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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

DEUS É DEUS DOS VIVOS, E NÃO DOS MORTOS, PORQUE PARA ELE 
TODOS SÃO VIVOS



Na memorável dissertação que Jesus teve com os saduceus, que negavam a ressurreição, profere ele palavras tão profundas que valem por uma inteira filosofia cósmica. Em primeiro lugar desmascara o erro dos seus tentadores, fazendo-os ver que, na futura “eternidade” (em grego: aion, ciclo de longa duração), não se casa nem se dá em casamento, porque os que forem achados dignos dessa futura “eternidade” são como os anjos de Deus nos céus, por serem filhos da ressurreição; quer dizer, revestidos de corpo imortal e incorruptível. E, por isso, não necessitam de casamento, porquanto já não há necessidade de procriação, fim biológico do casamento. 
 
Num mundo onde cessou a destruição do corpo pela morte não há razão para a construção de novos corpos, uma vez que a existência do corpo se acha definitivamente estabilizada e garantida pela incorruptibilidade. Só há necessidade de multiplicação quantitativa de corpos enquanto o corpo não houver atingido o seu estágio definitivo de perfeição qualitativa. Quanto menos perfeito ou espiritual é um corpo, tanto maior é nele o instinto sexual, que é a voz da mortalidade, a qual sabendo serem os corpos dos genitores mortais, procura criar outro corpo a fim de fugir à mortalidade. Onde não há imortalidade individual reina a tendência de criar mortalidade racial; a imortalidade da espécie ou raça tem de suprir a falta de imortalidade do indivíduo. Mas onde esta se tornou gloriosa realidade, cessa a tendência sexual da procriação de novos indivíduos. 
 
A grande vertical da imortalidade individual suplantou a extensa horizontal das individualidades mortais. Por isso, nos grandes gênios espirituais da história é mínimo ou nulo o instinto sexual; a horizontal da espécie foi absorvida pela vertical do indivíduo. A mística substituiu a erótica, nesses “eunucos do reino de Deus”. Certas igrejas, seitas ou grupos religiosos compreenderam essa verdade; mas, como os seus adeptos não haviam atingido a necessária maturidade espiritual para neutralizar a horizontal do sexo pela vertical do indivíduo, essas sociedades legislaram sobre o assunto, criando artificialmente a “lei do celibato”, imposta a indivíduos espiritualmente imaturos, dando ensejo a um doloroso dualismo de permanente hipocrisia: devem fazer o que fazer não podem. Quer dizer que nascimento e morte não fazem parte da natureza humana quando ela atingir a sua perfeição suprema, mas são funções temporárias do corpo humano em estado primitivo, material. 
 
Quem é “filho da ressurreição” é como os “anjos de Deus nos céus”, isto é, realizou a transformação do seu corpo material, corruptível, num corpo imaterial, incorruptível. A “ressurreição”não é a revivência do corpo material, mas é a potencialização dinâmica do corpo material num corpo espiritual, como é o das inteligências sobre-humanas que comumente chamamos “anjos”, isto é, “emissários”. A palavra grega “ángelos”, em latim “angelus” (anjo), quer dizer literalmente “emissário”,“arauto”,“mensageiro”, designando entidades conscientes e livres revestidas de corpo imaterial e invisível. 
 
Quando um ser desses de alta hierarquia cósmica se opõe a Deus chama-se “satã”, palavra hebraica para “adversário”, em grego “diábolos”, que quer dizer “opositor”. Quando essa entidade superior harmoniza com o espírito de Deus e lhe transmite a vontade aos planos inferiores do cosmos, chama-se significativamente “mensageiro” ou “ángelos” (anjo). Tanto anjo como diabo são “lúcifer”, mas, enquanto aquele é um “lúcifer” harmonizado com Deus, este é hostil a Deus. A nossa teologia fala na imortalidade da alma, ao passo que os livros sacros consideram imortal o homem todo; verdade é que o grosso da humanidade não alcançou ainda a imortalidade corpórea atual, o que não obsta a que essa imortalidade do corpo exista, agora mesmo, em estado potencial. 
 
O corpo humano, potencialmente imortal, pode tornar-se atualmente imortal; essa transição da potência para o ato depende da maturação espiritual da alma.Toda alma que tenha atingido, digamos, 100% da consciência espiritual confere imortalidade atual a seu corpo. A alma imortal unida a um corpo imortal é o estado natural do homem completo, do homem cósmico ou crístico. O corpo espiritual é essencialmente idêntico ao corpo material; apenas o seu modo de ser é diferente. A identidade é perfeita. O homem não terá diversos corpos, sucessivos, mas um só corpo, com diversos graus de perfeição, consoante o grau de consciência da alma. O corpo é um “templo em que habita o espírito de Deus”, na expressão de Paulo; e nunca deixará de habitar nesse santuário. 
 
Quando os discípulos de Jesus, vendo o Mestre redivivo, cuidaram ver um fantasma, apressou-se ele a provar-lhes a perfeita identidade do corpo do ressuscitado com o corpo do crucificado, mostrando-lhes os sinais dos cravos e da lança. Ora, o que aconteceu com o corpo de Jesus acontecerá com os corpos de todos os homens quando estes tiverem alcançado suficiente grau de cristificação. Elias e Moisés, consoante as Escrituras, não passaram pela morte física, mas transformaram os seus corpos materiais em corpos imateriais, desaparecendo assim dos olhos que apenas percebem objetos materiais.
 
Quando a matéria se desmaterializa, passa, primeiramente, pelo estado de energia luminosa, ainda focalizada e, por isso, visível; depois, essa mesma energia luminosa se torna invisível, porque desfocalizada. Refere o texto que o profeta Elias ascendeu às alturas arrebatado num “carro de fogo”; quer dizer que o seu corpo desmaterializado pela força da alma foi visto como uma nuvem, luminosa, passando depois ao estado da luz cósmica, invisível. De Moisés refere o texto que foi levado por Deus às alturas do monte Nebo e ali desapareceu misteriosamente, sem que jamais fosse encontrado vestígio do corpo dele. Houve, pois, uma desmaterialização instantânea do corpo de Moisés, de maneira que nem o estágio intermediário da energia luminosa foi verificado. Durante a transfiguração de Jesus, reaparecem, visibilizados, os corpos imateriais de Elias e Moisés, ao lado do corpo de Jesus, também em estado de energia luminosa. 
 
Jesus, desde o início, possuía o poder de desmaterializar e rematerializar o seu corpo, como mostrou diversas vezes durante a sua vida mortal; afirma categoricamente: “Ninguém me tira a vida; eu deponho a minha vida (física) e retomo a minha vida quando quero; porque este poder me foi dado pelo meu Pai”. O que ele chama o “Pai” é o elemento divino dele: “O Pai está em mim e eu estou no Pai”. Há, sobretudo na Índia, diversos casos em que homens de alta espiritualidade transformaram seus corpos materiais em corpos imateriais, desaparecendo da zona do visível sem terem morrido, e reaparecendo periodicamente, durante séculos. 
 
A ressurreição ou transformação do corpo é um ato do “poder de Deus”. Esse poder de Deus está dentro de cada homem em forma de sua alma, o “espírito de Deus que nele habita”, o nosso “Cristo interno”. Mas só quando a alma, superando o testemunho dos sentidos e da mente, alcançar plena consciência da sua essencial identidade com Deus, e viver essa sua divina identidade pelo amor universal, é que ela conquista o “poder de se tornar filho de Deus”, e esse poder divino, saturando todas as células do corpo, confere incorruptibilidade à matéria corruptível. “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para ele todos são vivos”... 
 
 

Huberto rohden, Assim Dizia o Mestre
 
Fonte: texto extraído do Slide Share
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