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quinta-feira, 25 de março de 2021

 SOBRE O JULGAMENTO

Um dos exercícios mais praticados pela humanidade é o julgamento.

Julgamos o outro, baseados em nosso código de valores, nossas percepções e naquilo que nossa imaginação cria a respeito de cada pessoa com a qual convivemos.

Ocorre que nem sempre esta avaliação se mostra correta e, por essa razão, ao julgar corremos o risco de cometer equívocos e praticar injustiças.

O pior que pode acontecer quando julgamos alguém é, sem dúvida, não levar em conta os sentimentos daquele que estamos criticando.

Por mais que não concordemos com as atitudes de uma pessoa, não podemos nos esquecer de que elas são motivadas, de um modo geral, pelas suas emoções e que agindo de modo rígido e inflexível também estamos nos deixando levar por nosso lado emocional.

Saber reconhecer quando estamos sendo influenciados por nossos conflitos internos no momento em que avaliamos as ações alheias, é o primeiro passo para que possamos abandonar a postura de juízes implacáveis e nos colocar no lugar de quem estamos julgando.

O sistema judiciário se baseia em leis pré-concebidas com o objetivo de garantir a convivência civilizada entre os seres humanos. Mas, fora desta esfera, nas atitudes cotidianas, nos arvoramos muitas vezes no papel de juízes implacáveis daqueles que não se enquadram em nossos hábitos e costumes.

Humildade, sabedoria e a capacidade de aceitar as diferenças de modo tolerante, constituem os melhores instrumentos para que escapemos da armadilha do julgamento.
 
Quando você diz que você se julga, isso é algo tomado emprestado. As pessoas julgaram-no, e você deve ter aceitado as idéias delas sem nenhuma investigação. Você está sofrendo de todas as espécies de julgamento das pessoas, e você está jogando esses julgamentos nas outras pessoas. E todo esse jogo desenvolveu-se além da proporção – a humanidade inteira está sofrendo disso.

Se você quiser livra-se disso, a primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: “É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.” O que há de errado nisso? – é humano.

Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá um clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.

Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez – quanta tranquilidade se sente! – e eles começam a aceitar os outros.

Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá – ela não tem fundamentos – e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo.

Neste exato momento, como você pode amar? Quando você vê tantos erros, tantas fraquezas… – como você pode amar? Você quer alguém perfeito. Ninguém é perfeito, assim, você tem de aceitar um estado de não-amor, ou aceitar que não importa se alguém não é perfeito. O amor pode ser compartilhado, compartilhado com todas as espécies de pessoas. Não faça exigências.

O julgamento é feio – ele fere as pessoas. Por um lado, você vai machucando, ferindo-as; e por outro lado, você quer o amor delas, seu respeito. Isso é impossível.

Ame-as, aceite-as e, talvez, seu amor e respeito possa ajudá-las a mudar muitas de suas fraquezas, muitas de suas falhas – porque o amor lhes dará uma nova energia, um novo significado, uma nova força. O amor lhes dará novas raízes para se erguerem contra os ventos fortes, um sol quente, a chuva forte.

Se apenas uma única pessoa o ama, isso o faz tão forte, que você nem pode imaginar. Mas, se ninguém o ama neste vasto mundo, você fica simplesmente isolado; então, você pensa que é livre, mas você está vivendo numa cela isolada em uma cadeia. É que a cela isolada é invisível; você a carrega consigo.

O coração abrirá por si mesmo. Não se preocupe com o coração. Faça o trabalho preparatório.

Osho em The Transmission of the Lamp
http://ventosdepaz.blogspot.com
 
 
Apenas simples consciência! Consciência de seus julgamentos, seus preconceitos, seus gostos e desgostos. Quando você vê alguma coisa, esse ver é o resultado de sua comparação, condenação, julgamento, avaliação, não é? Quando lê alguma coisa você está julgando, está criticando, condenando ou aprovando. Estar consciente é ver, no exato momento, a totalidade deste processo de julgar, avaliar, as conclusões, o conformismo, as aceitações, as negações. Agora, pode a pessoa estar consciente sem tudo isso? Presentemente tudo que conhecemos é um processo de avaliação, e essa avaliação é o resultado de nosso condicionamento, de nosso substrato, de nossas influências religiosas, morais, educacionais. Essa chamada consciência é resultado de nossa memória – memória como o “eu”, o holandês, o hindu, o budista, o católico, ou o que seja. É o “eu” – minhas memórias, minha família, minha propriedade, minhas qualidades – que está olhando, julgando, avaliando. Com isso estamos bastante familiarizados, se estamos de fato alertas. Agora, pode haver consciência sem tudo isso, sem o ego? É possível apenas olhar sem condenação, apenas observar o movimento da mente, da própria mente da pessoa, sem julgar, sem avaliar, sem dizer “Isto é bom” ou “Isto é mau”? A consciência que vem do ego, que é a consciência da avaliação e do julgamento, sempre cria dualidade, o conflito dos opostos – aquilo que é e aquilo que devia ser. Nessa consciência existe julgamento, existe medo, existe avaliação, condenação, identificação. Essa é a consciência do ego, do “eu” com todas as suas tradições, memórias e todo o resto. Tal consciência sempre cria conflito entre o observador e o observado, entre o que eu sou e o que eu devia ser. Agora, é possível estar cônscio sem este processo de condenação, julgamento, avaliação? É possível olhar para mim mesmo, quaisquer que sejam meus pensamentos, e não condenar, não julgar, não avaliar? Não sei se você alguma vez já tentou isto. É bastante trabalhoso – porque todo nosso treinamento desde a infância nos leva a condenar e aprovar. E no processo de condenação e aprovação há frustração, há medo, há dor corrosiva, angústia, que é o próprio processo do “eu”, do ego.

Ensinamentos de Krishnamurti
http://legacy.jkrishnamurti.org

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