"QUEM QUISER ENTENDER O OUTRO TEM QUE ENTRAR COM ELE NA VIA CONTEMPLATIVA"
Pingos de Luz deixados por Helder Câmara
Se me queres entender
Só há um remédio:
Entra em mim,
Sê um comigo,
No Cristo
Não pares
Em meu rosto de pecador
Em minha voz de pecador.
Descobre o rosto
Escuta a voz
Do Filho muito amado
Se quiseres apanhar
Para além do corpo
Flagrantes da alma,
Ainda ficarás
Muito na superfície.
Te chamarei fotógrafo
Se, para além do corpo e da alma,
Surpreenderes
Quem mora comigo
Que privilégio
Ter olhos na noite escura,
Ter ouvidos no silêncio imenso,
Para contemplar
O amadurecer das frutas
E a formação do perfume
No coração das flores!
Ir mais longe
Só se Deus permitir
Acompanhar
No interior do homem
O nascimento do amor
Deus põe música
Na alma de todos
E é traição ao Criador
Não a despertar
Dentro de nós.
Quando Te chamo
Descubro, feliz,
Que o meu brado
É eco de Tua voz
Pranto de pura felicidade
Porque existes
E és quem és
Já que estás em mim
No mais íntimo de mim mesmo,
Obriga-me a ser
Como me entreviste
Em teus planos divinos
Ao arrancar-me do nada
Podes rir,
Podes gargalhar.
Nem imaginas
Quem, dentro de mim,
Ultrapassa os limites,
Rompe as barreiras,
Atinge as dimensões de Deus
És Tu, meu Deus Uno e Trino,
Que amas teu universo
Através de minhas entranhas
Aqui estou,
Diante de Deus,
Dentro de Deus
O sofrimento autêntico
É sempre assim:
Tem alta e profunda origem...
Quando não nasce da beleza,
Nasce da verdade,
do bem,
do Um
Tanto rosto
E nenhum olhar.
Tantos lábios
E nenhum sorriso
Tanta aparente presença
Tanta ausência real
Há ruas intransitáveis
Em que ninguém se encontra,
Ninguém se vê,
Ninguém se ama.
E há ruas,
Humildes ruinhas (neologismo helderiano),
Gostosas toda vida,
Onde pode até sair briga,
Mas briga de faz-de-conta,
Pois todo mundo é irmão.
Quando encontro
Criaturas errantes
No país do ódio,
- cheias de travos,
De amargura,
Ou, o que é mais triste,
De gelo,
De frieza,
E indiferença –
Sinto uma vontade imensa
De levá-las nos braços
Ao condado do amor.
Por que me afligem tanto
Vidros embaciados?
Não deixam de ser
Imagem angustiante
Do pecado contra a luz
Se eu pudesse,
À noite
Nenhuma casa
Se fecharia de todo...
Casa nenhuma deixaria de ter
Uma luz amiga
Inspirando confiança à distância...
Quando os portões e as portas se fecham
E a luz se apaga,
De um certo modo
Cada família
Se tranca no seu egoísmo
A desproporção
Entre o imenso que sondas
E o quase-nada
Que logras realizar.
O desnível
Entre o que imaginas
E os frutos grotescos
Que dás à luz.
A incompreensão quase geral
E, em certos momentos, geral.
Os voos cegos
Com visibilidade zero
Sem bússola e sem radar.
A necessidade imperiosa
De ser otimista,
De fazer crer,
Esperar
E amar.
Eis, Pai,
O balanço
Das Vigílias sempre mais longas
E em que se acaba escutando
- com a alma, com os ouvidos? -
O grito constante
Que tanto conheces:
‘Meu Pai, meu Pai,
Por que me abandonaste?’
Que privilégio
Ter olhos na noite escura,
Ter ouvidos no silêncio imenso,
Para contemplar
O amadurecer das frutas
E a formação do perfume
No coração das flores!
Ir mais longe
Só se Deus permitir
Acompanhar
No interior do homem
O nascimento do amor
Os teólogos que me perdoem,
mas eu não posso imaginar um céu sem flores.,
O que fazer quando as flores murcham?
Uma roseira já me perguntou
se eu acredito que Deus ressuscitará também as flores.
Quem disse que a terra é morta
quando ela palpita de vida!?
Fosse morta e nela morreriam
as sementes de vida que lhe confiamos.
A terra não é uma coisa, um ser inerte.
Quando, um dia, nos planos divinos
nela repousarmos, aguardando o amanhecer,
entreguemo-nos tranquilos a ela,
como quem é recebido
entre braços fraternos.
Já não aguento, Pai,
ver tanta miséria,
ouvir tanto lamento.
Sabes
que comida
perde, dia a dia,
qualquer interesse
para quem carrega nos olhos
as imagens que eu carrego,
para quem guarda nos ouvidos
as vozes que registro para sempre?
Dom Helder Câmara
https://www.teologianordeste.net
Só há um remédio:
Entra em mim,
Sê um comigo,
No Cristo
Não pares
Em meu rosto de pecador
Em minha voz de pecador.
Descobre o rosto
Escuta a voz
Do Filho muito amado
Se quiseres apanhar
Para além do corpo
Flagrantes da alma,
Ainda ficarás
Muito na superfície.
Te chamarei fotógrafo
Se, para além do corpo e da alma,
Surpreenderes
Quem mora comigo
Que privilégio
Ter olhos na noite escura,
Ter ouvidos no silêncio imenso,
Para contemplar
O amadurecer das frutas
E a formação do perfume
No coração das flores!
Ir mais longe
Só se Deus permitir
Acompanhar
No interior do homem
O nascimento do amor
Deus põe música
Na alma de todos
E é traição ao Criador
Não a despertar
Dentro de nós.
Quando Te chamo
Descubro, feliz,
Que o meu brado
É eco de Tua voz
Pranto de pura felicidade
Porque existes
E és quem és
Já que estás em mim
No mais íntimo de mim mesmo,
Obriga-me a ser
Como me entreviste
Em teus planos divinos
Ao arrancar-me do nada
Podes rir,
Podes gargalhar.
Nem imaginas
Quem, dentro de mim,
Ultrapassa os limites,
Rompe as barreiras,
Atinge as dimensões de Deus
És Tu, meu Deus Uno e Trino,
Que amas teu universo
Através de minhas entranhas
Aqui estou,
Diante de Deus,
Dentro de Deus
O sofrimento autêntico
É sempre assim:
Tem alta e profunda origem...
Quando não nasce da beleza,
Nasce da verdade,
do bem,
do Um
Tanto rosto
E nenhum olhar.
Tantos lábios
E nenhum sorriso
Tanta aparente presença
Tanta ausência real
Há ruas intransitáveis
Em que ninguém se encontra,
Ninguém se vê,
Ninguém se ama.
E há ruas,
Humildes ruinhas (neologismo helderiano),
Gostosas toda vida,
Onde pode até sair briga,
Mas briga de faz-de-conta,
Pois todo mundo é irmão.
Quando encontro
Criaturas errantes
No país do ódio,
- cheias de travos,
De amargura,
Ou, o que é mais triste,
De gelo,
De frieza,
E indiferença –
Sinto uma vontade imensa
De levá-las nos braços
Ao condado do amor.
Por que me afligem tanto
Vidros embaciados?
Não deixam de ser
Imagem angustiante
Do pecado contra a luz
Se eu pudesse,
À noite
Nenhuma casa
Se fecharia de todo...
Casa nenhuma deixaria de ter
Uma luz amiga
Inspirando confiança à distância...
Quando os portões e as portas se fecham
E a luz se apaga,
De um certo modo
Cada família
Se tranca no seu egoísmo
A desproporção
Entre o imenso que sondas
E o quase-nada
Que logras realizar.
O desnível
Entre o que imaginas
E os frutos grotescos
Que dás à luz.
A incompreensão quase geral
E, em certos momentos, geral.
Os voos cegos
Com visibilidade zero
Sem bússola e sem radar.
A necessidade imperiosa
De ser otimista,
De fazer crer,
Esperar
E amar.
Eis, Pai,
O balanço
Das Vigílias sempre mais longas
E em que se acaba escutando
- com a alma, com os ouvidos? -
O grito constante
Que tanto conheces:
‘Meu Pai, meu Pai,
Por que me abandonaste?’
Que privilégio
Ter olhos na noite escura,
Ter ouvidos no silêncio imenso,
Para contemplar
O amadurecer das frutas
E a formação do perfume
No coração das flores!
Ir mais longe
Só se Deus permitir
Acompanhar
No interior do homem
O nascimento do amor
Os teólogos que me perdoem,
mas eu não posso imaginar um céu sem flores.,
O que fazer quando as flores murcham?
Uma roseira já me perguntou
se eu acredito que Deus ressuscitará também as flores.
Quem disse que a terra é morta
quando ela palpita de vida!?
Fosse morta e nela morreriam
as sementes de vida que lhe confiamos.
A terra não é uma coisa, um ser inerte.
Quando, um dia, nos planos divinos
nela repousarmos, aguardando o amanhecer,
entreguemo-nos tranquilos a ela,
como quem é recebido
entre braços fraternos.
Já não aguento, Pai,
ver tanta miséria,
ouvir tanto lamento.
Sabes
que comida
perde, dia a dia,
qualquer interesse
para quem carrega nos olhos
as imagens que eu carrego,
para quem guarda nos ouvidos
as vozes que registro para sempre?
Dom Helder Câmara
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