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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

"ALEGRAI-VOS, PORQUE 
OS VOSSOS NOMES ESTÃO ESCRITOS
NO LIVRO DA VIDA ETERNA"
 
 
 
Certo dia regressaram os discípulos de Jesus de uma excursão apostólica e referiram ao Mestre, cheios de jubiloso entusiasmo, que os próprios demônios lhes estavam sujeitos. O Mestre, porém, replicou calmamente: “Não vos alegreis pelo fato de que os demônios vos estejam sujeitos: alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no livro da vida eterna.” Com outras palavras: o alvo principal do apostolado não está nos resultados visíveis da atividade externa, mas sim na invisível realidade da santidade interna. 
 
Ser é mais importante que fazer. Até os nossos dias são bem mais numerosos os homens que põem maior ênfase nas atividades externas do que na atitude interna; dificilmente compreendem que esta é mais importante do que aquelas. A atividade social não tem valor autônomo em si mesma se não brotar da atitude mística do homem. Pouco importa, afinal de contas, o que o homem faça ou diga – o que importa, e muitíssimo, é o que o homem é. Podem os trabalhos de Marta ser bons e louváveis em si mesmos, mas se não forem o natural eflúvio e a manifestação espontânea da atitude interna de Maria, são outros tantos zeros, pequenos e grandes, cuja soma ou produto será sem preigual a zero. Somente o fator espiritual, o grande “1” vertical, é que pode conferir valor e plenitude a essas vacuidades horizontais: 1.000.000. 
 
Há nas atividades externas, quando dissociadas da realidade interna, dois gravíssimos perigos:
 
1 – Essas atividades, facilmente, embalam seu autor numa falsa segurança, criando nele uma complacente autossuficiência em face dos resultados colhidos, impedindo-o de passar para além daquilo que já realizou, ou julga ter realizado. Essa suave auto-ilusão e complacente suficiência são o maior desastre espiritual para o homem externamente ativo e internamente passivo, porque o faz entrar numa zona de estagnação espiritual. Ai do homem plenamente satisfeito com seus trabalhos externos! O único fator que pode preludiar a sua redenção é uma profunda insatisfação consigo mesmo. Incomparavelmente mais importante que os mais gloriosos trabalhos no plano horizontal é a intensificação do ser vertical. Pouco vale o fazer, o dizer e o ter no mundo dos objetos quantitativos, se no mundo do sujeito qualitativo não existir um profundo ser. 
 
2 – O segundo perigo está em que esse homem exteriorizado julgue influir sobre seus semelhantes com o que faz e diz – quando é impossível promover a verdadeira conversão de outrem se eu mesmo não sou um genuíno e autêntico convertido, isto é, um homem intimamente unido a Deus. Só o meu ser é que pode influir sobre o ser de outros; mas, se o meu ser é fraco, não poderá dar força aos fracos. Só um poderoso positivo é que pode atuar sobre os negativos em derredor; se eu mesmo não for 100% positivo, por uma intensa e profunda experiência de Deus, não poderei exercer influência real sobre os outros, igualmente negativos. Podem os meus ouvintes ou leitores admirar-me, sim, e aplaudir-me; mas não se sentirão com forças para abandonar o mundo noturno das suas misérias morais e entrar no mundo diurno da virtude e santidade, porque não veem esse mundo concretizado em minha pessoa. E mesmo no caso favorável que julgassem esse mundo divino realizado em mim, não se converteriam realmente a Deus, pois não são as aparências que atuam, mas sim a realidade, realidade essa que, nesse caso, estaria ausente de mim.
 
Posso, sim, dizer mil vezes, com grande eloquência, que esse mundo do espírito é grandioso e belo, e os meus ouvintes ou leitores, na melhor das hipóteses, crerão nas minhas palavras – mas do crer ao ser vai distância enorme. Crer é uma teoria longínqua e vaga – ser é uma realidade propínqua e forte. É dificílima a transição do crer para o ser, e se ninguém vir esse ser concretizado numa pessoa humana, dificilmente passará a encarnar o seu longínquo crer num propínquo ser, isto é, não se converterá porque não me vê convertido. O convertido é aquele que pode, em verdade, dizer: “Eu e o Pai somos um”.“Já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim.” As minhas palavras de não-convertido eloquente, possivelmente, darão muita luz aos ouvintes ou leitores: mas falta força, que não vem das palavras, mas da realidade espiritual do indivíduo humano, no qual o “Verbo” se tenha feito carne e habite substancialmente, “cheio de graça e de verdade”. 
 
Pode ser que um determinado homem tenha a missão de pregar às multidões, escrever livros ou exercer outro trabalho social qualquer – e deve cumprir esta sua missão do melhor modo possível. Mas ai dele se vir nessas atividades a principal tarefa da sua vida! Há outra coisa, infinitamente mais importante, do que qualquer trabalho externo– é o próprio homem, a sua plena realização crística, para o qual aqueles trabalhos estão como meios para um fim. Atividades externas nunca devem ser outra coisa a não ser um como que transbordamento espontâneo de uma plenitude interior. Se essa plenitude não existe – que é que pode transbordar?  Alguma vacuidade camuflada em plenitude, isto é, uma grande mentira apresentada com sendo verdade?... Fogo pintado não dá luz nem calor – ao passo que a menor parcela de fogo real pode atear incêndios e iluminar mundos inteiros.
 
Pouco importa o que o que o homem diga, faça ou tenha – tudo importa o que ele é. O que ele é refere-se à qualidade do seu íntimo Eu – o que ele diz, faz ou tem refere-se às quantidades do seu externo ego. Referem os Atos dos Apóstolos que, quando os chefes espirituais da primitiva igreja cristã perceberam que se iam dispersando em atividades externas e trabalhos sociais de organização, disseram: “Não convém que nós sirvamos as mesas; vamos nomear auxiliares idôneos para essa tarefa; nós, porém, vamos nos dedicar à oração e à pregação da palavra do Senhor.” Sabiam esses discípulos do Cristo que o fator decisivo, em qualquer trabalho de caráter espiritual, é a espiritualidade de quem preside a esse trabalho, aquilo que ele é no seu íntimo ser, e não aquilo que ele realiza ou organiza no plano externo. 
 
A caridade social realiza grandes obras – mas só o Amor espiritual realiza o homem. Onde quer que exista um homem plenamente realizado pelo Amor, ali serão realizadas grandes coisas, e essas coisas serão fecundas e benéficas; mas onde não há realização pelo Amor, senão apenas caridade, ali se realizarão ruidosos trabalhos externos, que, por melhores em si mesmo, correrão perigo de colapso e desintegração, por falta de sacralidade interior. 
 
Pouco importa o que o homem realize no mundo externo dos objetos – tudo importa o que ele realiza em si mesmo. Uma única auto-realização supera todas as alo-realizações.“Se um único homem chegar à plenitude do Amor, neutralizará o ódio de milhões” (Mahatma Gandhi). Ainda que todos os demônios da Terra, todo o mundo material e astral, me estivessem sujeitos, mas se o meu nome não estivesse escrito no livro da vida eterna, não haveria redenção para mim.
 
 
Huberto Rohden, em Assim Dizia o Mestre
Fonte:https://pt.slideshare.net 
 
NOTA: trecho extraído do slideshare
 

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