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terça-feira, 14 de novembro de 2017

O SIGNIFICADO DA FELICIDADE

 

 
Encarada de forma tão confusa e aparentemente misteriosa, a questão da felicidade está longe da simplicidade. É extremamente complexa porque, de fato, é incrivelmente simples; sua solução está tão próxima de nós e é tão óbvia, que nós temos a maior dificuldade em vê-la; devemos complicá-la a fim de focalizá-la e sermos capazes de discuti-la. Isso pode parecer um terrível paradoxo, mas diz-se que um paradoxo é apenas uma verdade de ponta-cabeça para chamar atenção. Pois há certas verdades que têm de estar de ponta-cabeça para que possam ser notadas; geralmente elas são tão simples, que deixamos de percebê-las. Nossas próprias faces são um exemplo disso. 
 
Nada poderia ser mais óbvio e auto-evidente do que a própria face do homem, mas muito estranhamente ele não pode vê-la de forma alguma, ao menos que ele introduza o artifício de um espelho que lhe apresenta a imagem invertida. A imagem que ele vê é a sua face, todavia, não é sua face; e isso é em parte um paradoxo. E eis aqui a razão de toda a nossa incerteza e ambiguidade a respeito das coisas do espírito, porque, se nossos olhos não podem se ver, tanto menos aquilo que se vê através dos olhos poderá ver a si mesmo.
 
Então, nós temos que encontrar algum modo de superar a dificuldade, algum meio de compreender a coisa mais óbvia do mundo, uma coisa que é geralmente negligenciada, porque nossos pensamentos e sentimentos estão sendo conduzidos por canais muito mais complicados. Para vê-la eles têm que se rebaixar a um nível de humildade, não temeroso e prostrado, senão com a mais direta e infantil abertura de espírito – “pois Ele depôs o poderoso de seu trono e exaltou o humilde e o sereno”. Não é de surpreender portanto, que essas mais profundas verdades do espírito frequentemente passem despercebidas por pessoas da mais brilhante e penetrante inteligência.
 
Isso não quer dizer, contudo, que serão mais facilmente entendidas, pela mera falta de intelecto. Tal introspecção não vem nem com o esplendor, nem com o embotamento da mente visto que se um é iludido pelo seu próprio brilho, o outro simplesmente omite seu registro. Para compreender simplicidade tão extraordinária, DEVE-SE APENAS ABRIR OS OLHOS DO ESPÍRITO E VER; não há segredo nisso, porque ela está diante de nós, à luz do dia, tão grande como a vida. Nas palavras do sábio chinês Tao-wu, “se você a quer ver, olhe-a diretamente, mas se você tentar nela pensar, se desvanecerá”.
 
Portanto, quando se diz que aqueles que buscam a felicidade nunca a encontram, talvez seja mais adequado dizer que não há necessidade de procurá-la. Como nossos próprios olhos, ela está nos acompanhando o tempo todo; mas quando nos voltamos para tentar vê-la, nós nos iludimos.


 
Trecho do prefácio do livro O SIGNIFICADO DA FELICIDADE, de Alan W. Watts
 
Fonte:http://portunholselvagem.blogspot.com.br
 

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