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terça-feira, 21 de novembro de 2017

VOSSA BONDADE SUPERFICIAL
 NÃO TEM VALOR


Pergunta: Haveis dito que “ser”, não implica vir, como um exército sob uma direção qualquer, a um mundo de “caos”. Aplicar-se-á isto às situações práticas criadas pela vida diária? Por exemplo: o alivio de uma calamidade tal como o incêndio, a fome, etc., ou de abusos como a pena de morte, a escravidão, a tortura e o extermínio de animais selvagens por divertimento, por moda, etc.? Podem tais fatos ser dados como exemplo para indivíduos isolados cujas ações somente são percebidas por aqueles que imediatamente os rodeiam?

Krishnamurti: Certamente que não. Não me haveis compreendido se aplicais aquilo que eu digo em um sentido tão estreito, tão limitado. Por estardes incertos, duvidosos, por vos sentirdes torturados, tateando, por não conhecerdes o propósito da existência individual, apenas criais um caos maior. Muitas pessoas cheias de incerteza atuando em conjunto não podem criar por esse modo a certeza. Isto é o que todos vós estais fazendo. Se, porém, vierdes em grupo, como indivíduos inteligentes, entendendo plenamente o propósito da vida, então, mediante a vossa força integral — pelo fato de vos haverdes expurgado desses desejos decorrentes da moda, do acumulo de coisas, da cobiça, que são qualidades sub-humanas — quando aqui vos reunirdes atuareis com intenção pura. Isto não implica esperardes até haverdes chegado à meta. Não desentendais a ideia da vida. Não é o mesmo que chegar a uma estação, subitamente entrando nela. Chega-se à verdade pela continua seleção, pelo esforço contínuo, pelo contínuo ajuste, pela observação constante. Esta reunião podeis realiza-la em qualquer ocasião. Aqui vos reunis ano após ano. Por que não agis por maneira amistosa uns para com os outros, amistosamente, não no sentido da mera cordialidade, — que não é senão a polidez que a sociedade exige — e sim, na da amizade real, animada de descortino realmente impessoal? Porque todos vos encontrais torturados pela incerteza, todos vós duvidais e com toda a razão.

Para a extinção de incêndios é preciso que haja uma corporação de pessoas. Isto não exige certeza. Podeis destruir uma forma de crueldade, tal como a da aquisição de peles para a moda e assim por diante; se, porém, a crueldade existir em vosso coração, vós a apresentareis sob uma outra modalidade. Podeis ser muito bondosos para com os animais e desmedidamente maus para com o vosso próximo. É fácil ser bom para os animais; se os amardes eles correspondem ao vosso afeto. Porém um ser humano é entidade aparte: ele pode repelir o vosso amor, pode fazer coisas contrárias as vossas ideias, portanto, vós o conservais à distância. Conheço muitas pessoas que não podem suportar seres humanos, e porém, amam a Natureza, amam os animais. Fazem isto porque, naturalmente lhes é muito mais fácil.

Vossa bondade superficial não tem valor, se existir a crueldade em vossas mentes e corações, se houver cobiça de posses ou de distinções em espiritualidade. Todas essas coisas são ilusões vãs. Se realmente estiverdes vivendo de modo impessoal, sem estar condicionados por um objeto qualquer, conhecereis a verdadeira felicidade. Um tal homem será bondoso para com todos os seres, sem ter em vista se eles são seus vizinhos ou se são estrangeiros. Então cessará a guerra e cessará a explosão. Assim, pois a questão importante é esta: Haveis vós, como indivíduos, expulsado completamente a crueldade de vossos corações?


 
Krishnamurti, em Acampamento da estrela de Ommen, 1 de agosto de 1930
Fonte:pensarcompulsivo 
 

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