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sábado, 4 de novembro de 2017

O QUE É MORTE ?




O que é morte?” Esta é uma pergunta para os jovens e para os idosos, assim, por favor, faça a pergunta a si mesmo. A morte é meramente o fim do organismo físico? É disso que temos medo? É o corpo que queremos que continue? Ou é alguma outra forma de continuidade que ansiamos? Todos nós percebemos que o corpo, a entidade física se deteriora pelo uso, pelas variadas pressões, influências, conflitos, impulsos, exigências, sofrimentos. Alguns provavelmente gostariam que o corpo pudesse continuar por 150 anos ou mais, e talvez os médicos e cientistas juntos finalmente encontrem um modo de prolongar a agonia em que a maioria de nós vive. Mas, mais cedo ou mais tarde o corpo morre, o organismo físico chega ao fim. Como qualquer máquina, ele finalmente se acaba. Para a maioria de nós, a morte é alguma coisa mais profunda do que o fim do corpo, e todas as religiões prometem algum tipo de vida depois da morte. Ansiamos por continuidade, queremos estar seguros de que alguma coisa continuará quando o corpo morrer. Esperamos que a psique, o “eu” – o “eu” que experimentou, lutou, adquiriu, aprendeu, sofreu, gozou; o “eu” que no ocidente chamamos de alma, e no oriente de outro nome – continuará. Então estamos mesmo preocupados com a continuidade, não com a morte. Não queremos saber o que a morte é; não queremos conhecer o extraordinário milagre, a beleza, a profundeza, a vastidão da morte. Não queremos investigar esta coisa que não conhecemos. Tudo que queremos é continuar. Nós dizemos, “Eu que vivi por quarenta, sessenta, oitenta anos; eu que tenho uma casa, uma família, filhos e netos; eu que fui ao escritório dia após dia durante muitos anos; eu que tive disputas, apetites sexuais – quero continuar vivendo”. É só nisso que estamos interessados. Sabemos que existe a morte, que o fim do corpo físico é inevitável, e então dizemos, “Tenho que estar certo da continuidade de mim mesmo depois da morte”. Então temos crenças, dogmas, ressurreição, reencarnação – milhares de maneiras de fugir da realidade da morte; e quando temos uma guerra, colocamos cruzes para os pobres companheiros que foram mortos. Este tipo de coisa vem acontecendo durante milênios. 

Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências!
Que significa isto — morrer? Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências! Deve significar que uma coisa chegou completamente a seu fim. O movimento que fora desencadeado — conflito, luta, confusão, desesperos e frustrações — cessou subitamente. A atividade do homem que quer tornar-se famoso, que é arrogante, violento, brutal — essa atividade é interrompida. Já notaram que tudo o que tem continuidade psicológica se torna mecânico, "repetitivo"? Só quando cessa a continuidade psicológica, surge alguma coisa totalmente nova; isso podem observar em si mesmos. Criação não é a continuidade do que É ou do que FOI, mas o findar dessa continuidade. 

Ora, pode-se morrer psicologicamente? Entendem essa pergunta? Podem morrer para o conhecido, morrer para o que FOI — não com o fim de se tronarem outra coisa — sendo esse morrer o fim do conhecido, a libertação do conhecido? Afinal de contas, a morte é isso.

O organismo físico, naturalmente, morrerá; dele se abusou, foi submetido a maltratos e frustrações; comeu e bebeu coisas de toda espécie. Vocês sabem de que maneira vivem, e pelo mesmo caminho continuam até ele (o organismo físico) perecer. O corpo, por motivo de acidente, de velhice, de doença, da tensão da constante batalha emocional, no interior e no exterior, se deforma, torna-se feio, e morre. Nesse morrer há autocompaixão, e ela existe também quando outra pessoa morre. Quando morre alguém que pensamos amar, não há em nossa tristeza uma grande porção de medo? Porque nos vemos sós, abertos a nós mesmos, sem ninguém para nos amparar, nos dar conforto. Nossa tristeza é toda mesclada dessa autocompaixão e desse medo e, naturalmente, nessa incerteza, aceitamos qualquer espécie de crença.

A Ásia inteira crê na reencarnação, no renascer em outra vida. Se indagamos o que é que vai renascer na próxima vida, nos deparamos com dificuldades. Que é que vai renascer? Sua pessoa? Que é você? — um monte de palavras, de opiniões, apegos as suas posses, aos seus móveis, seu condicionamento. Esse monte de coisas, que chamam de sua alma, vai renascer na próxima vida? Reencarnação implica que o que hoje são determina o que serão na próxima vida. Portanto, comportem-se bem! — não amanhã, mas hoje, porque pelo que hoje fazem irão pagar na próxima vida. Os que creem na reencarnação pouco se importam com o seu comportamento; trata-se de uma mera crença, sem nenhum valor. 

Reencarnem-se hoje, renovem-se hoje, e não na próxima vida! Mudem completamente ESTA VIDA, agora; mudem-na com uma grande paixão, façam a mente despojar-se de todas as coisas, de todos os condicionamentos, de todos os conhecimentos, de tudo o que pensar ser "correto"; esvaziem-na. Saberão então o que significa morrer; saberão então o que é o amor. Porque o amor não pertence ao passado, ao pensamento, à cultura; não é, tampouco, prazer. A mente que compreendeu o inteiro movimento do pensamento se torna sobremaneira quieta, absolutamente silenciosa. Esse silêncio é o começo do novo.


Krishnamurti — A questão do impossível 
Fonte:pensarcompulsivo

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