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sábado, 25 de agosto de 2018

"PAI, PERDOA-LHES PORQUE 
NÃO SABEM O QUE FAZEM" 

Quem sabe o mal que faz não pode ser perdoado.

Quem não sabe o mal que faz pode ser perdoado.

É tão estranha esta verdade que muitos não a aceitarão de boa mente.

Antes de tudo, como pode alguém pecar sem saber o que faz? Como é possível um pecado por ignorância? Não é a ignorância precisamente aquilo que nos excusa do pecado? Por que o animal não peca? Por ser ignorante. Por que a criança não peca? Porque ainda é ignorante.

Todo pecado supõe algo de ciência e consciência. Logo, não se trata de uma ignorância total e absoluta, mas duma semi-ignorância e semiconsciência, espécie de penumbra, e não de treva total.

Por outro lado, como pode alguém pecar quando sabe o que faz? Não exclui a sapiência a pecabilidade, que é insipiência?

Evidentemente, onde há um saber completo não pode mais haver pecado nem pecabilidade, porque esse saber é luz integral, incompatível com treva, e até com penumbra. A pecabilidade como já dissemos, só é possível na zona da penumbra do semi-ignorar e do semi-saber.

Ora, é nessa zona de 'penumbra' que há 'perdão'.

E o não perdão? Existe pecado imperdoável? Se existe, não pode existir na zona da ignorância integral, nem na zona da sapiência total - nem nas trevas da meia-noite do inconsciente nem na luz do meio-dia da plena consciência, porque em nenhuma dessas duas zonas pode haver pecado, e, portanto, nem pecado perdoável nem pecado imperdoável. Jesus, porém, afirma explicitamente a existência de pecado tanto perdoável como imperdoável. "Quem pecar contra o filho do homem será perdoado; mas quem pecar contra o espírito santo não será perdoado, nem neste nem no outro mundo, mas será réu do pecado eterno."

Segue-se que, dentro da zona de penumbra da semiconsciência pode ocorrer pecado perdoável e pecado imperdoável

É perdoável o pecador que peca contra Deus em forma humanizada, personalizada, como no caso de Jesus Cristo, porque essa individualização de Deus é tão imperfeita que dificilmente pode dar ao homem uma ideia adequada do que ele faz quando se opõe a Deus. Possivelmente, é este o caso de todos, ou de quase todos os pecadores humanos, no presente plano de evolução. Se os próprios crucificadores do Nazareno, as autoridades civis e religiosas, são perdoáveis por ignorantes, isto é, semi-¬ignorantes, dificilmente haverá pecadores humanos imperdoáveis, porque não suficientemente ignorantes. Parece que o "pecado contra o espírito santo" não é frequente na presente humanidade, que conhece a Deus apenas através de algum "filho do homem", de alguma encarnação ou individualização da Divindade Universal.

A plena sapiência espiritual, na zona supra-humana, torna impossível o pecado, porque essa sapiência é luz integral.

A plena insipiência material, na zona infra-humana, impossibilita o pecado, porque e treva total.

Somente a semi-sapiência, que é também semi-insipiência, é que torna possível o pecado, por ser um misto de luz e de treva, uma penumbra matutina ou vespertina, equidistante da treva total da meia-noite e da luz integral do meio-dia.

Essa penumbra, zona da pecabilidade, é o plano do intelecto, que é a serpente ou lúcifer. (o "porta-luz", mas não a "luz do mundo").

Nessa zona de penumbra da intelectualidade há numerosos graus e possibilidades várias.
 
O pecado é perdoável na zona inferior dessa penumbra, onde prevalecem as trevas sobre a luz; mas é imperdoável no plano superior da intelectualidade, onde a luz é notavelmente mais abundante do que as trevas, embora estas ainda continuem a existir. Se nessa zona não houvesse mais treva alguma, não seria possível o pecado.

Quer dizer que a gravidade do pecado é diretamente proporcional ao grau de luz intelectual que o pecador possua, e inversamente proporcional ao grau de trevas que nele dominarem. Com a intensificação do inteligir, cresce a gravidade do pecado, e com a sua diminuição ela decresce; porquanto "a quem muito foi dado muito lhe será exigido, e a quem pouco foi dado pouco lhe será exigido."

Quando a semi-luz intelectual se funde e integra na pleni-luz racional cessa todo o pecado, e, portanto, a perdoabilidade, porque nada há que perdoar. Mas, quando a semi-luz intelectual de lúcifer atinge elevado grau, e não se integra na luz racional do Cristo, então passa a perdoabilidade do pecado para a imperdoabilidade, porque, nessa elevada zona termina a ignorância necessária para poder haver perdão do pecado.

À primeira vista, parece estranho que uma creatura que aboliu grande parte da ignorância ainda possa pecar, e até entrar muna zona de pecado imperdoável. Mas esse "mistério de iniquidade” é possível, porque onde impera a liberdade há ilimitadas possibilidades de escolha. E, em face disto, parece justificada a filosofia de Schopenhauel, Nietzsche e dos outros pensadores “volicionistas", os quais, de encontro aos "intelectualistas", afirmam que a vontade domina o intelecto, e não vice-versa, como geralmente se admite. Pode uma vontade satanizada impedir que o intelecto, em elevado plano de intelectualização, se integre definitivamente na razão espiritual. E é precisamente aqui, no ápice do intelectualismo, que está a fatídica encruzilhada entre a vida eterna e a morte eterna, pois, que outra coisa seria um pecado imperdoável senão uma morte eterna? É possível que uma creatura de alta intelectualidade, sob o impacto da vontade livre, se recuse a aceitar a soberania da razão espiritual, procurando, por todos os modos, sobrepor-se a ela e proclamar a sua própria independência e autonomia individual anticósmica. Disse a Inteligência à Razão: "Prostra-te por terra e adora-me!”

Quando o lúcifer mental chega a essa altura de satanidade anticósmica, não volta mais atrás não mais se arrepende nem se converte; atingiu o mais alto ponto de "cristalização" ou "petrificação"; perdeu o último resto de elasticidade evolutiva que, no período da Ignorância, ainda lhe mantinha a porta aberta para a redentora integração na ordem cósmica do grande Todo. . . Agora essa fluidez acabou em rigidez, e com isto terminou a evolvibilidade desse ser. No zênite da sua evolução individual, não se integrou na Ordem Universal - que lhe resta ainda?

Evolução – impossível!
Integração? – possível, porém, recusada!
Involução? – é o único caminho que lhe resta.

Essa involução é um movimento descensional, que pode durar tanto quanto durou o movimento ascensional da evolução, milhares e milhões de anos, um "aion", uma "aeternitas", um vastíssimo ciclo evolutivo-involutivo.

Mas, todo movimento involutivo termina necessariamente no abismo do nada, isto é, na desintegração do indivíduo como indivíduo, na desindividuação ou, no dizer dos livros sacros, na "morte eterna", na "eterna perdição". O indivíduo que "morre", que se "perde" deixa de ser indivíduo, desindividua-se, desintegra-se porque não se integrou no grande Todo da única Realidade, sem a qual nenhum indivíduo pode conservar existência.

Não pode haver um eterno "negativo", uma evolução indefinida; a involução descensional acaba necessariamente no oposto ao Todo, que é o Nada, a extinção, o irreal, o não¬ existir.

Só pode haver um eterno "positivo", um Real, que é o Infinito, e um incessante realizar-¬se, que são os finitos em vias de crescente realização.

O não-existir individual (morte eterna) é um Ser Universal, mas esse Ser Universal não é o indivíduo, é o próprio Infinito, o Universal, o Eterno, o Todo, é Deus. O espírito de Deus não pode perecer, mas a sua forma individualizada no homem, ou em outro indivíduo, pode deixar de existir.

"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
A cruz do Calvário tornou-se cátedra de suprema sapiência - cátedra coberta da púrpura sanguínea do maior Mestre da humanidade.


Huberto Rolhden
http://alvoradarohden.blogspot.com

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