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terça-feira, 9 de março de 2021

O MILAGRE DA ATENÇÃO

...Encontrar o observador em sua pureza é a maior conquista na espiritualidade, pois o observador em você é a sua própria alma, a sua imortalidade. Mas nunca, por um único momento, pense "Eu o peguei", pois esse é o momento em que você erra o alvo.

Observar é um processo eterno; você sempre vai se aprofundando, mas nunca chega ao fim, no qual possa dizer: "Eu o peguei". Na verdade, quanto mais fundo você for, mais fica consciente de que entrou num processo eterno, sem nenhum começo e nenhum fim.

Mas as pessoas estão observando somente os outros; elas nunca se importam em observar a si mesmas. Todo mundo está observando - este é o observar mais superficial - o que o outro está fazendo, o que o outro está vestindo, como ele aparenta.

...Todo mundo está observando; o observar não é algo novo a ser introduzido em sua vida. Ele apenas precisa ser aprofundado, tirar dos outros e direcionar aos seus próprios sentimentos interiores, pensamentos, estados de ânimo e, finalmente, ao próprio observador.

...Use essa energia da observação para uma transformação de seu ser. Isso pode trazer para você tanta bem-aventurança e tanta bênção que você nem mesmo pode sonhar a respeito. Um processo simples, mas uma vez que você comece a usá-lo em você mesmo, ele se torna uma meditação.

Pode-se fazer meditações a partir de qualquer coisa. Qualquer coisa que o leva a você mesmo é meditação. E é imensamente significativo encontrar sua própria meditação, pois nesse próprio encontrar você encontrará imensa alegria. E porque é o seu próprio encontrar, e não algum ritual imposto sobre você, você adorará entrar fundo nela.
 
Quanto mais fundo você entrar nela, mais feliz você se sentirá - tranquilo, mais silencioso, mais integrado, mais majestoso, mais gracioso.
 
Todos vocês conhecem o observar, então, não se trata de aprendê-lo; é apenas uma questão de mudar o objeto de observação; faça isso.

Observe o seu corpo e você ficará surpreso. Posso mover minha mão sem consciência e posso movê-la com consciência. Você não perceberá a diferença, mas eu posso sentir a diferença. Quando a movo com consciência, há uma graça e uma beleza nela, uma serenidade e um silêncio. Você pode caminhar estando atento a cada passo; isso lhe dará todo o benefício que o caminhar pode lhe dar como exercício, mais o benefício de uma meditação simples fantástica.

...Você não deveria deixar passar inconscientemente nem mesmo um único momento. A observação afiará a sua consciência. Essa é a religião essencial, e tudo o mais é apenas conversa.

...se você puder fazer somente a observação, nada mais é necessário. Meu esforço aqui é fazer a religião tão simples quanto possível. Todas as religiões fizeram justamente o oposto: elas fizeram as coisas muito complexas, tão complexas que as pessoas nem ao menos tentaram.


Osho - The Golden Future
http://conscienciaeusou.blogspot.com

 
CONSCIÊNCIA, ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO
 
A consciência não é um compromisso com qualquer coisa. A consciência é uma observação, quer exterior quer interior, em que a direção parou. Você tem consciência, mas a coisa de que tem consciência não está sendo encorajada nem alimentada. A consciência não é concentração em qualquer coisa. Não é um ato de vontade que escolhe que vai ter consciência, e analisa para obter certo resultado. Quando a consciência é deliberadamente focada num objeto em particular, como um conflito, esse é o ato da vontade que é concentração. Quando você se concentra, isto é, põe toda sua energia e pensamento dentro das suas fronteiras que escolheram, quer seja ler um livro ou olhar a sua raiva – então, nesta exclusão, a coisa sobre a qual você se concentra é reforçada, alimentada. Então aqui temos que perceber a natureza da consciência: Temos que entender do que estamos falando quando usamos a palavra consciência.

Existem os estados de desatenção e de atenção. Quando você estiver dando completamente a sua mente, seu coração, seus nervos, tudo o que tem para prestar atenção, então os velhos hábitos, as respostas mecânicas, não aparecem, o pensamento não se insere nisso. Mas não podemos manter isso todo o tempo, portanto estamos quase sempre num estado de desatenção, num estado em que não há uma consciência atenta sem escolha. O que acontece? Há desatenção e pouca atenção e estamos tentando fazer uma ponte entre uma e outra. Como pode a minha desatenção tornar-se atenção ou, pode a atenção ser completa, todo o tempo?

Você sabe o que é concentração - desde a infância nós somos treinados a concentrar-nos. Concentração é reduzir toda nossa energia a um determinado ponto e segurá-la neste ponto. Um garoto na escola olha pela janela para os pássaros e as árvores, para o movimento das folhas ou para um esquilo subindo na árvore. E o professor diz: "Você não está prestando atenção, concentre-se no livro", ou "Escute o que eu estou dizendo". Isso é para dar muito mais importância à concentração do que à atenção. Se eu fosse o professor, eu o ajudaria a observar; eu o ajudaria a observar este esquilo por completo; observar o movimento do rabo, como suas garras se movem, tudo. Então, se ele aprende a observar com atenção, ele prestará atenção ao livro.

Atenção não é concentração. Quando você se concentra, como a maioria das pessoas tenta fazer - o que acontece quando você está se concentrando? Você está se isolando, resistindo, afastando todo pensamento, exceto aquele determinado pensamento, aquela determinada ação. Assim, sua concentração gera resistência, e, portanto a concentração não traz liberdade. Por favor, isto é muito simples se você observar a si mesmo. Mas desde que você esteja atento, atento a tudo o que está acontecendo com você, atento à sujeira, à imundície da rua, atento ao ônibus que está sujo, atento a suas palavras, seus gestos, à maneira como você fala com seu chefe, à maneira como você fala com seus funcionários, seu superior, seu subalterno, o respeito, a insensibilidade com aqueles que estão abaixo de você, as palavras, as ideias - se você estiver atento a tudo isso, não corrigindo, então nessa atenção você pode conhecer um tipo diferente de concentração. Você estará então cônscio da paisagem, do barulho das pessoas, pessoas conversando ali no telhado, você tentando abafa-las, pedindo a elas para não falarem, virando sua cabeça; você estará cônscio das diversas cores, as roupas e mesmo assim a concentração continua. Esse tipo de concentração não é exclusivo, nela não há esforço. Ao passo que a mera concentração exige esforço.

Há uma diferença entre concentração e atenção. Concentração é trazer toda sua energia para focá-la em um ponto determinado. Na atenção não existe um ponto de foco. Nós estamos familiarizados com um e não com o outro. Quando você presta atenção ao seu corpo, o corpo torna-se quieto, o qual tem sua própria disciplina. Ele está relaxado, mas não indolente e tem a energia da harmonia. Quando existe atenção, não há contradição e, portanto não há conflito. Quando você ler isto, preste atenção à maneira que você está sentado, à maneira que você está escutando, como você está recebendo o que a carta está dizendo a você, como você está reagindo ao que está sendo dito e porque você está achando difícil prestar atenção. Você não está aprendendo como prestar atenção. Se você estiver aprendendo o como prestar atenção, então isto se tornará um sistema, que é o que o cérebro está acostumado, e então você faz da atenção algo mecânico e repetitivo, ao passo que a atenção não é mecânica ou repetitiva. É a maneira de olhar para sua vida inteira sem o centro do interesse próprio.

Como se pode estar livre das imagens que se tem? Primeiramente, eu preciso descobrir como estas imagens surgem, qual é o mecanismo que as cria. Você pode notar que no momento do relacionamento efetivo, isto é, quando você está falando, quando há argumentos, quando há insultos e brutalidade, se você não estiver completamente atento nesse momento, então o mecanismo de formação de uma imagem inicia. Isto é, quando a mente não está completamente atenta no momento da ação, então o mecanismo de formação de imagens é colocado em movimento. Quando você diz algo para mim que eu não gosto - ou que eu gosto - se nesse momento eu não estiver completamente atento, então o mecanismo inicia. Se eu estiver atento, ciente, então não haverá formação de imagens.

Atenção é este ouvir e este ver, e esta atenção não tem limitação, resistência, então ela é ilimitada. Prestar atenção implica nesta vasta energia que não está fixada a um ponto. Nesta atenção não existe movimento repetitivo; não é mecânico. Não existe a questão de como manter esta atenção, e quando aprendeu-se a arte do ver e do ouvir, esta atenção pode focar-se em uma página, uma palavra. Nisto não há resistência, que é a atividade da concentração. A inatenção não pode ser aprimorada em atenção. Estar ciente da inatenção é o fim dela: não que ela se torne atenta. O fim não tem continuidade. O passado modificando a si próprio é o futuro - uma continuidade do que tem sido - e nós encontramos segurança na continuidade, não no fim. Assim a atenção não tem a qualidade de continuidade. Tudo que continua é mecânico. O vir-a-ser é mecânico e implica em tempo. A atenção não tem a qualidade de tempo. Tudo isso é uma questão tremendamente complicada. É preciso adentrá-la delicadamente, profundamente.

A atenção envolve o ver e o ouvir. Nós não ouvimos somente com nossos ouvidos, mas nós também somos sensíveis aos tons, à voz, à sugestão das palavras, ouvir sem interferência, captar instantaneamente a profundeza de um som. O som tem um papel extraordinário em nossas vidas: o som do trovão, uma flauta tocando à distância, o som não ouvido do universo, o som do silêncio, o som do próprio coração batendo; o som de um pássaro e o barulho de um homem andando na calçada; a cachoeira. O universo está preenchido de som. O som tem seu próprio silêncio; todos os seres vivos estão envolvidos neste som do silêncio. Estar atento é ouvir este silêncio e mover-se com ele.

Fique simplesmente ciente; isto é tudo o que você tem de fazer, sem condenar, sem forçar, sem tentar mudar aquilo do qual você está ciente. Então você verá que é como a maré que está subindo. Você não pode evitar que a maré suba; construa um muro ou faça o que você quiser, ela virá com tremenda energia. Da mesma forma, se você estiver ciente sem escolha, o campo todo da consciência começa a manifestar-se. E enquanto ele for se revelando, você tem de seguir; e o ato de seguir torna-se extraordinariamente difícil - seguir no sentido de seguir o movimento de todo pensamento, de todo sentimento, de todo desejo secreto. Torna-se difícil no momento em que você resiste, no momento em que você diz "isso é feio", "isto é bom", "isso é ruim", "isto eu vou manter", "isso eu não vou manter."

Não pense em fazê-lo, mas realmente faça-o agora. Isto é, esteja ciente das árvores, da palmeira, do céu; ouça os corvos crocitarem; veja a luz sobre a folha, a cor do sari, o rosto; então volte-se para dentro. Você pode observar, você pode estar cônscio sem escolha das coisas externas. É muito fácil. Mas voltar-se para dentro e estar cônscio sem condenação, sem justificativa, sem comparação é mais difícil. Esteja simplesmente ciente do que está acontecendo dentro de você - suas crenças, seus medos, seus dogmas, suas esperanças, suas frustrações, suas ambições e todo o resto. Então a manifestação do consciente e do inconsciente começa. Você não precisa fazer nada.
 

Arquivo de Citações Diárias de Krishnamurti
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