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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

VIVER NO ETERNO


Pergunta: Qual o exato significado de “viver no eterno?” É isto passível de realização por parte de alguém que esteja vivendo uma vida em família, a qual vem a ser uma limitação ao mesmo tempo que um cativeiro? Se é possível dizei quais as características externamente aparentes numa pessoa assim, mediante as quais ela se faça notar em sua vida diária?

Krishnamurti: Quereis que eu produza um padrão. Não vos deixeis colher pela ilusão das palavras. Procurai averiguar a significação da ideia que está para além das palavras. A exata significação do viver no eterno não pode ser expressa em palavras. A verdade é um assunto puramente individual; não pode ser traduzido por mim ou por quem quer que seja. Precisais de entende-la em vossa própria uniquidade. Fiz uso desta frase a fim de exprimir o significado do viver no agora, no presente com o futuro à vista. A vida como tal, a vida vastíssima, essa não tem futuro. Porém, a vida individual, enclausurada, aprisionada, tem seu futuro na libertação, que é eterna, pois que então se achará unida com a vida que não tem limites. Se estiverdes vivendo nesse futuro pelo contínuo ajuste, por um processo constante de equilíbrio, estareis vivendo no eterno.

Que tem o casamento ou o não casamento que ver com isto? Fazeis do casamento um embaraço, em vez de um auxílio; tende-lo como um cativeiro. No fim de tudo ele é um processo de assimilação de experiência, não um cativeiro que vos force. Sei que, na maioria dos casos, ele vos aprisiona, porque não sabeis como utilizar, como assimilar a experiência dele. Vós o tendes com um cativeiro, como algo terrível, tirânico, não digno do homem, porque não vos apercebeis de que vossas esposas e filhos são companheiros vossos na assimilação das experiências em vista do processo de crescimento. Tratai a todos que vos rodeiam como amigos, por intermédio de quem e com quem cresceis. O casamento não é um cativeiro. Nada do que vos proporcione experiência, nada que vos amplie, que continuamente vos capacite a vos ajustardes a vós mesmos, que vos proporcione força, é cativeiro. Se, porém, meramente atuardes em face do medo da moral estabelecida, então se vos tornará em cativeiro.
 
Pergunta: Dissestes ontem que o casamento é apenas o desejo de escapar do isolamento. Parece ser isto uma concepção muito negativa das relações recíprocas que oferecem um campo rico de experiência, desde que se combine a união física com o mundo do amor. Não é, pois, tal relação recíproca de grande valor, mesmo para aqueles que buscam a libertação e não meramente a sensação ou um meio de fugir da solidão?

Krishnamurti: A qualidade do verdadeiro amor, do amor puro, não conhece distinções tais como as de esposa e esposo, filho, pai, mãe. Porém, geralmente, acontece quando vos casais, dais o vosso amor ao uno e negais aos muitos — no entanto podeis ser casados e ter a todo o mundo em vosso coração e mente, indistintamente. Um amor tal é eterno.

O casamento é cooperação para experiência mutua. Necessitamos de ter o casamento — não necessariamente o casamento em sua forma presente, — em a qual duas pessoas podem crescer mediante a experiência comum, de modo que esta conduza à verificação de que não existe a separação do verdadeiro amor. Este é, no fim de tudo, o resultado essencial da experiência: o reconhecer a realidade em todas as coisas, não em uma, porém em todas as pessoas, dedicar amor, não ao uno, porém aos muitos. Se o casamento conduzir a isto, então, será ele essencial para o homem. Se, porém, ele for meramente uma divisão, achar-se matizado pela tristeza. 
 
 
 

Jiddu Krishnamurti    
Fonte:pensarcompulsivo
 

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