contudo falam sobre a fraternidade universal, sobre a paz mundial, sobre a unidade e a unicidade da vida. Enquanto a vossa ação estiver dividida, enquanto não houver ligação íntima entre pensamento, sentimento e ação, e consciência plena dessa ligação íntima, haverá inúmeros problemas que tomam tal predominância nas vossas vidas que se tornam uma fonte constante de decadência.


http://jiddu-krishnamurti.net

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