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terça-feira, 14 de agosto de 2018

A FELICIDADE QUE PROVÉM DA COMPREENSÃO DA VERDADE



Pergunta: Recomendais a meditação no sentido de chegar ao entendimento da verdade?

Krishnamurti: Nada recomendo. Todas as pessoas do mundo estão centradas no ego e, quando vos purificardes desse egocentrismo, estareis praticando a meditação. Quer o façais de uma maneira ou de outra, é coisa que não tem muitíssima importância. Se eu vos dissesse que recomendo a meditação, certamente perguntaríeis: “Dado existir boa meia dúzia de sistemas, qual devo escolher?”; e se para vós eu escolhesse um — o que não farei — ficaríeis presos em suas estreias limitações, em sua mesquinha tirania. Eu próprio, medito ao sair a passeio pelos bosques, palestrando com outrem, ou escutando música, dirigindo, cavando terra no jardim, ou lavando alimentos. Vós pensais que por vos retirardes para um pequeno aposento estais aptos a meditar. Pois é muito mais fácil meditar ao ar livre onde existe a vida, onde entrais em conflito com ela a todo o instante do dia. Não mediteis apenas durante meia hora; se fordes sábios, haveis de meditar durante o dia inteiro, enchendo-o de consideração e pensamento.


Pergunta: Se em vós reconhecermos o Instrutor do Mundo, reconhecendo, por assim dizer, vossa superior sabedoria, não deveríamos nos esforçar para praticar aquilo que ensinais mesmo antes de o entendermos plenamente? Se, por exemplo, dissésseis: “Pulai este poço”, não deveríamos faze-lo sem murmurar, pelo fato de acreditar em vossa superior sabedoria? Se ficásseis doente e chamásseis um médico ou cirurgião e ele vos prescrevesse certo curso de tratamento ou mesmo uma operação, não lhe obedeceríeis, sabendo que ele possui maior experiência do que vós? Se esperardes até compreende-lo, podereis morrer durante a espera.

Krishnamurti: Digo-vos que não podeis colocar em prática aquilo que não compreendeis. Este exemplo do médico não se adapta ao caso particular, em foco, pois que a doença da qual sofreis somente pode ser curada por vós mesmos. Vossa doença pode unicamente ser destruída em virtude da vossa própria luta contra ela. Nenhum cirurgião, nenhum médico vos pode servir de administrante durante esta luta, por superior, por cheio de sabedoria que ele seja.

“Se me dissésseis: “pulai para destro deste poço”, não o deveria eu fazer sem pestanejar, dado o fato de acreditar em vossa superior sabedoria?” Si isto fizésseis serieis bastante insensatos; e para vós próprios estaríeis criando uma nova barreira, se aceitásseis minha autoridade sem compreensão. A quem vos cumpre obedecer, a quem vos cumpre seguir senão a vós próprios?

Podem de lado, se me é permitido sugerir-vo-lo, a ideia de obedecer, a ideia de seguir sem compreensão. O que eu desejo é despertar em vós o descontentamento contra a vossa própria falta de entendimento. Se me seguísseis, faríeis de mim uma muleta, porém eu sou demasiado independente e livre para ser usado como muleta. Se não compreenderdes começareis a reduzir e a limitar a verdade e a ajuntar ao redor de vós aqueles que se acham também reduzindo, limitando, transformando a verdade, e portanto, destruindo-a.


Pergunta: Acreditais que qualquer passo no caminho da evolução, em qualquer estágio que seja, que venha a ser enunciado por outrem e não faça parte de vossa plena consciência, tenha valor, qualquer que seja, ou acreditais que possamos conhecer qualquer coisa em outra região superior do nosso ser da qual sejamos inconscientes neste mundo e que este conhecimento embora inconscientemente nos influencie?

Krishnamurti: Ao subirdes uma montanha, há muitos estágios, muitos abrigos, muitas cabanas no caminho, umas belas e complicadas, outras toscas e rudes, outras, cultas e refinadas. A algumas pessoas há de aprazer o demorarem-se em um abrigo, a outras, em outro. Eu, porém, somente me preocupo em atingir o cimo da montanha. Não digais: Então isto não tem valor, aquilo outro não tem valor, isto, aquilo não tem significação? Todos vós interpretais o que eu digo de conformidade com os vossos preconceitos. Uns, que acreditam em uma coisa, hão de dizer: Sim, ele admite o que eu mantenho ser a verdade. Outros que acreditam em coisas diferentes, hão de dizer: Ele não crê. Não, meus amigos, quer um quer outro, estarão errados. Assim como a montanha límpida e calma exposta ao ar da manhã não se preocupa com as sombras do vale, assim também a verdade está para além de todas as sombras. Vós contemplais o cimo da montanha através as nuvens de vossos preconceitos, através a vossa dependência de autoridades. Digo-vos que se quiserdes entender a verdade e atingir essa felicidade que provém da compreensão da verdade, que é preenchimento da vida, não vos deveis deixar colher pelas sombras que se estendem através a face da montanha.

 
Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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